Com indústria de selas renovada, Dores de Campos homenageia antigos tropeiros


Cultura

José Venâncio de Resende0

Memorial em homenagem aos tropeiros (fonte: Trilha dos Inconfidentes).

Dores de Campos, na microrregião do Campo das Vertentes com sede em São João del-Rei, inaugurou, no dia 25 de julho na Praça Ildefonso Silva, um memorial em homenagem aos tropeiros, que contribuíram para o crescimento e o desenvolvimento do município. Desde 2018, Dores de Campos ostenta o título de “Capital Estadual das Selarias” (Lei Estadual nº 22.861).

Com o início da fabricação de arreios e selas, no século 19, e a sua diversificação em acessórios de montaria, surgiram os mascates e tropeiros, que organizavam tropas de mulas e burros, para vender os produtos em arraiais, fazendas e cidades da região e até mesmo em outros estados como Rio de Janeiro, São Paulo, Espírito Santo, Goiás e Mato Grosso.

Antigamente, os principais clientes eram pessoas que trabalhavam no campo, lembra Paula Maria Nascimento Moreira, tecnóloga em turismo e hotelaria da Secretaria de Cultura e Turismo. Atualmente, predomina o hobby entre os clientes do setor, e apesar da crise pandêmica as vendas continuam aumentando. “Com o isolamento social, parece que as pessoas tem se dedicado mais ao seu hobby. Tem selaria aqui que só aceita pedido para entregar daqui a dois meses.”

A indústria adaptou-se aos novos tempos para atender ao perfil da nova clientela, conta Paula. Em Dores de Campos há mais de 150 empresas no setor de selarias, artigos de montaria e artigos para pet shop, a grande maioria constituída de unidades familiares.

O início

Os tropeiros estão ligados à história da indústria de selas, pois ficavam meses longe de casa, levando para todo o Brasil as selas e artigos de montaria fabricados em Dores de Campos. Este breve histórico consta do livro “A política em municípios dos Campos das Vertentes” (https://www.amirco.org.br/loja/a-politica-em-municipios-dos-campos-das-vertentes/14), da Coleção Lageana da Amirco (Associação de Amigos da Cultura de Resende Costa). 

Os irmãos Antonio da Silva Sena e Manoel Justino da Silva foram os pioneiros da indústria de arreios em Dores de Campos, segundo relato de Raposo Filho no livro “Memórias”. “Viajaram a Barbacena para comprar uma sela e um silhão patente (tipo de montaria utilizado pelas mulheres): de volta, ao chegar em casa, com todo o cuidado, foram desmanchando e tirando peça por peça. Conseguiram uma completa coleção de moldes que possibilitou o início da fabricação de arreios, os quais, com o tempo, foram aperfeiçoados.” A indústria tomou grande impulso, prossegue o autor, “a ponto de incentivar e aumentar a penosa profissão que é a de mascate”.

As selarias são importante fonte de geração de empregos e base da economia local, de acordo com a historiadora Tereza Raquel Assis O. Pugliese. Desde o início do povoado do Patusca, diversas famílias beneficiam-se direta ou indiretamente desta atividade, que teve seu início na cidade por volta de 1835 e 1840. Os irmãos Silva, que aprenderam o ofício em Barbacena, aperfeiçoaram a atividade e transmitiram seus conhecimentos aos descendentes e moradores, tornando Dores de Campos referência nacional e internacional na fabricação de selas. “A cidade ainda possui grande número de indústrias de arreios, bolsas, elásticos. O comércio é intenso e variado”, resumiu Tereza.

O município

O povoado do Patusca surgiu em princípios do século 19, fundado pelo bandeirante Bernardo Francisco da Silva que adquiriu terras nas margens do “Ribeirão do Patusca” para a exploração agropecuária. A expansão da família de Bernardo foi o embrião do nascimento da cidade de Dores de Campos, inicialmente com o nome de “Vilarejo do Patusca”.

A região do povoado pertencia ao município de Tiradentes e, com a construção da capela de Nossa Senhora das Dores, surgiu o “Distrito de Dores do Patusca”. Em 1890, o governo do Estado desmembrou, por decreto, o distrito do município de Tiradentes, integrando-o ao município de Prados.

Entre os anos de 1835 e 1840, surgiu no território a atividade de fabricação de arreios, para atender ao crescimento da população. Com o aumento da produção e a diversificação dos acessórios de montaria, surgiram os mascates para vender o produto.

Os mascates organizavam tropas de burros e conduziam as mercadorias em grandes balaios, feitos de bambu, para serem vendidas em arraiais, fazendas, cidades e mesmo em outros Estados como Rio de Janeiro, São Paulo, Espírito Santo, Goiás e Mato Grosso. Chegaram até à cidade de Parati (RJ), pela trilha da Estrada Real. Quando retornavam das viagens, eram recebidos com festas.

Mais informações em: https://portaldoresdecampos.com.br/

 

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