Uma vez mais a Igreja do Brasil nos convida a meditar sobre um tema atual e que toca a vida de todos nós, sobretudo a vida dos menos favorecidos. O tema é o meio ambiente. Este ano, novamente a CF é Ecumênica. Desse modo, ela será conduzida pelo CONIC (Conselho Nacional das Igrejas Cristãs). Fazem parte do CONIC as seguintes Igrejas: Católica Apostólica Romana, Evangélica de Confissão Luterana no Brasil, Episcopal Anglicana do Brasil, Presbiteriana Unida do Brasil, Sirian Ortodoxa de Antioquia. A CF 2016 terá como tema e lema: tema: “Casa Comum, nossa responsabilidade”. Lema: “Quero ver o direito brotar como fonte e correr a justiça qual riacho que não seca” (Am 5.24).
De fato, este é um tema universal e ecumênico, afinal o planeta está agonizando. Precisamos, com urgência, cuidar melhor de nossa casa comum. Certamente a escolha deste tema teve como fonte de inspiração a Encíclica do Papa Francisco Laudato Sí. Quero aqui tratar do tema da CF 2016 à luz da Laudato Sí. A carta do Papa teve ampla repercussão e foi elogiada por grandes personalidades, tais como o presidente dos Estados Unidos Barack Obama e o secretário-geral da ONU Ban Ki-moon. O subtítulo desta carta do Papa já nos oferece uma bela metáfora e inspiração: a metáfora da Casa Comum. O planeta é nossa casa comum e ninguém deve destruir sua própria casa. Isto parece ser muito razoável e inteligente. Assim, não vou me deter ao texto base da CF 2016. Quem desejar fazê-lo sugiro o link: http://www.conic.org.br/portal/files/2015/apresentacao_PPT_CFE.pdf.
O texto da carta do Papa é muito rico e traz alguns pontos que gostaria de realçar. Primeiramente, a compreensão, à luz da Palavra de Deus, de que somos guardiões da obra da criação. Muitas vezes fizemos uma interpretação equivocada do verso bíblico “sujeitai e dominai a terra”. (Gn 1, 28). Melhor entender esta revelação de outro modo. Deus criador plantou um jardim e confiou este jardim aos nossos cuidados. A palavra chave é sempre cuidado. A criação, portanto, não pode ser vista somente como fonte de recursos a serem explorados de maneira insaciável. A criação é, antes de tudo, manifestação de Deus. O salmista já nos fala do livro da natureza que revela Deus: “os céus narram a Glória de Deus e o firmamento o esplendor de suas mãos”. (Sl 19, 1).
Outro ponto importante na carta do Papa é o conceito de ecologia integral. O Papa diz: “Quando falamos de «meio ambiente», fazemos referência também a uma particular relação: a relação entre a natureza e a sociedade que a habita. Isto impede-nos de considerar a natureza como algo separado de nós ou como uma mera moldura da nossa vida. Estamos incluídos nela, somos parte dela e compenetramo-nos”. Assim, quando destruímos o meio ambiente, estamos nos autodestruindo. Quem sofre ainda mais com esse processo são os pobres. Sofrem com as mudanças climáticas, com a falta de saneamento básico, a poluição das águas etc. Continua o Papa: “Não há duas crises separadas: uma ambiental e outra social; mas uma única e complexa crise sócio-ambiental. As diretrizes para a solução requerem uma abordagem integral para combater a pobreza, devolver a dignidade aos excluídos e, simultaneamente, cuidar da natureza”.
Por outro lado, não se trata, porém, de ter um visão da natureza como algo intocável, mas antes de saber utilizar os recursos da natureza sem contudo degradá-la. Eis o desafio. A sede voraz do lucro não conhece limites. Por este motivo há que se ter leis e fazê-las valer. Os países desenvolvidos têm um papel fundamental. Papa Francisco salienta no texto a necessidade de se incrementar o equilíbrio sustentável ou desenvolvimento sustentável.
Por fim, surge uma interrogação: o que está ao nosso alcance fazer? A questão toca a todos nós, não somente aos religiosos. Penso que devemos, primeiramente, resgatar a ideia da sacralidade da criação. É certo que a criação não é Deus, mas por outro lado é manifestação de Deus. Está ao nosso alcance também pequenos gestos, tais como: promover coleta seletiva, pressionar as autoridades, rejeitar a mentalidade consumista, reciclar e reaproveitar as coisas, não desperdiçar água e nem poluir ou desmatar as nascentes. Pequenas ações que certamente farão a diferença. Aproveitemos este “tempo favorável” da quaresma para nosso crescimento na fé e no compromisso do cuidado com a obra de Deus.
*Pároco da Paróquia Nossa Senhora da Conceição, de Prados, e vigário-geral da Diocese de São João del-Rei.