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Ressuscitou

17 de Abril de 2018, por João Bosco Teixeira

A quaresma e a celebração da paixão e morte de Jesus precedem o grande dia da Páscoa, da “passagem” de Jesus pela morte, da sua ressurreição. A relação entre a morte e a ressurreição é tão forte que uma não existe sem a outra. A ressurreição é a vitória sobre a morte. Dom absoluto de Deus, ela é a posse da vida sem tempo, tempo sem espaço, plenitude de vida, no infinito de um corpo transformado, transfigurado. A ressurreição implica um modo de existência já não mais físico ou material.

 Jesus ressuscitou. Isto é, saiu para a vida além dos sinais e mecanismos de humilhação exploradores do corpo. Nós também ressuscitaremos para a mesma vida além dos sinais e mecanismos de corrupção, empobrecedores do trabalho humano. Ressuscitaremos para uma vida digna, que vai além dos conflitos que estraçalham a dignidade das pessoas. Ressuscitaremos para uma vida que ultrapassa a morte.

Jesus morreu na cruz. A tradição cristã nunca conseguiu separar a morte de Jesus da cruz. Mais: a cruz tornou-se símbolo forte na vida dos cristãos a ponto de identificar um processo de vida e de morte. Parece que para morrer é necessária a cruz. Necessária, não. Presente, sim. Morreremos. E, quem sabe, através da cruz.

A cruz é símbolo admirável, belo no seu desenho, grandioso no seu significado: duas travessas, em perpendicular. Uma delas apontando para as alturas, para o infinito, para a transcendência. Outra, para a horizontalidade, para as relações igualitárias, para a comunidade. Uma não existe sem a outra. No desenho da cruz, não há verticalidade sem horizontalidade. No seu simbolismo, não há fé sem compromisso com os irmãos. Por isso é que não há vida sem cruz. E, mais, não há morte sem cruz. Cruz, no entanto, que desaparece nos seus dois vértices, nas suas duas dimensões, suas duas exigências, derrotadas pela ressurreição, que já nos coloca na posse da transcendência e na plena comunhão fraterna.

Nossa ressurreição, a exemplo da de Jesus, passa pela cruz. Cruz construída na solidariedade para com os outros, buscada com esforço diuturno. Cruz presente na vida de partilha e amor, sem fim nem fronteiras. Cruz, fruto da dedicação ao trabalho que produz vida, vida que vence a morte pela ressurreição. Cruz, resultado da incansável prática da justiça nas relações, justiça que mata a morte, justiça que anuncia a ressurreição. Cruz, enfim, produzida pela superação de qualquer tipo de morte, inclusive aquelas de todos os dias que insistem em nos prender aqui nesta terra. Cruz que é vida.

Jesus teve sua cruz. Sofreu a morte. Ressuscitou para garantir-nos que a vida venceu a morte.

A festa de páscoa não é de aniversário, celebração do passado, da vida vivida. É festa de anúncio do dia que vem vindo. Jesus teve sua “passagem” pela morte na noite imensa em que Deus se nos revelou como luz. A nós convém, portanto, abandonarmos o medo das cruzes e das trevas, produtoras de morte, e deixarmo-nos iluminar pelo Ressuscitado, que vive entre nós, porque superou a cruz e a morte.

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