Artista são-joanense ajuda criar associação latino-americana de tapetes de rua em areia

ATUALIZADO EM 30/03/2024. Tapetes de rua dos festejos religiosos são declarados patrimônio cultural imaterial de São João del-Rei, por iniciativa do vereador Leonardo Henrique.


Cultura

José Venâncio de Resende0

Carlos Magno, em entrevista à Rádio São João del-Rei.

A associação latino-americana Lunarte – que reúne tapeceiros em areia ou “alfombristas” como são conhecidos em outros países – deverá ser oficialmente criada no próximo 30 de maio, dia de Corpus Christi, no Panamá, com a documentação a ser formalizada provavelmente em outubro no México. A revelação foi feita pelo artista plástico e restaurador são-joanense Carlos Magno, em entrevista ao programa Fala, São João!, do jornalista Roberto Miranda, no dia 25 de março na Rádio São João del-Rei.

Carlos Magno participa, como representante do Brasil, deste movimento de divulgação dos tapetes de rua na América Latina. “É muito importante manter vivo esse trabalho, porque é um trabalho que de certa forma projeta a cidade fora do país, e também no país. Então, eu sempre mostro os trabalhos que são realizados não só em São João del-Rei como nas outras cidades.”

O objetivo da Lunarte é promover o intercâmbio entre as várias experiências latino-americanas, enfatiza Carlos Magno. De posse da documentação da associação, a ideia é buscar apoio político para obter recursos que permitam estimular o intercâmbio, “com as pessoas de outros países vindo participar em São João del-Rei da feitura de tapetes, trazendo novas técnicas, principalmente em épocas como a semana santa. E também, quem estiver envolvido com isso, poder sair do Brasil e ajudar fazer tapetes (em outros países)”.

Carlos Magno está otimista com o encontro no Panamá para finalizar o estatuto da Lunarte. “Então, a partir de outubro (no México), a gente vai ter documentação suficiente dessa associação de alfombristas para tentar obter recursos – cada país vai tentar recursos com o seu Ministério da Cultura - para a gente conseguir fazer esse intercâmbio, patrocinar a vinda de artistas de lá pra cá para participar de eventos nossos, levar artistas daqui pra lá para participar de eventos fora, É um movimento importante.” 

Até agora, a participação de Carlos Magno tem sido através de convites – nos quais os anfitriões custeiam as despesas (passagem, alimentação e estadia) – ou mesmo com recursos próprios. “Infelizmente, esse ano no Panamá, eles estão sem recursos porque a fundação justamente não está concretizada. Então, eu vou por conta própria, para participar do evento, assinar os documentos porque eu acho muito importante a gente ter efetivado de fato essa associação para a gente conseguir daqui pra frente receber recursos para fazer esse trabalho.”

Diversidade de trabalhos

Carlos Magno ficou impressionado com os trabalhos desenvolvidos em outros países. “Nesses encontros, a gente encontra pessoas não só da América – também da Europa e até da Ásia – que participam, cada um com a sua técnica. São artistas maravilhosos. Você não tem ideia do que essas pessoas fazem com areia. Eles fazem pintura que dá vontade de tirar do chão e colocar na parede de um museu. É uma coisa impressionante a técnica que eles têm e o amor com que eles fazem esses trabalhos.”

Mas não apenas com areia, observa o artista são-joanense: “eles tem outro tipo de materiais, eles trabalham muito com sal, eles tingem o sal e fazem os tapetes com sal colorido, que fica parecendo vitrais; eles tem marmolina, que é um pó de mármore finíssimo. Então, você consegue um efeito estético parecendo que é pintura a óleo, não fica grãos, parece assim uma coisa pintada na tela. Então, eles tem técnicas muito diferentes, eles tem cores muito bonitas… Esses país, principalmente o México, fabricam cores fantásticas para tingimento de areia e de serragem. Então a gente vê coisas muito impressionantes”.

Década de 1970

Carlos Magno recorda que, até a sua infância, os tapetes eram feitos de uma forma muito singela. Cada morador jogava flores, fazia arranjos de flores em frente a sua porta, “mas não tinha a ideia de se fazer alguma coisa artística”. 

Até que, no final dos anos 1970, ele começou a participar de um movimento liderado por um grupo de artistas de São João del-Rei, que fazia os primeiros tapetes usando areia. “E isso foi muito importante porque essa técnica de trabalhar com areia facilitou muito o trabalho dos artistas porque a areia é um material muito fácil de criar, misturar cores e fazer isso ficar de forma que você consegue fazer cenas, figuras humanas, coisa que era muito difícil fazer com flores.”

Foi assim que se começou a desenvolver uma técnica com material local – areia retirada das serras de São João del-Rei ou da antiga prainha do centro histórico da cidade “porque na ápoca ainda tinha vestígios de areia branca na praia”. “Então, começamos a desenvolver uma técnica direrenciada, pelo menos para Brasil, porque agora eu sei que isso acontece em muitos países da América do Sul, da América Central e agora estão usando muito isso também em alguns países da Europa.”

Na época que “nós desenvolvemos isso em São João del-Rei foi uma coisa muito mágica porque ninguém ainda tinha usado areia dessa forma, tingindo para poder fazer figuras humanas e cenas”, recorda o artista. “Então, eu sou fruto desse momento importante da cultura de São João, de um momento de resgate e de um olhar mais atento do que realmente é nosso e é importante culturalmente.”

Patrimônio imaterial 

Desde 22 de março, os tapetes de rua dos festejos religiosos, principalmente Semana Santa e Corpus Christi, são declarados patrimônio cultural imaterial de São João del-Rei. A lei nº 6054 (22/03/2024), sancionada pelo prefeito municipal, é de iniciativa do vereador Leonardo Henrique de A. e Silva.      
 

 

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