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Do céu ao inferno

19 de Fevereiro de 2020, por Samira Silva

Cruzeiro e Flamengo são exemplos de clubes em realidades totalmente diferentes dentro do esporte. O que esperar nesta temporada de um time vencedor do Campeonato Brasileiro e da Libertadores e de outro com dívidas milionárias e recém-rebaixado? O time rubro-negro não vencia o Brasileirão desde 2009 e não conquistava a América desde 1981. O título de expressão mais recente na sala de troféus da Gávea era o da Copa do Brasil de 2013, conquistado com muita raça sobre o Athletico Paranaense de Paulo Baier. Após seis anos de jejum, já estava na hora de voltar ao triunfo. Mesmo com bastante dinheiro, planejamento e qualidade no elenco, a equipe continuou batendo na trave nas temporadas posteriores. O clube precisava de um mentor que fizesse a junção de todos esses fatores para voltar a levantar alguma taça.

A chegada de Jorge Jesus fez com que isso mudasse e a equipe, que já contava com jogadores consagrados, se desenvolveu e alcançou um outro patamar no futebol brasileiro. Jorge é conhecido por um esquema de jogo moderno e ousado, com muita posse de bola e pressão no adversário, mesmo quando não a tem. Um técnico estrangeiro fez com que o time apresentasse um futebol que não era visto nos campos brasileiros havia muito tempo. Era um futebol vistoso, em que todas as partidas davam gosto de assistir. Era uma equipe que sabia trabalhar a bola, tinha muita troca de passes e jogadas ensaiadas que quase sempre chegavam ao fundo da rede. O Flamengo realmente praticava futebol, não era um time que jogava recuado, mas sim uma equipe que ia pra cima mesmo quando a partida já estava decidida a seu favor. Demorou mais do que gostariam, mas os títulos vieram e nem o flamenguista mais otimista imaginaria que o seu time conquistaria dois títulos importantíssimos em apenas um fim de semana.

 Ao contrário do Flamengo, a equipe mineira conquistou bastantes títulos recentes, sendo eles o Brasileirão de 2013 e o de 2014, bem como as Copas do Brasil de 2017 e de 2018. Quatro títulos em 7 anos, uma média espetacular. Contudo, nada disso impediu o fiasco da temporada 2019, que resultou na queda inédita para a série B.

No início do ano passado, o Cruzeiro era um dos times mais citados para levar a maioria dos títulos devido ao elenco que tinha e ao retrospecto vitorioso dos anos anteriores. O futebol, entretanto, não é uma ciência exata e nada do que foi especulado aconteceu. A equipe até começou bem a temporada com o título do Campeonato Mineiro e com uma boa campanha na fase de grupos da Copa Libertadores, mas não conseguiu manter o momento. As polêmicas nos bastidores vinham em maior número que os gols e as vitórias em campo, o que afetou muito o clima de trabalho na Toca da Raposa. Como se não bastasse, o time estava sendo investigado pela Polícia Civil devido a transações irregulares e uso de empresas de fachada para encobrir crimes cometidos dentro do clube.

Depois da pausa para a Copa América, os times retornaram e o Cruzeiro já havia começado a desandar: foi eliminado da Copa do Brasil e da Libertadores. No Brasileirão, nunca saiu da segunda parte da tabela e lutou contra o rebaixamento até a última rodada do campeonato. O clube celeste foi finalmente rebaixado depois de perder em casa para o Palmeiras, com o placar de 0x2. Essa também foi a partida em que aconteceram cenas lamentáveis devido à revolta da torcida após a queda do time.

Podemos ver dois extremos analisando a temporada de 2019 de Flamengo e Cruzeiro. Enquanto o primeiro viveu uma de suas melhores fases desde os tempos de Zico, o outro tenta sobreviver frente a um tremendo pesadelo, passando por algo que jamais imaginaríamos para um dos gigantes do futebol brasileiro. Entretanto, ainda há algo que os une: em ambos os casos, a organização extracampo foi a peça-chave que ditou os rumos de glória ou de derrota. Em uma realidade em que o futebol se mostra cada vez mais como um negócio, a responsabilidade financeira dos clubes é quase tão importante quanto o peso da camisa e a paixão da torcida para escrever novas páginas em suas histórias.

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