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Mais dicas de álbuns para passar a quarentena

27 de Julho de 2020, por Renato Ruas Pinto

Na minha última coluna mencionei como as transmissões ao vivo na internet, as lives, se tornaram o meio para assistirmos a um show ao vivo. De tantas rolando por aí, a piada é que você abre um armário em casa e cai uma live na cabeça. Vi várias bem legais e até algumas que surpreenderam positivamente, como a feita pelo Daniel e Roupa Nova, uma colaboração que para mim foi inesperada (não sabia que eles já trabalharam juntos várias vezes). Duas, porém, me chamaram muito a atenção, por terem sido capitaneadas por dois gigantes: a do Milton Nascimento e do Gilberto Gil.

Na ocasião, Gil comemorava 78 anos e o presente foi nosso: um show só de forró no qual ele ainda deu pequenas aulas sobre o estilo e seus artistas. Milton fez um show intimista em sua casa, acompanhado somente do competente violão de Wilson Lopes (seu diretor artístico) e do piano de Christiano Caldas. As vozes de ambos já não têm o mesmo vigor, mas os shows foram emocionantes e empolgantes. E ambos promoveram uma arrecadação para profissionais da música que, como citei na coluna, foram os primeiros afetados com o fechamento de teatros e espaços de shows. Pela relevância da obra de ambos e pela grandeza demonstrada em um momento difícil, as recomendações de discos são desses dois patrimônios da cultura e história brasileira. Boa audição.

Gilberto Gil – confira a live aqui: https://youtu.be/s6KB4dDmrcw

Quando se fala de artistas desse quilate, não dá para recomendar um disco só. Do Gil, recomendo três que vão encher seus ouvidos de coisas boas. Gil sempre foi um artista que transitou por vários estilos e influências. Além disso, sempre fez do palco seu “habitat”, mostrando sempre muita presença e empolgação. Para mostrar seu lado ao vivo, o Acústico (unplugged) MTV é excelente, pelo ótimo apanhado de músicas da sua carreira. De estúdio, um de seus (vários) clássicos é Refazenda, de 1975, um disco no qual o autor foi atrás de uma trilha de maior simplicidade após os anos de experimentalismo da Tropicália. E para fechar com alta energia e alegria, ouça Kaya N’Gan Daya, onde ele relê clássicos de Bob Marley.

Milton Nascimento – confira a live aqui: https://youtu.be/tQb7h-1Yp2U

Já que foram três para o Gil, vamos de três para o Milton, por justiça. Dois álbuns magistrais lançados em sequência e que se complementam não só no nome, mas em sonoridade, são Minas e Geraes. Ambos são praticamente uma extensão do clima e colaboração do clássico Clube da Esquina (ops: citei um quarto disco sem querer) e são uma pedida e tanto para mergulhar no trabalho de Milton e do Clube. Um disco importantíssimo de Milton é o Missa dos Quilombos. Obra engajada e corajosa, foi concebida por Dom Hélder Câmara e executada por Milton, o bispo Dom Pedro Casaldáliga e pelo poeta Pedro Tierra. Trata-se da escravidão e da exploração dos negros. Falar de desigualdade e de direitos humanos era algo perigoso em tempos de ditadura, mas os autores e outros colaboradores, como Fernando Brant, foram em frente e registraram shows históricos e uma gravação executada na igreja do Caraça.

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