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Castigar ou não castigar

16 de Fevereiro de 2018, por João Bosco Teixeira

Há assuntos que estão sempre em pauta. Nos últimos dias, voltou-se a falar sobre castigo, como componente do processo educativo. O assunto é complexo. Detenho-me, apenas, no aspecto relativo à educação dos filhos.

Não se deve, nem se pode, tratar do assunto “castigo”, isoladamente. Pois, embora o castigo apareça, de fato, no contexto educacional, esse não é um tema fundamental para a educação.

Fundamentais são outros temas. Primeiro deles: ter consciência de que, pais e filhos, estão no mesmo processo educativo, uns mais avançados, outros menos, mas todos num processo que só termina com a morte. Um segundo tema, a escolha dos valores que se deseja cultivar; valores que precisam ser identificados para, mais facilmente, serem perseguidos. Um terceiro tema: a certeza de que normas educativas valem para todos, pais e filhos: o “sim” e o “não” dados para os filhos, precisam ser também o “sim” e o “não” válidos para os pais: aquilo de que “não grite assim” precisa ser também para quem o diz; o “não faça isso” precisa ser também para quem diz que não se deve fazer; e aquele “sim, pode meu filho”, precisa ser querido pelos pais que o dizem, sem o dizer, apenas, para ficar livre de uma amolação.

Mais um tema capital: pais precisam ser congruentes: suas palavras devem traduzir seus sentimentos; portanto, longe dos pais dizerem coisas que não estejam sentindo, e os filhos percebem. Ainda outro tema essencial: pais precisam ter “convicção” sobre aquilo que exigem dos filhos: não cobrar deles atitudes que julgam desnecessárias, de cuja validade não estejam convencidos.

É à luz de todos esses aspectos que se deve considerar o castigar ou não.

Parto de um princípio fundamental, aprendido e vivenciado com o grande educador do século XIX, São João Bosco, que dedicou sua vida a adolescentes e jovens em situação de risco: “não se deem castigos”. A única punição que o santo admitia era “a retirada provisória do afeto”. O filho que é amado, sente-se castigado, quando é levado a lidar com a desaprovação afetiva dos pais.

 Castigo não educa ninguém. Castigo só satisfaz a quem o dá. O castigo pode até ensinar a obedecer. A obediência, entretanto, está longe de ser das virtudes mais importantes para a vida.

Não condeno quem dá castigo. Não. Pois há mil ocasiões em que, aqueles que castigam ficam sem alternativa. Os pais, muitas vezes, não têm tempo para os filhos. Se isso acontece, o castigo aparece. Mas é lastimável, porque tempo com os filhos significa estabelecer “relação”, e continuo acreditando que só a relação educa. Não condeno pais que castigam porque eles também são gente e, como tal, passíveis de cansaço que conduz à impaciência, que propicia o aparecimento do castigo. Não condeno os pais que castigam porque, nem sempre são obrigados a aguentar os erros, as atitudes indevidas, as desobediências dos filhos. Digo, porém, com todas as letras: só podem justificar os castigos dados aos filhos aqueles pais que não têm tempo para os filhos. Tempo físico e psicológico.

Ao castigar, os pais lucrariam muito se se perguntassem: o que é que eu quis com isso; por que foi que castiguei; o que é que eu estava sentindo?

Não há mérito em não castigar. Mas pode ser um erro fazê-lo.

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