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Por que não se entendem?

13 de Marco de 2018, por João Bosco Teixeira

Como gestor público e como psicólogo ligado à dinâmica de grupo, sempre tive dificuldades em lidar com certos comportamentos. Refiro-me à resistência que as pessoas têm para se entenderem, quando há diversidade de opiniões.

O momento brasileiro anda suplicando por pessoas públicas que queiram se entender. Não há tantas. E nenhuma, sozinha, é capaz de superar os constrangimentos nacionais que vamos vivenciando. A situação suplica pelo entendimento entre as pessoas. Não há como esperar isso dos partidos políticos. Sem programas de governo, minimamente suficientes para colocar na linha tantos descaminhos a que se chegou, eles nem têm sobre o que conversar.

Nestes dias, li Cristóvão Buarque e Patrus. Duas mentes pensantes, inclusive criadoras de um partido que surgiu quase como salvador da Pátria, por seu combate a numerosos erros que, depois, veio a implementar, vergonhosamente.

Apesar da qualificação dos dois ilustres políticos, que distância permeia a visão política que possuem. Ou a visão que têm dos fatos. De Cristóvão, um dia ouvi frase terrível: “O PT, mais que a política, corrompeu a inteligência e o caráter”. Agora, em 9 de fevereiro, em O Tempo, ele lamentava: “A tragédia brasileira não é não poder contar com o imenso potencial do PT e de Lula... É eles terem abandonado propostas de economia eficiente, sociedade justa, civilização sustentável, política ética”. Pior: “O PT não entendeu a gravidade do momento: não reconheceu seus erros e não percebe que o mundo real aposentou a falsa verdade entranhada nas mentes de seus militantes...”

Patrus, de seu lado, no dia 10 passado, também em O Tempo, depois de declarar que “Estamos vivendo hoje um processo de desmonte de todas as conquistas e direitos sociais que tivemos”, proclama: Implantamos políticas públicas e sociais que mudaram o país”. Cristóvão não pensa assim: “O partido ficou 13 anos no poder, sem deixar qualquer reforma em marcha”. E refere-se a “falsas narrativas:” a “ascensão da classe média pela Bolsa Família”, o “salto científico pela Ciência sem Fronteiras”, a “revolução educacional pelas vagas na universidade”.

Lula é a maior liderança política do país,” diz Patrus. Mas, para Cristóvão: “A incapacidade para ver a realidade está impedindo o Brasil de beneficiar-se do que ainda sobrevive no PT”.

Dois ícones. Duas mentes ainda pensantes que, juntas, talvez pudessem retomar os primevos ideais do partido e, aliados a outros, projetar melhores dias políticos para o país. Não é a diversidade de opinião que separa esses dois grandes de nossa política. É a fixação de posição em questões que não podem estar eternamente estabelecidas. Comeram e beberam juntos. Por que não esquecerem o que comeram e beberam e, juntos, optarem por novas bebidas e comidas? Qualquer “partido”, colocado acima dos ideais, é e será sempre um empecilho ao desenvolvimento. É, e será sempre, uma forma subliminar de dominação e opressão.  É, e será sempre uma venda colocada nos olhos, com clara redução da visão da realidade. Exemplo disso é o que diz Patrus: “Quanto mais eles tentam condenar Lula, mais ele cresce”. Essa, uma face da verdade. A outra, é que cresce também a rejeição ao companheiro, pois de nordestino já não tem nada, e se encontra no alto da elite brasileira sulista, colhendo os frutos da força dada aos banqueiros. 

A venda nos olhos é terrível. Leva as pessoas a não perceberem que “O excesso de convicção não torna certo o que está errado.”

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