Uma parceria entre artesãos do vidro de Poços de Caldas e do estanho de São João del-Rei para a produção de cristais já começa a colher frutos. Os lançamentos de produtos da linha de Murano em vidro e estanho de 2008 serão apresentados na 3ª. Feira do Comércio, Indústria e Mostra Cultural (FECIC) que acontecerá em outubro próximo em São João del-Rei, numa promoção conjunta da Associação Comercial e Industrial local e do SEBRAE. A idéia é que o produto atraia o interesse não apenas dos turistas como também dos atacadistas e moradores da cidade e da região, diz o mestre-vidreiro e empresário Antonio Carlos Molinari, sócio da empresa Cristais São Marcos Ltda.
Um dos lançamentos é um conjunto de peças da linha de produtos de Murano, que está sendo criado por Molinari. “As novas peças têm cor netuno, muito bonita porque tem um brilho de petróleo. Eu vou mandar essas peças para a Associação Comercial de São João del-Rei, a fim de que os artesãos criem alguma coisa de estanho em cima delas.” A expectativa é que as peças fiquem prontas para a exposição em feiras de negócios, no segundo semestre, tanto em São Paulo quanto em São João del-Rei.
A parceria teve a benção e a mão da Associação Comercial e Industrial de São João del-Rei, por intermédio do trio José Primeiro Teixeira Neto, o Zezito (ex-presidente); João Afonso Farias (presidente licenciado); e Artur Coelho dos Santos Monteiro (presidente interino), diz Molinari. Há cinco anos, estes empresários, acompanhados de representantes do SEBRAE, foram levados à empresa Cristais São Marcos pelo prefeito então Paulo Tadeu, de Poços de Caldas. Eles queriam um arranjo para aproximar a empresa caldense do grupo A7 (grupo de sete artesãos em estanho) de São João del-Rei. “Nós entraríamos com o vidro e eles com o estanho para compor uma peça”, conta Molinari. Assim, foi dado o ponta-pé inicial da parceria.
SUPERANDO O MESTRE
As peças do tipo Murano (cinzeiros, compoteiras, vasos, jarros, centros de mesa, cachepôs para arranjo de flores, garrafas decorativas, pesos para papel etc.) são a principal linha de produtos da Cristais São Marcos, de Poços de Caldas. As outras linhas são de iluminação residencial e decorativa (abajur, por exemplo) e aero-naval (globos de segurança, sinalização de campos de aviação e para navios etc.). “A linha de Murano representa noventa por cento do nosso trabalho. Nós retiramos por dia quatro toneladas de produto acabados, mesclados entre o Murano, linha de iluminação etc.”, conta Molinari.
Molinari é mestre-vidreiro há 50 anos, pois começou a trabalhar aos nove anos de idade com Aldo Bonora (que acabara de chegar ao Brasil) e, com onze anos, foi escolhido discípulo do italiano. É um dos cinco sócios da empresa Cristais São Marcos – os outros sócios são os irmãos Paulo, Ângela Cristina, Nívea Maria e João. A empresa exporta para o mundo inteiro, inclusive a Itália, berço do Murano. “Nós fomos ganhando ao longo dos anos a confiança dos importadores, tanto que eles passaram a comprar de nós, tão bons eram a nossa qualidade e o nosso design. Na Itália, nós temos um cliente especial há seis anos, que distribui nosso produto dentro de Murano, com a marca e a assinatura dele, como um produto fabricado por ele”, conta ele.
Molinari participa de feiras nacionais e internacionais há vários anos. “Nós já participamos há seis, oito anos de feiras de negócios na Alemanha, na Itália, já fomos para os Estados Unidos e hoje já exportamos para mais de 34 países”, diz. Além disso, a empresa expõe na Toronto International Grift Fair (Feira Internacional do Presente de Toronto), que acontece duas vezes ao ano em São Paulo, e na Feira ABIMAD (Associação Brasileira das Indústrias de Móveis de Alta Decoração), também na capital paulista. “Nós fazemos três lançamentos por ano: em março, em agosto e o terceiro nós intercalamos, que é na Feira ABIMAD. A Gift é montada por nós expositores e, além de fabricante, traz um número muito grande de clientes.”
FORTALECER A PARCERIA
Depois de colher os primeiros frutos, a idéia de Molinari é fortalecer a parceria com os artesãos de São João del-Rei. “Como o trabalho é manual, nós artesãos somos muito sensíveis, mas pelo menos comungamos as mesmas idéias porque eles são artesãos natos. Nós sabemos das dificuldades uns dos outros. Eu mando uma linha de vidro para São João del-Rei pensando uma coisa, mas eles fazem outra. Eles também pensam que vão receber uma peça de uma forma, mas recebem uma peça totalmente diferente. Aí, eu os derrubo, porque é muito difícil fazer o que eles fazem. Não é fácil adaptar... Mas já houve progresso.”
Molinari pretende ampliar os negócios e inclusive convidar artesãos em estanho para participar de feiras junto com a empresa Cristais São Marcos. “Nós temos que agilizar os lançamentos, nós temos que crescer... Vai chegar o dia em que eu vou falar: Estou indo para uma feira e gostaria que um de vocês viesse comigo. Eu estou querendo um artesão de São João del-Rei para cuidar dessa arte. Ninguém melhor do que ele para falar do trabalho em estanho. Se eles forem para feiras e venderem mil peças, eu vou produzir mil peças para eles nessa parceria. Se eu vou para feiras e vendo duas mil peças, eu vou comprar mais peças de estanho deles. O que cada um vender, eu vou fabricar o vidro para eles colocarem o estanho.”
Arte em vidro e estanhos une artesãos de São João del-Rei e poços de caldas
Economia
José Venâncio de Resende 12/08/20080