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Mar da Galileia

20 de Abril de 2022, por João Bosco Teixeira

Considero um privilégio ter viajado uma vez para a Terra Santa. Foi uma viagem de cunho espiritual, programada para se encerrar na Judeia, em Jerusalém. Teve início, porém, na Galileia, região em que a família de Jesus vivia.

Visitar os vários locais “sagrados”, por onde o andarilho Jesus perambulou, foi ocasião para muitas emoções. Acompanhava-nos nessa nossa andança uma judia argentina. Falava-nos, instruía-nos, ilustrava-nos sempre com muita sensatez, além de tomada por profundo respeito no que dizia. Fugia sempre das considerações de cunho político quando interrogada por nós sobre o assunto. Parece que se comportava assim de propósito, dado que não era esse o cunho de nossa viagem, nem ela queria distrair-nos de nossos propósitos.

Antes de entrarmos em Jerusalém, do alto de uma colina, vislumbramos a cidade, não a nossos pés, mas no alto de outra colina. Pois bem. Ali, com Jerusalém à nossa frente, proporcionou-nos a guia uma cena até então inusitada. Quis que brindássemos a vista daquela cidade instigante que, imaginava ela, para nós seria da máxima importância. Tomados de alegria pela vista de Jerusalém, fizemos o brinde com discreto vinho oferecido pelo serviço de acolhida aos turistas. Descendo, então, pelo Monte das Oliveiras, entramos na cidade em que tudo seria motivo de muito “espanto”. Espanto com o insistente sentido religioso que Jerusalém contém há séculos e séculos; espanto com a total secularização de lugares antes considerados “sagrados”; espanto com a riqueza política da cidade em que muitos são os senhores, que se recusam a entenderem-se. Tudo isso, entretanto, é conversa para muitos sábios. Quero voltar à Galileia.

Nessa região, refazendo muitos passos de Jesus, nossa guia argentina, muitas vezes, diante de um local histórico, dizia: “A gente diz que esta era sinagoga que Jesus frequentava; a gente diz que aqui aconteceu a Transfiguração; que aqui Jesus fez o sermão das Bem-aventuranças...” que aqui aconteceu isso e aquilo. Mas depois acrescentava: “Se Ele não esteve aqui, se o lugar não era exatamente este ou aquele, não tem importância. Nada disso é essencial.”

Chegou a hora, entretanto, de navegar pelo mar da Galileia, mar de Tiberíades. Adentramos o barco, que zarpou mar afora. Transcorridos uns minutos de navegação, já quase ao centro do lindo lago, nossa guia pediu ao timoneiro que desligasse os motores. Nosso barco parou. Fez-se enorme silêncio. Ela falou, então, pausada e acentuadamente comovida: “Ele esteve aqui...” Que emoção! Nossos olhares se trocaram. Algumas lágrimas escorreram. Ele esteve aqui. Seus amigos eram pescadores. Aqui se encontraram tantas vezes. Aqui ele buscou alimento. Tudo aqui o levou a mostrar-se gente como a gente.

Foi preciso aguardar um tempo para religar os motores, que já não quebrariam o silêncio interior de que fomos tomados. Pura beleza de vida! Emoções que o tempo não apaga. E a distância não empalidece.

Jerusalém, em momento algum, proporcionou-nos tamanha intensidade emotiva, pois em nenhum de seus sítios foi possível afirmar com convicção: Ele esteve aqui.

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