O adobe está de volta. Chegando devagarinho a Resende Costa e mesmo a outras cidades vizinhas, é usado para realçar paredes sem reboco ou de “adobe à vista”. Fica vistoso e contribui com o meio ambiente.
Mas será essa a única diferença em relação ao seu uso no passado, quando as paredes eram rebocadas? A forma de produzir o adobe é praticamente a mesma; só muda o processo de fazer o barro. Usa-se a betoneira em vez de amassar com os pés, o que fazia a festa da criançada. Eu mesmo amassei muito barro pra fazer adobe.
Cláudio Miguel dos Santos atualmente é fabricante de adobe em Resende Costa. Antes, ele trabalhava na olaria do Leo do Zé Tarcísio, no Viegas, produzindo tijolo maciço. Ficou lá cerca de 20 anos, intermitentes, até que mudou para o adobe.
Há cerca de 10 anos, Cláudio aceitou o desafio de Emerson Nunes de Souza, do Rancho Celeste (1,5 km do asfalto), para construir uma casa de adobe. “Então, eu resolvi a experimentar o adobe”. Foram cerca de quatro mil unidades fabricadas para levantar a casa de Emerson.
A partir dessa experiência, começaram a surgir as encomendas. Cláudio fabricou cerca de oito mil adobes para a construção de um casarão na cidade. Também forneceu adobe para um chalé na Água Limpa, município de Coronel Xavier Chaves. Atualmente, o que mais aparece são encomendas de balcões e muros. Balcões para barzinhos e muros para a frente de casas, sempre com “adobe à vista”.
Mas a produção ainda não comporta dedicação exclusiva. Por isso, Cláudio divide seu tempo entre fabricar adobes e tecer tapetes.
Fabricação
O espaço de Cláudio, na Picada (saída para Coronel Xavier Chaves), é pequeno, mas o suficiente para atender à demanda atual. É formado por terreno e varanda onde cabem cerca de 800 adobes (500 ao ar livre e 300 na área coberta). Na maior parte do ano, o adobe é secado ao sol; no período de chuvas, a secagem é feita na área coberta.
Para produzir o adobe, Cláudio usa terra obtida geralmente em áreas de desaterros. A preferência é pela terra amarela, mas há encomendas de adobe de terra avermelhada. Essa terra é colocada na betoneira junto com capim seco picado e água; leva cerca de 20 minutos para obter o barro suficiente para 40 adobes.
Terminada a mistura, o barro é transportado em carrinho de mão para o local, seja a varanda ou o terreno, onde está a fôrma. A próxima etapa é encher com barro a fôrma de madeira (capacidade de quatro unidades), que tem duas alças para Cláudio segurar e movimentar. Ao colocar os adobes no chão para secar, lava-se a fôrma e repete-se a operação. Uma das consequências dessa etapa do trabalho é a dor na coluna por causa do movimento frequente de levanta-e-abaixa.
Entre 40 e 50 minutos, todo o barro já foi utilizado e 40 adobes estão a secar. A secagem leva três a quatro dias ao sol ou uma semana na varanda. É diferente do tijolo, que é queimado em forno, o que consome energia. Além disso, a matéria-prima do tijolo é solo argiloso extraído de várzeas e beiras de córregos, processo regulado por lei ambiental.
Atualmente, Cláudio está construindo a própria casa (10m x 7m) no local onde fabrica os adobes. A frente e as laterais são de adobe à vista.
Adobe x tijolo
Adriano Valério de Resende, do Instituto Rio Santo Antônio (IRIS), destaca algumas diferenças entre o tijolo maciço e o adobe. “No quesito ambiental, o adobe é mais ecológico porque ele é apenas secado ao sol e não precisa ser ´queimado´, isto é, não há utilização de lenha ou outro combustível no processo.”
Outra questão é a origem do barro (argila) para a fabricação do adobe, já que “o material pode vir de áreas de desaterro, mas isso depende da quantidade que é produzida”. Já a produção de tijolo maciço, que é ainda grande, necessita de muita matéria-prima, geralmente retirada das várzeas (beiras de córregos).
Quanto ao custo de produção, “o adobe, por não exigir a ´queima´, a princípio é um produto mais barato. No entanto, sobre o quesito durabilidade, o tijolo maciço é melhor”, observa Adriano.
É possível aumentar a resistência e a durabilidade do adobe. Para isso, “deve-se fazer um acabamento com resina ou outro produto”. Adriano lembra que “o adobe não é usado de forma estrutural (sustentação) nas construções, porém, apenas como vedação dos espaços vazios entre as colunas e as vigas, que podem ser de concreto ou de madeira”.
Por fim, “esteticamente falando, a escolha depende do gosto de cada pessoa, mas o adobe é mais rústico”.