Trilha sonora

Para curtir e conhecer melhor Elvis Presley

20 de Julho de 2021, por Renato Ruas Pinto 0

Para complementar a coluna do mês, a minha sugestão é uma sequência de vídeos muito legais disponíveis no YouTube. Em 1968, Elvis se encontrava há anos longe do palco, dedicando-se ao cinema. Um canal de televisão organizou um especial onde ele pôde mostrar que continuava afiado. Em outras palavras, foi uma espécie de retorno triunfal à música. A parte mais legal do show é quando ele faz uma roda de improviso com a banda que o acompanhava no começo da carreira. Este momento do show mostra a energia incrível do rock nos seus primórdios. Repare que Elvis entra no espírito do momento e custa a se segurar sentado.

https://youtube.com/playlist?list=PL7uMBlhHG8iEKzXhomLvJRBKTICWH_XCQ

Para quem quer ouvir as músicas mais emblemáticas de Elvis, a coletânea “Elvis 30 #1 Hits” (fácil de achar em qualquer plataforma de música), consegue cobrir toda sua carreira de forma muito didática. Diversão pura para animar o corpo e o espírito.

https://deezer.page.link/h98awP1SdXN4jQK17

Novas percepções sobre Elvis

17 de Julho de 2021, por Renato Ruas Pinto 0

Uma das coisas boas que os novos serviços de vídeo nos trouxeram foi o acesso a incontáveis documentários. E, dentro desse universo, há diversos documentários sobre música e que sempre trazem novidades. Em um dos últimos que assisti encontrei ótimas histórias, depoimentos e análises que me trouxeram mais luz sobre um dos maiores ídolos do rock, o inigualável Elvis Presley. O documentário “Elvis – o rei do rock” (tradução ruim do original “Elvis – the searcher”, que seria algo como “Elvis – o que buscava respostas” em uma tradução livre) está disponível na Netflix e conseguiu trazer informações interessantes e depoimentos de peso que ajudam a entender o impacto causado por Elvis e um pouco de sua personalidade.

O documentário é todo baseado em imagens do artista e os áudios dos depoimentos e trechos de entrevistas são colocados por cima das imagens. Um dos méritos é conseguir criar uma narração muito legal, mesmo com “retalhos” de vozes diversas, inclusive a do próprio Elvis. Entre os “narradores”, além de Elvis, há pessoas do seu círculo íntimo como sua esposa Priscilla, amigos próximos e o seu polêmico empresário, o “Coronel” Tom Parker. Há também boas intervenções de escritores, pesquisadores, instrumentistas que acompanharam Elvis e dos músicos Tom Petty e Bruce Springsteen. A história é contada em dois episódios de um pouco mais de uma hora e meia cada.

O filme segue a cronologia da vida do biografado. Já na sua infância, é ressaltada a sua atração não só pela música de um modo geral, mas também pela música negra. De acordo com o filme, ainda criança, Elvis entrava escondido nas igrejas de negros para acompanhar seus corais e conjuntos. Pode parecer algo trivial, mas é preciso entender o contexto. Elvis nasceu em uma pequena cidade no interior do Mississipi em 1935. Um estado racista onde não só os direitos eram negados aos negros, mas também em tempos em que a Ku Klux Klan os enforcava e queimava por conta da cor de sua pele. Mais tarde, adolescente, Elvis se muda para Memphis, um centro tradicional de música negra como o jazz e o blues. Colegas de escola apontam que o viam como um menino estranho por frequentar bares de negros para apreciar a música. Isto é essencial para entender a grande revolução que Elvis causou.

Elvis, ao tentar a sorte em uma audição no estúdio da Sun Records, do idealista Sam Phillips, começou mostrando um repertório tradicional de country, outra de suas influências, mas sem empolgar o dono do estúdio. Em uma pausa, Elvis começou um improviso com um clássico de blues, “That’s allright”, com uma batida um pouco diferente e na hora Sam Phillips viu que tinha algo diferente ali. Um artista com uma voz excelente, bonito e ainda por cima trazendo uma fusão de estilos que iria agradar todas as audiências jovens. Com o lançamento dos primeiros compactos, Elvis tem uma ascensão meteórica e toma conta de rádios e lota shows. E revela mais um talento como um verdadeiro dono do palco, que hipnotizava as plateias com sua voz e seu rebolado que chocavam os pais dos fãs. A Sun era uma gravadora pequena e não conseguia fazer uma promoção nacional dos discos. Após um ano, o empresário Tom Parker, que enxergou o potencial do artista, e a gravadora RCA Victor, compram o contrato de Elvis e ele rapidamente se torna um fenômeno nacional.

A partir daí o documentário mostra os diversos e tortuosos caminhos que Elvis seguiu em sua vida pessoal e artística. A convocação pelo exército no auge da fama, seguida de dois anos servindo na Alemanha, o retorno ao mundo da música e, depois, um período longo como ator de cinema e longe dos palcos. Elvis então retorna para a música e para seu habitat natural, o palco. Nos seus últimos anos, entra em um ritmo alucinante de shows, com mais de uma centena de apresentações de grande porte por ano. Para se aguentar de pé ou para conseguir dormir, se entupia de drogas lícitas e ilícitas. O preço maior foi cobrado e ele nos deixou com apenas quarenta e dois anos.

Foi uma vida breve, mas que deixou marcas na música e na sociedade. Elvis abriu não só o caminho para o rock, mas para aquilo que viria a ser chamado de música pop. Além da sua contribuição musical, também ajudou a estabelecer padrões que redefiniriam a juventude em vários aspectos, com impactos no comportamento e em hábitos de consumo. Enfim, Elvis é mais um artista com status de lenda e sobre o qual ainda se falará e se ouvirá muito.

Bob Dylan: uma playlist para conhecer o artista

17 de Junho de 2021, por Renato Ruas Pinto 0

Para complementar a última coluna “Trilha Sonora”, preparei uma playlist com clássicos do Bob Dylan. Para quem já é fã, é para se divertir. Para quem conhece pouco mais do que “Blowin’ in the wind” ou “Mr. tambourine man”, é a chance de sentir o peso das canções do bardo. Divirta-se.

b.link/playlist-bobdylan

Os oitenta anos do bardo

16 de Junho de 2021, por Renato Ruas Pinto 0

Em maio, uma das figuras mais influentes da música popular completou oitenta voltas ao redor do sol: o cantor e compositor Bob Dylan. Que o rock foi uma das maiores revoluções recentes na cultura e costumes ninguém contesta. E Bob Dylan tem, com todos os méritos, os créditos de uma parte importante nessa revolução. O rock nasceu como um estilo musical para consumo de jovens. Assim, era natural que, nos seus primórdios, o estilo falasse essencialmente de um universo adolescente: festas, carros esportivos, namoros e paixões de verão. Mas, com a chegada de Bob Dylan na cena, a coisa mudaria e o estilo entraria em sua fase adulta.

O próprio Bob Dylan foi atraído pelo rock quando adolescente. Porém, depois de começar a se dedicar seriamente à música com suas primeiras bandas, achou que o rock não tinha substância – como, de fato, não tinha – e virou-se para a música folk estadunidense, que bebia na tradição do folclore e do country, trazendo letras com conteúdo. Ao se mudar para Nova Iorque, logo se envolveu com a cena folk local e, após participar em discos de alguns artistas, conseguiu o contrato para o seu primeiro álbum, “Bob Dylan”, de 1962. A estreia, que continha principalmente músicas tradicionais folclóricas e apenas duas autorais, não teve grande repercussão.

O álbum seguinte, contudo, “The Freewheelin’ Bob Dylan”, tornou-se um marco. Com um repertório quase todo autoral, Dylan mostrou a força de suas letras em canções que se tornaram icônicas, como “Blowin’ in the wind”. Além disso, antenado com o seu tempo e com a luta pelos direitos civis dos negros, seu repertório foi automaticamente incluído entre as músicas cantadas em passeatas. Finalmente, em um 1963, quando os Beatles ainda cantavam canções inocentes, como “She loves you”, Bob Dylan já estava em outro patamar de complexidade de letras, como se pode ver em “A hard rain’s a- gonna fall”.

E o rock? Onde ele entra nessa história de músicas folk acompanhadas só de violão e instrumentos acústicos? Uma troca importante aconteceu em 1964, quando os Beatles, em turnê pelos EUA, conheceram Bob Dylan. O trabalho de Dylan inspirou os Beatles a fazer música mais séria e, ao mesmo tempo, o sucesso dos Beatles e suas guitarras teria feito Dylan buscar audiências mais amplas. Há quem diga que esse foi um dos encontros mais importantes do rock, mas isso é uma opinião e, como tal, pode ser debatida. O fato é que no ano seguinte Dylan usou instrumentos elétricos em um álbum pela primeira vez. E tomou uma sonora vaia quando subiu ao palco do tradicional festival de música folk, em Newport, com uma guitarra em vez do violão.

O rompimento de Dylan com a tradição do folk, além de representar a entrada do rock em sua fase adulta, como já citado, deu a pista do que viria a ser a carreira do artista. Dylan se tornaria um artista descolado de rótulos ou estilos. Em sua extensa discografia, ele passearia com desenvoltura pelo folk, rock, blues, country e até pela música gospel. Dono de uma obra extensa e recheada de grandes discos, Dylan se tornou objeto de uma idolatria incondicional por parte dos fãs. Curiosamente, essa paixão também fez movimentar, desde os tempos das fitas cassetes, um mercado de discos não oficiais de shows ou gravações não lançadas, as chamadas “bootleg”.

Dylan não só rompeu fronteiras dentro da música, mas também de outras artes e se aventurou como escritor e artista plástico. Finalmente, a força da sua escrita – em especial, de suas letras – foi coroada em 2016 com o prestigiado Prêmio Nobel de Literatura. Ainda que o prêmio reacenda uma polêmica antiga sobre classificar letras de música como poesia ou não, é um reconhecimento sem precedentes para um artista popular.

Bob Dylan, enfim, é um artista de primeira grandeza e um dos grandes nomes de nosso tempo. Mais do que a qualidade do seu trabalho, é preciso destacar a extensão de sua influência e o legado que construiu para as artes. Com violão ou com guitarra, não deixe de ouvir Dylan.

Precisamos de discos

14 de Abril de 2021, por Renato Ruas Pinto 0

Bem, ao menos eu preciso. Gosto de ouvir música e ter informações sobre o que está tocando e não abro mão de ter um encarte e poder admirar a capa. Alguém pode até argumentar que isso seria coisa de fanático e que um ouvinte casual só quer escutar música e pronto. E talvez seja verdade, visto que muita gente sempre ficou satisfeita de ouvir sua música favorita no rádio e depois migrou para os tocadores de mp3 e, recentemente, para o Spotify e outros serviços de streaming. Mas a minha preocupação é que se o formato do streaming não for revisto, pode contribuir para apagar parte de nossa memória cultural.

Por esses dias, eu comprei uma caixa de CDs da grande compositora e cantora Joyce Moreno, com quatro álbuns lançados por ela nos anos 80, remasterizados. Feliz com a aquisição, já estava preparando para tirar uma foto e compartilhar nas redes sociais, quando comecei a analisar o conteúdo com cuidado e as reflexões que se seguiram me levaram a escrever este texto. Nos CDs foi incluída uma reprodução dos encartes originais, além das letras e créditos aos músicos envolvidos. Não é uma edição de luxo, mas é um trabalho muito bem executado, promovido pelo selo “Discobertas”, do pesquisador Marcelo Froes, sobre o qual já escrevi nessa coluna.

E aí alguém pode me questionar: “Mas se não preciso do encarte, é só abrir no Spotify”. Pode tentar, caro leitor, mas já adianto que o sucesso será parcial. E é quando se percebe que essas plataformas precisam melhorar e muito. O problema começa na organização do acervo da Joyce. Parte dos seus discos está sob nome artístico “Joyce”, como ela começou a carreira, e outra como “Joyce Moreno”, que ela adotou após se casar com o baterista Tutty Moreno. Além disso, a caixa possui quatro CDs: “Feminina” (1980), “Água e Luz” (1981), “Tardes Cariocas” (1983) e “Saudades do Futuro” (1985). O terceiro simplesmente não está disponível no streaming. Finalmente, os dois primeiros aparecem com uma capa errada. Mais do que uma tremenda falta de respeito com a artista e seu trabalho, é uma parte da nossa rica música que vai sendo apagada e o acesso negado às futuras gerações.

Não me tomem como um saudosista que resiste às tecnologias. Gosto muito do streaming pela praticidade e pelo universo de possibilidades que ele me abre. Porém, a forma como essas plataformas operam precisa ser revista urgentemente. O primeiro grande problema é a remuneração pífia aos artistas, em especial os pequenos e independentes, que, ao fim de um ano, recolhem no máximo uns poucos reais e, mesmo assim, se conseguirem muitas execuções de suas músicas. Isso dificulta qualquer artista viver da sua arte e continuar produzindo material de qualidade. Com a pandemia, durante a qual os shows foram proibidos, o problema da remuneração ficou escancarado. Artistas são necessários e seu trabalho movimenta toda uma indústria. Ou o streaming se ajusta para pagar valores mais justos, ou estamos alimentando um modelo insustentável, em que só os artistas de grande repercussão poderão se sustentar. E não vamos depois reclamar que caiu o nível da música.

Além disso, a falta de informação sobre os álbuns e a desorganização dos catálogos só atrapalham e uma parte da história dos artistas e seus álbuns vão sumindo. Eu sempre preciso recorrer à internet e à Wikipedia para pesquisas sobre determinado artista ou grupo, até para saber coisas básicas, como qual álbum foi lançado primeiro, pois nem isso costuma aparecer corretamente no streaming.

Finalmente, quando faltam discos no catálogo, a possibilidade de ouvi-los vai se complicando, já que, por razões que desconheço, o CD está sumindo no Brasil. Enquanto esse formato segue firme em outros países, com várias lojas vendendo CDs novos, aqui até as grandes gravadoras estão deixando de lançar novidades. Considerando que o preço do vinil, mesmo o nacional, é alto, quando ficamos restritos aos CDs importados, o preço começa a ficar proibitivo.

Por isso tudo, eu acho que precisamos de discos. Curto e ouço muita coisa em streaming, mas, sem mudanças nas plataformas estamos perdendo oportunidades e apagando a nossa história recente. O que virá depois? É difícil prever. Mas algo precisa acontecer.