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Diálogo Recorrente

11 de Outubro de 2017, por João Bosco Teixeira

Refaço aqui um diálogo muito recorrente em minha vida. Ele acontece, normalmente, em hora imprópria, com uma mãe.

 

Ela – Professor, o que é que eu faço com meus filhos.

Eu – O que está acontecendo com eles?

Ela – Eles não querem saber de ir à missa, de jeito nenhum.

Eu – Que idade eles têm?

Ela – O mais velho, nove; o caçula, sete.

Eu – Posso lhe responder com uma pergunta?

Ela – Pode, uai.

Eu – Que atrativo a missa tem para eles? Para qualquer um deles?

Ela – Uai, professor, mas a gente não vai à missa pelo atrativo não.

Eu – A senhora vai por quê?

Ela – Porque sou católica.

Eu – Isto é, a senhora vai porque a igreja manda?

Ela – E não é assim?

Eu – Não, acho que não. A senhora vai muitas vezes à missa, sem que a Igreja mande, não é? A senhora com certeza vai à missa de casamento, de sétimo dia, de bodas, não?

Ela – É.

Eu – Pois é: ir à missa para obedecer à igreja não é uma justificativa tão boa, tanto é verdade que a senhora vai também quando ela não manda.

Ela – Professor, mas os meninos têm que aprender, desde cedo a ir à missa.

Eu – E a senhora não conhece um punhado de gente que aos sete, aos nove anos ia à missa com frequência e não vai mais?

Ela – Conheço um tantão de gente assim.

Eu – Pois é. Não é importante aprender a ir à Missa desde pequeno. O importante é aprender, bem devagar, o que é a Missa e, quem sabe, descobrir na missa uma coisa muito boa e importante para nossas vidas.

Ela – Então, eu não devo obrigar meus filhos a ir à missa?

Eu – Seu marido vai?

Ela – Às vezes sim, às vezes, não.

Eu – Então: o que é que a senhora quer que eu lhe diga?

Ela – Não gostei da sua resposta. Fiquei mais confusa ainda.

Eu – Nem eu gostei da resposta que lhe dei. Esse assunto é para uma conversa mais demorada, não acha?

Ela – É. Está bem.

Eu – Uma coisa é certa: a senhora, seu marido, precisam entender e aceitar que, na idade de seus filhos, ir à missa não é a coisa mais importante da religião. Não fique triste não. Há muita coisa bonita e boa que seus filhos já podem fazer para serem ótimos católicos, mesmo sem ir à missa, por enquanto.

 

Não receio dizer:  se uma religião te obriga a fazer alguma coisa, cai fora, porque religião foi feita para libertar, não para escravizar. Sobretudo em se tratando de religião que tem Jesus por inspiração. É preciso não esquecer que Jesus é o grande libertador que queria libertar as pessoas de toda alienação. Inclusive da alienação religiosa.

Enquanto a gente é pequena, é normal que nos mandem fazer isso e aquilo. Mas, na idade adulta, isso é inadmissível. Em qualquer campo de atividade. Especialmente no campo religioso.

Pode-se indagar: há alguma religião que não imponha procedimentos, normas, leis aos seus seguidores? Não, não há. As religiões, instituições humanas, obedecem todas aos ditames do “poder” e querem todas sujeitar seus adeptos, de modo a tê-los sob controle para garantir-lhes prêmios “eternos”.  É imprescindível, entretanto, entender que, na idade adulta, ninguém está obrigado a seguir esta ou aquela religião. Mas, ao optar por uma, é normal ter que comprometer-se com certas exigências.

A uma escolha livre correspondem compromissos livres. Isso acontece em qualquer campo de atividade. Se você livremente quer ser rotariano, não pode dizer que é obrigado a participar das reuniões semanais. Se é um professor, tem que se adaptar às exigências da escola em que trabalha. Por isso é que se diz que a coisa mais importante na vida é dedicar-se às atividades de que se gosta, isto é, diante das quais se sente livre.

Pode-se, também, dizer: sou católico porque nasci numa família católica, fui batizado, crismado etc. Está bem. Mas, na idade adulta, você precisa tomar consciência desse fato e aceitá-lo ou não, querê-lo ou não. E se o quiser livremente, livremente estará aceitando aqueles princípios que o identificam com a religião católica. Você a aceita livremente? Livremente toma consciência de suas exigências. Vai à missa, não porque é católico, mas porque é livre de ser católico.

A religião não foi feita para obrigar. O que as religiões nos proporcionam são ocasiões para tentarmos vislumbrar uma experiência de eternidade, de transcendência. Acaso não é isso que sentimos ao dar de comer a quem tem fome, de beber a quem tem sede, ou ao visitar um doente? Acaso, não experimentamos, nesses momentos, algo diferente? Verificamos, com certeza, que nossas vidas têm sentido, pois saímos de nós mesmos para irmos ao encontro do outro necessitado.

A missa, onde se está em comunidade, deveria nos levar a encarar o “caminho” de Jesus, caminho de libertação: distribuindo o pão, lavando os pés, para a construção da paz, fruto da justiça.

Ir à missa porque a igreja manda é muito, muito pouco. Pode até ser uma alienação, que não convém ao cristão.

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