Academia + comunidade local promovem o desenvolvimento da região


Artigo

Filomena Bomfim*0

Em 2009, surge no cenário comunicacional brasileiro o curso de Comunicação Social-Jornalismo, da UFSJ, a partir de esforços e iniciativa do professor/pesquisador Guilherme Jorge Resende. Com ênfase em jornalismo cultural, o curso apresenta em sua matriz curricular um elenco de disciplinas, que visa formar profissionais aptos a atuarem nas mais diversas conjunturas emanadas do cenário nacional contemporâneo.

Contudo, destaco duas disciplinas, em especial, que concorrem de forma decisiva e direta para o desenvolvimento regional: Educomunicação e Comunicação regional. Na verdade, o recrudescimento da crise sócio-política-econômica nacional tem me deixado ainda mais atenta para a relevância da contribuição desses tópicos na formação crítica dos jovens jornalistas. Minha preocupação é que, para além de currículos notáveis, esses elementos saiam para a vida (e não apenas para o mercado!) com a consciência de que não basta a denúncia da realidade a partir da produção de informação de qualidade. Parece-me ser necessário que os recém-formados também estejam prontos para suscitar um clima de reflexão que precede a mobilização das comunidades nas quais atuam ou vão atuar.

Trata-se de um ciclo - que antes de mais nada, precisa ser vivenciado pelo próprio estudante - em que se sucedem etapas de percepção da realidade, de aceitação do fato, de reflexão sobre o contexto, de tomada de decisão e de ação adequada ao tratamento do problema em foco.

Diante da necessidade de experimentação e amadurecimento desse itinerário formativo, as práticas extensionistas apresentam-se como lugar propício para que o referido processo aconteça. Por isso, o destaque concedido às duas disciplinas citadas que, pela própria natureza, constituem plataformas eminentemente extensionistas. Assim sendo, oferecem ao futuro profissional condição de antecipar, ainda dentro da universidade, experiências, vivências, trocas de ideias dentro e fora da Academia, propiciadas pelo contato com a cultura local, com aqueles que fazem a cultura, com as instâncias de aprendizagem do lugar: as escolas, os credos, as formas de entretenimento, os modelos de sobrevivência e geração de renda, bem como a valorização deles, entre outros tantos nichos de intercâmbio cultural.

Materializa-se assim a noção de comunidade de aprendizagem, já que, em todos esses ambientes, florescem oportunidades de ouvir, trocar, reconhecer os valores regionais, ou seja de aprender a pensar, de aprender a aprender e de aprender a fazer. Na verdade, recuperando respectivamente os estudiosos Pedro Demo, Paulo Freire e Célestin Freinet adentramos o campo da Educomunicação, que pretende oferecer condições para a expansão da capacidade crítica dos cidadãos para que se transformem em agentes de transformação da realidade.

Assim sendo, em atuação conjunta, Comunicação regional e Educomunicação fortalecem, aprofundam e consagram transdisciplinarmente as condições para que a Universidade e a comunidade local constituam um ecossistema comunicativo, em que vários campos do saber interagem mediados por um repertório simbólico de significativa riqueza cultural, a partir do qual processos de valorização da identidade das Vertentes tendem a se multiplicar pelas várias instâncias formativas da sociedade.

... E é o incremento da circulação desses valores entre a Academia e a comunidade regional que se torna o arcabouço em que se formam cidadãos conscientes da sua realidade, cuja ação engajada e comprometida com um modelo de desenvolvimento que só serve ao seu contexto imediato - porque não copia/repete padrões “estrangeiros” - constrói colaborativamente propostas fundamentadas em tudo aquilo que a sua terra tem de melhor, acervo esse organizado da maneira como esse povo costuma resolver seus problemas, segundo o estabelecimento de prioridades discutidas entre os líderes do lugar.

Em uma combinação transdisciplinar/subversiva e altamente revolucionária, Comunicação regional e Educomunicação deslocam o centro do saber, já que a Academia deixa de ser o lugar de fala ao perceber-se significativamente enriquecida pelo repertório da cultura das Vertentes, transformando-se em uma incubadora de projetos locais, possibilitados pela riqueza simbólica da localidade. Estimula-se assim um ambiente de trocas, em que os agentes em interação atuam em pé de igualdade, já que administram valores distintos, mas complementares, que organizados, colaborativamente, podem potencializar condições de promoção do desenvolvimento regional.

 

 *Professora do curso de Comunicação Social – Jornalismo, da Universidade Federal de São João del-Rei.

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