Voltar a todos os posts

O campeonato estadual vivo no interior

19 de Maio de 2021, por Vanuza Resende

Chega ao fim mais uma temporada para os times do interior. O breve estadual menos conturbado que em 2020, mas ainda com resquícios de impedimentos da pandemia, encerrou sua primeira etapa. Em 2021, os moradores da região puderam aproveitar o gostinho de torcer por dois clubes. Tivemos muitos atleticanos, sendo athleticanos, mas o preto e branco costumeiro não espanta muito. Ah, mas o que teve de Cruzeirense procurando outro nome para torcer pelo Athletic. Não teve jeito: vestiram mesmo a camisa preta e branca, mas tudo tem limite. Não são athleticanos, são torcedores do Esquadrão de Aço.

Com a volta do Athletic Club, de São João del-Rei, para a elite do Mineiro, a atenção dos torcedores da região também foi voltada para os adversários considerados mais fracos. Afinal, é costumeiro ouvirmos ao longo da competição: O Galo joga contra quem, mesmo? O jogo do Cruzeiro é hoje ou amanhã? É nítido um desinteresse pelo estadual, sobretudo na primeira fase. Os resultados ganham holofotes quando se tem uma bonita goleada. E estou falando de mão cheia para cima. Ou quando dá zebra. Vixi, perder para time do interior, que disputa a D, é brincadeira... E de muito mau gosto! Será mesmo?

Eu estive do outro lado esse ano. Fiquei responsável por ser repórter de campo nos jogos do Athletic, pela Rádio Emboabas, e percebi um maior interesse pela competição. A audiência foi gigante, sobretudo em mais um ano com estádios com portões fechados. O discurso se inverteu. A preocupação era a seguinte: “O Cruzeiro jogando aquele futebol mais ou menos vai passar aperto com aqueles rapazinhos do Athletic”; “O meio de campo do Athletic é bom, hein!”; “Aquele goleiro cata muito”; “Perdeu, mas, apesar de ser atleticano, merecia pelo menos um empate”. Escutei essas e outras diversas versões dos mesmos dizeres.

O Athletic Club, assim como os outros times de cada canto do Estado, merece mais atenção. É inadmissível olhar a velocidade, o estilo de jogo, perceber a visão dos jogadores e não acreditar que terão chances em times que disputam campeonatos o ano todo.

Assistir Athletic x Cruzeiro foi um desafio. Enquanto o atacante Marcelo Moreno, do Cruzeiro, literalmente trombava com a bola, o Nathan, lateral do Athletic, se esforçava e dava o sangue para jogar nos gramados do Mineirão. Era nítido que aquele era o sonho de muitos que estavam ali: jogar uma partida oficial no maior estádio de Minas. Em um jogo em que a camisa e a experiência pesaram – sobrando para o Fábio cobrar a lateral – o futebol de muitos jogadores do Athletic se sobressaiu. Difícil contra-argumentar com os torcedores celestes que listam meia dúzia de jogadores e dizem: “Só estão ali porque têm empresários.”  

Jogar contra o Atlético era sem dúvida um dos maiores desafios. Ainda mais se tratando do Atlético de 2021. Com time alternativo, o Galo saiu vitorioso e mais uma vez a camisa pesou. Mesmo acostumado com o preto e branco, o time do interior se assustou ao jogar no Independência contra um adversário que já comemorou infinitas glórias ali. No segundo tempo, poderia ter saído a virada para esquentar ainda mais o discurso final do Hulk.

Com baixo investimento e os grandes desafios das longas viagens, os quatro clubes que se classificaram para o Troféu Inconfidência preferiram encerrar a temporada ainda mais cedo e o regulamento foi alterado: apenas um jogo e todas as decisões caíram na marca da cal. Injustiça? Pergunta que eu gostaria de responder em outra oportunidade. Mas já adianto que sempre fui fã das penalidades máximas.

 

Apito final. Corre nos bastidores toda a preparação para a temporada do próximo ano. Há quem diga que Carnaval e futebol se assemelham, mais um ponto de coincidência: assim que as luzes do sambódromo se apagam, as primeiras luzes para a próxima festa se acendem. E assim é com o futebol: mal acabou a temporada 2021, os desafios para a próximo já aparecem.

O Athletic precisa mesmo pensar nas luzes. Sem iluminação noturna no Joaquim Portugal, os jogos de América e Atlético foram transferidos para outros estádios, mesmo com mando de campo do Esquadrão. Para 2022, a expectativa é a volta do público aos estádios. E aí, meus amigos, o interior usará de toda a sua hospitalidade para dizer: “Estamos bem representados!”

Deixe um comentário

Faça o login e deixe seu comentário