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Fraternidade 2019

16 de Abril de 2019, por João Bosco Teixeira

François Varone escreveu livro muito sério: Esse Deus que dizem amar o sofrimento. Numa de suas passagens, declara: “Jesus realiza perfeitamente a síntese profética que quer que a paixão por Deus seja inseparável da paixão pelo homem.”

Varone explicitou o que o evangelista João, escancaradamente, proclama: “Se alguém disser ‘Amo a Deus’, mas odeia o seu irmão, é um mentiroso, pois quem não ama seu irmão, a quem vê, a Deus, que não vê, não poderá amar.” (Jo 1,4-20)

Não há, definitivamente, cristianismo sem uma ação transformadora. Frequência aos sacramentos, santo sacrifício da Missa, sem preocupação com a melhoria de vida das pessoas, engano. Santa celebração da Semana Santa, sem modificação dos hábitos opressores, doce engano. Piedoso acompanhamento da procissão do Senhor Morto sem luta para que todos tenham vida e vida em plenitude, enorme engano. Cristianismo sem preocupação com Mariana, Brumadinho significa outras muitas barragens. Cristianismo com menores abandonados, sem escola; com o povo sem saúde, sem segurança, muito pobre cristianismo. Cuidado para com todos aqueles que não têm ‘com quem contar’, vigorosa expressão de cristianismo.

Outro dia sugeri a um dos sete párocos da cidade onde moro e que celebra diariamente a missa: padre, vamos deixar a missa hoje e vamos varrer a praça onde fica nossa igreja; está muito suja! Tive que sair quase correndo, para não ouvir uma espinafração. Eu sei que se pode fazer uma coisa, sem deixar de fazer a outra. Mas não temos feito ambas as coisas. Então, de vez em quando, poder-se-ia fazer uma que não é tão comum. Mas não se trata disso. Trata-se é de lembrar aos cristãos que a fidelidade aos sacramentos sem uma ação transformadora pode ser tudo, menos o que o cristianismo nos pede. Não é possível esquecer: “FAZEI isso quando vos lembrardes de mim.” FAZEI é o grande preceito. FAZEI é o critério de identificação com o seguimento de Jesus.  

Li uma coisa muito interessante: o grande e único pecado que se comete é o da omissão. Em primeiro lugar, omissão com relação à infinita bondade de Deus. Acreditamos pouco na misericórdia sem limites de Deus. Mas omissão também com aquilo de Jesus: Tive fome, tive sede, estava nu, sem abrigo, e... e.... e...

O cristianismo não é uma ideologia. É uma práxis. Ação. Sabe-se muito bem que o rito é parte essencial de nossas vidas. Em toda atividade, em toda manifestação de vida há rito. A vida, entretanto, não se exaure nos ritos. Neles, fica aprisionada. Neles, pode até ficar irreconhecível. O que dá sentido aos ritos é a vida, é a ação que eles simbolizam. Rito sem vida, é vida sem sentido. Vida que não produz vidas.

Quaresma celebrada em todas as manifestações penitenciais, oracionais, litúrgicas, paralitúrgicas sem transformação da vida pode ser Quaresma. Mas não será expressão de vida cristã. Cultural, talvez.

Quaresma: tempo da salvação.

Fraternidade: “Paixão por Deus inseparável da paixão pelo homem.”

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