Covid-19: pessoas perfeccionistas sofreram mais durante a pandemia

Estudo foi desenvolvido por equipe de pesquisadores da Faculdade de Medicina da Universidade de Coimbra.


Ciência e Tecnologia

José Venâncio de Resende0

Universidade de Coimbra (foto: extraída do facebook).

As pessoas perfeccionistas sofreram mais durante a pandemia de covid-19, concluiu estudo pioneiro conduzido por uma equipe de pesquisadores (investigadores) da Faculdade de Medicina da Universidade de Coimbra (FMUC). Trata-se do primeiro estudo a nível internacional a avaliar o papel do perfeccionismo no sofrimento psicológico durante a crise pandêmica. 

O estudo foi realizado por pesquisadores do Instituto de Psicologia Médica da FMUC, dirigido pelo professor catedrático Antônio Macedo, em colaboração com a Escola Superior de Tecnologia da Saúde de Coimbra (ESTeSC). Foi publicado na revista científica Personatity and Individual Differences, com o título “COVID-19 psychological impact: The role of perfectionism”. 

As pessoas mais perfeccionistas tiveram mais medo da Covid-19, pensaram mais repetida e negativamente sobre a pandemia e as suas consequências e isso levou a que tivessem mais sintomas de depressão, ansiedade e stress, explica Ana Telma Pereira, docente da FMUC e coordenadora do estudo. O perfeccionismo é um traço de personalidade, caracterizado pela tendência para estabelecer padrões de desempenho excessivamente elevados, acompanhada de (auto)avaliação demasiado crítica e evitamento de falhas. As pessoas perfecionistas têm risco elevado de sofrer de ansiedade, depressão e stress, esclarece.

A amostra do estudo foi constituída por 413 adultos, homens e mulheres, da população portuguesa, recrutados entre setembro e dezembro de 2020. Embora as mulheres tenham demonstrando níveis mais elevados de perfeccionismo (na sua dimensão autocrítica), pensamento repetitivo negativo (preocupação e ruminação) e perturbação psicológica do que os homens, as três facetas do perfeccionismo que avaliamos, e que são atualmente as consideradas mais relevantes (perfeccionismo rígido, autocrítico e narcísico), tiveram este efeito de aumentar a perturbação psicológica, independentemente do gênero, realça Ana Telma Pereira.

A pesquisadora e docente explica, ainda, que as reações psicológicas a pandemias dependem muito da personalidade da pessoa, uma vez que são influenciadas pelos traços de personalidade, pois estes determinam a forma como interpretamos as situações e, portanto, as emoções e comportamentos que geram.

Este foi o primeiro estudo publicado na literatura científica internacional a comprovar empiricamente o impacto negativo do traço de personalidade nas reações psicológicas à pandemia de Covid-19, revela Ana Telma Pereira. “Mais concretamente, verificamos que as diversas componentes do perfeccionismo, quer intrapessoais (o próprio exigir-se a excelência), quer interpessoais (entender que os outros lhe exigem perfeição e, também, exigi-la aos outros), geraram mais ansiedade, depressão e stress face à pandemia.

O perfeccionismo tem vindo a aumentar significativamente nas duas últimas décadas, principalmente entre os jovens, falando-se mesmo de uma ´epidemia de perfecionismo`, nota Ana Telma Pereira. Assim, os resultados deste estudo evidenciam que «o perfeccionismo deve ser tido em conta na avaliação, prevenção e tratamento do impacto psicológico da(s) pandemia(s). É difícil alterar a personalidade, mas é possível ajudar as pessoas a reconhecer os seus traços e a desenvolver formas de lidar com os acontecimentos de vida que sejam menos negativamente influenciadas por eles.

Além de Ana Telma Pereira e Antônio Macedo, integram a equipe Carolina Cabaços, Ana Araújo, Ana Paula Amaral e Frederica Carvalho.     

Com informações de Cristina Pinto       

 

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