Conheça a criação de ovelhas e a receita de cordeiro assado de Paulo Lasmar, de Nazareno


Cidades

José Venâncio de Resende0

Paulo Fernando Lasmar cria ovelhas desde 2004 em Nazareno, no Campo das Vertentes de Minas. Ele começou com 18 ovelhas e um reprodutor, adquiridos em Coromandel (Triângulo Mineiro).  “Lembro até hoje que, no caminho, uma ovelha deu uma cria de dois filhotes dentro do caminhão.” Hoje, Lasmar tem um rebanho de 283 ovelhas e três reprodutores. Enquanto degustávamos um cordeiro assado no feriado de 15 de novembro, em seu sítio, Lasmar contava entusiasmado que uma ovelha acabava de ter  duas crias gêmeas. 

Em outubro de 2009, Lasmar recebeu a visita de Wilson Ashidani, produtor de grãos em Piedade do Rio Grande e Madre de Deus. Ele levou dois diretores do Banco Sicoob Credivertentes para visitar a criação de Lasmar. “Olharam tudo, Ashidani não disse nada e foram embora.”

Em dezembro do mesmo ano, Ashidani voltou ao sítio de Lasmar, contando que havia comprado 300 matrizes. “Ele havia plantado grãos entre as linhas dos eucaliptos (com 4 anos). Então, transformou esse espaçamento em pasto e passou a criar ovelhas.”

Alguns dias depois, Ashidani telefonou para Lasmar, convidando o criador para uma reunião em Barbacena, com o objetivo de criar uma associação representativa do setor. Assim, em 22 de dezembro quatro produtores (com contribuição individual de R$ 50,00) fundaram o NUCCORTE (Núcleo de Criadores de Caprinos e Ovinos das Regiões dos Campos das Vertentes e Zona da Mata) que foi registrado oficialmente em fevereiro de 2010.

Aprendizado

As primeiras ovelhas de Lasmar eram lanadas e cruzadas da raça Texel. “Fomos aprendendo no tapa, porque ninguém entendia nada de ovelha e não tinha assistência técnica. No NUCCORTE, começamos a discutir raças, mercado, produção, alimentação, doenças...”

Todas as orientações de consultorias eram para criar Santa Inez, raça deslanada desenvolvida no Nordeste brasileiro, recorda Lasmar. “Só que lá a criação é extensiva, o índice de verminoses é menor, o clima é quente e seco... Mas ao mesmo tempo não se podia desprezar a raça Santa Inez pela sua habilidade materna.”

Nesse meio tempo, houve a decisão do NUCCORTE no sentido de focar sua atuação na produção de cordeiros para carne. Lasmar então optou pela criação matrizes cruzadas, independentemente de raça, devido à carência de matrizes e à boa aceitação no mercado de cordeiro para carne.

Assim, Lasmar resolveu experimentar reprodutores Texel, White Doper, Doper e Paul Dorset e as fêmeas cruzadas. Ele optou por adotar os reprodutores Texel e White Doper, com base nas primeiras crias, ganho de peso, textura da carne e aceitação no mercado.

Outra experiência de Lasmar foi buscar duas parições por ano (em vez de três parições em dois anos), mas ele descartou esta opção. Preferiu adotar duas estações de monta com três parições  em dois anos.

Outro teste foi o desmame com 60 a 70 dias, mas Lasmar concluiu que o melhor é desmamar com 90 dias e confinar os cordeiros de 30 a 60 dias. Do nascimento aos 30 dias, as mães e os filhotes ficam semiconfinados (abrigo com alimento e água e um pasto pequeno com suplementação de ração). De 30 a 60 dias, a amamentação é controlada (apenas à noite). De 60 a 90 dias, ocorre o processo de desmama (mamada, dia sim, dia não, até a apartação definitiva).

Confinamento de cordeiros

Os cordeiros entram em confinamento, onde recebem volumoso (que pode ser cana-capim ou silagem) e ração (4% do peso vivo), esta última constituída de 78% de milho, 21% de soja, 1% de calcário e sal proteinado à vontade (com baixo teor de cobre para não prejudicar os rins do animal). “Eles ganham no confinamento 280 a 450 gramas por dia, dependendo do cruzamento usado. Ou seja, o cordeiro entra no confinamento com 20 a 25 kg e sai com 37 a 45 kg”, observa Lasmar.

Alguns cuidados são necessários, como curar o umbigo e colocar o cordeiro para mamar o colostro, ao nascimento; realizar controle fitossanitário permanente; vermifugação com o método “Famache”; casqueamento e tosa das fêmeas; sistema de identificação (brinco ou colar vermelho nas fêmeas e colar branco nos machos, com etiqueta, no caso de Lasmar); pesagem dos cordeiros a cada 30 dias; instalações simples (área coberta com espaços para maternidade, enfermaria, áreas de manejo e de confinamento etc.); e pastagem (piquetes ou pastos maiores – mas baixos - de braquiária ou leguminosa, eventualmente com cerca elétrica para dividir o espaço), lembrando que no período de seca é preciso ter uma reserva de cana ou capim ou mesmo silagem.

Comércio

Em relação ao comércio, Lasmar lembra que “ninguém vai ter produção para atender toda a demanda; então, temos de aderir ao associativismo”. É inviável um único produtor formar uma carga de 120 a 150 cordeiros para entrega ao frigorífico, alerta o criador de Nazareno.

A criação de ovelhas é um bom negócio, tanto que a atividade está em expansão em Minas e no Brasil, diz Lasmar. “O pais produz apenas 15% do que consome, daí o potencial de mercado.”

Ele vende o quilo vivo de cordeiro a R$ 6,50 e o descarte (ovelhas velhas) a R$ 4,80 o quilo. Para mostrar a vantagem do negócio, ele faz a seguinte conta: por unidade de área, é como se a arroba do boi fosse vendida a R$ 230,00 ( bem acima dos atuais R$ 90,00). “Onde se cria um boi ou uma vaca, criam-se 10 ovelhas. Você ainda pode consorciar criação de ovelhas com a cultura do café – capina-se o café, ajuda-se na adubação e se tem fonte de renda o mês todo.” 

O investimento é baixo (cerca elétrica, se houver necessidade; aproveitamento de algum galpão e aquisição de matrizes). O criador recomenda cuidado especial com cachorro e animais que costumam atacar o rebanho. “Pode-se usar um cachorro da raça maremano, que é vigia contra predadores.” 

O Polo Nazareno do NUCCORTE tem quatro criadores de ovelhas no próprio município e dois em Madre de Deus. Aparecem em seguida, com um produtor cada, os municípios de Lavras, Itumirim, Santo Antonio do Amparo e Carmópolis.

Além  da geração de renda, a criação de ovelhas pode ter função de terapia ocupacional. Pelo menos é o que espera um casal de holandeses, que trabalha com recuperação de dependentes de drogas em Ritápolis. O casal pretende implantar um projeto de produção de cordeiros, cujo investimento inicial será de R$ 200 mil. A ideia é melhorar a auto-estima dos dependentes químicos, explica Lasmar. “Eu acho que pode dar certo.” A previsão inicial é de 150 matrizes, podendo chegar a 400 matrizes em quatro anos. A taxa inicial de retorno é estimada em 2,57% (dois primeiros anos), pulando para 13,6% no período de três a quatro anos e para quase 20% acima de cinco anos.

Cordeiro assado

Lasmar tem uma receita própria para preparar o cordeiro assado. O ponto ideal de abate para degustação é de quatro a seis meses, mas “as ovelhas da raça lanada (Texel) podem estar já velhas que tem carne macia e saborosa”.

Ele sugere fazer os cortes (pernil dianteiro ou paleta e pernil traseiro; o garret, que é a suã com lombo e uma ripa da costela; e a costeleta), que podem ser assados em churrasqueira ou no forno. Para o pernil traseiro assado, Lasmar receita quatro colheres (de chá) de sal, para cada quilo de carne a ser temperado; deve se acrescentar pimenta do reino síria, nós moscada moída, comin (tipo de tempero) e um pouco de vinho suave dos mais baratos, além de um pouco de canela em pó. Deixa-se de um dia para o outro, com a parte de osso para cima; na hora de assar, coloca-se a parte de osso para baixo. Detalhe: coloca-se uma grelha no fundo do tabuleiro para a gordura não ficar em contato com a carne; cobre-se o tabuleiro com papel alumínio, vedando as bordas, e leva-se ao forno (a 250 graus) por duas horas e meia a três horas.

Ao servir os cortes, pode se usar geleia de menta ou de jabuticaba ou ainda bater no liquidificador um molho de hortelã, limão, pasta de gergelim e sal. No momento da degustação, Lasmar sugere vinho (tinto ou branco), arroz branco ou com lentilha ou ainda grão de bico. 

Já o pescoço pode ser cortado em cubos e feito afogado ou ensopado com legumes ou batata. Tem também o “viagra” da ovelha que é um caldo de carne da parte do osso, cozida e desfiada, acrescida de legumes. Lasmar criou ainda o “bobó de ovelha na moranga”. “O presidente do NUCCORTE (Luciano Piovesan Leme) pediu uma reunião de emergência na minha casa e eu não tinha nada para fazer. Então, peguei uma moranga e coloquei o bobó para cozinhar. Fui um sucesso.”

Nos embutidos, Lasmar cita a lingüiça de ovelha e os miúdos (fígado, coração e rim) que podem servir de tiragosto frito na frigideira com um pouco de óleo, acrescentando-se cebola, pimentão e tomate. Primeiro, frita-se um pouco a carne (para ela ficar molhadinha, suculenta); em seguida, acrescenta-se alho e sal na frigideira e então cebola, pimentão, jiló, tomate etc.