De Resende (Portugal) para Resende Costa (MG)


Notícia

José Venâncio de Resende2

O jornalista José Venâncio de Resende em frente às ruinas da primeira Câmara de Resende

Depois de um dia cansativo de viagem, já noite, entro no restaurante Gentleman de Resende pra jantar. Pretendia comer um bom bacalhau e apreciar o famoso vinho do norte de Portugal, quando me deparei com uma música ambiente familiar - Garota de Ipanema - que me surpreendeu por um detalhe: cantada em inglês. Pensei: "Por que em inglês, justo em Portugal?" 
 
Fiquei menos de dois dias em Resende, o suficiente para gostar e ter saudade. Uma região de belezas naturais incontáveis - formada por montanhas, onde habitações e plantações estão instaladas em curvas de níveis que mais parecem grandes degraus sustentados por muros de pedra – e de um povo muito simpático. Encontrei dois portugueses que têm irmãos no Brasil. Um deles, o António Quintino, foi o taxista que me conduziu aos locais relacionados com a família Resende. Também foi ele quem me presenteou com um exemplar da obra Resende e sua História (Volume 1: O Concelho, 1994, Edição Câmara Municipal), do padre Joaquim Correia Duarte.
 
Na publicação, padre Joaquim se lembra de que o nome de Resende parece ser de origem visigótica, “Não se sabe porém, ao certo, quem seria o senhor que lhe legou o seu nome. Seria um herói das invasões bárbaras dos séculos V ou VI? Seria um povoador cristão da época da Reconquista?” Para ele, a opinião mais sustentável é a de que o topônimo se trataria de um genitivo possessivo de origem gótica (séc. VI ou VII) Redisindi (villa), ou seja, quintã senhorial (residência e terra) de Redisindus.       .          
 
A primeira visita deste repórter foi ao antigo Mosteiro de Nossa Senhora de Cárquere, monumento associado ao início da nacionalidade portuguesa e ao começo da família Resende. D. Egas Moniz, tutor do primeiro rei D. Afonso Henriques, entre 1128 e 1146, recebeu do rei a Honra de Resende. O mosteiro, fundado por D. Egas Moniz, é um imponente monumento, que sofreu intervenções nos períodos gótico, manuelino e barroco, alterando-o profundamente. É composto por igreja de uma nave com capela-mor, mais baixa e mais estreita, parte do claustro, sacristia e panteão do convento primitivo, torre e capela lateral; portal de arco na frontaria principal com decoração manuelina; torre medieval do século XIII e arco de ligação à área convencional; e capela mortuária com quatro túmulos de granito (dos séculos XIII e XIV).
 
Palácio - Outra visita foi ao lugar chamado Paço, onde terá existido na época da colonização romana um dominium ou reserva senhorial, com o paladium (Paço ou palácio) do senhor e as cabanas dos servos que trabalhavam nas terras das cercanias. Segundo o padre Joaquim, o senhorio teria sido ocupado depois por algum “senhor Godo”, que poderia ter sido chamado Redisindus (possível origem do “de Resende”). Depois de estar na posse dos mouros, terá sido reconquistado, no princípio do século XI, e povoado por um senhor Rausendo Ermiges, apontado como o senhor do Paço de Resende. Este senhorio, nos primeiros anos do século XII, não se sabe bem de que modo, encontrava-se na posse de Egas Moniz de Ribadouro, tutor do primeiro rei de Portugal.        
 
“A família dos Resendes é uma das mais antigas e ilustres de Portugal” (Casa e Brasões de Resende, Joaquim Correia Duarte, 2007, Câmara Municipal de Resende). O primeiro a usar o apelido “Resende”, derivado do senhorio do mesmo nome, foi Martin Afonso que terá vivido entre 1258 e 1316. “Este senhor tinha a varonia de Baião, ou seja, tinha a ascendência paterna em D. Arnaldo de Baião e sua ascendência materna em D. Urraca Afonso, neta de D. Egas Moniz de Ribadouro”, relata o padre Joaquim. Assim, o senhorio de Resende viera então à posse de Martin Afonso, por herança de seu pai D. Afonso, de seu avô D. Rodrigo e de sua bisavó D. Urraca Afonso, que era neta de D. Egas Moniz.  
 
Depois de D. Afonso – prossegue o padre Joaquim – foram senhores do Paço (ou antigo palácio onde resta hoje a Capela de S. António) e da Honra de Resende, por sucessão e herança: (1) D. Constança Martins de Resende; (2) Vasco Martins de Resende, o Trovador: (3) Gil Vasques de Resende; (4) Martin Vasques de Resende; (5) Vasco Martins de Resende. “São destes quatro últimos as arcas tumulares de Cárquere, que se podem ver ainda hoje no panteon dos Resendes.” As quatro arcas de granito encontram-se na “Capela Funerária dos Resende”, anexa à igreja do mosteiro. “Os tampos das arcas apresentam, esculpidos, escudos com cabras – os símbolos do brasão dos Resendes.”  
 
Segundo o padre Joaquim, “Resende foi, durante a Idade Média, uma Terra ou Honra pertencente a fidalgos da linhagem de Egas Moniz. Em 1288, conservava todos os privilégios e jurisdições das Honras: estava isenta de todos os impostos, tinha vigário próprio e o direito de impedir, em certos casos, a entrada dos oficiais do rei”.
 
Antiga sede - Em 16 de julho de 1514, por “foral do rei D. Manuel I”, foi criado um concelho [município] em Resende. Ao ser criado, o concelho de Resende ficou com área geográfica e confrontações da antiga Honra, que abrangia as freguesias de São Salvador de Resende (incluindo Felgueiras) e Santa Maria de Cárquere. Embora não apareça na listagem dos lugares, a sede do concelho era Vinhós. De acordo com padre Joaquim, no século XVI Vinhós seria o lugar mais central e mais populoso e, portanto, o mais indicado. Assim, a referida povoação foi, até há pouco mais de cem anos, a sede do concelho. Este repórter teve a oportunidade de conhecer as ruínas de Vinhós, em especial o edifício abandonado da antiga Câmara Municipal e a antiga cadeia, em melhor estado de conservação.
 
As publicações Resende e sua História e Casas e Brasões de Resende, presenteadas a este repórter, respectivamente, pelo taxista António Quintino e pelo padre Joaquim Correira Duarte, serão doadas para a Biblioteca Municipal de Resende Costa. Padre Joaquim disse a este repórter considerar bastante razoável a presença de Resendes entre os imigrantes do continente que povoaram os Açores e, de lá, vieram para o Brasil.
 


Região vinhateira do Douro
    
Resende é hoje um concelho – situado na vertente setentrional da serra do Montemuro e pertencente à Província do Douro Litoral - do qual fazem parte 15 freguesias (distritos). Com população em torno de 10 a12 mil habitantes e área geográfica de 120 km2, está há 213 km de Ourense (do outro lado da fronteira da Espanha) e 382 km de Lisboa, capital portuguesa. Faz parte do distrito (estado) de Viseu e da diocese de Lamego. 
 
Resende é banhado pelas águas do rio Douro, referência da região, que nasce na Espanha, atravessa o norte de Portugal e desagua na cidade do Porto. Uma região que produz vinhos desde 1600, o que levou o Marquês de Pombal, ministro do rei D. Joao I, a demarcar o Douro (lei de 1756) com a denominação de "Região vinhateira do Douro", talvez o primeiro caso de identidade geográfica (selo de qualidade) de que se tenha conhecimento.
 
A região vinhateira demarcada tem início na freguesia de Barqueiros (onde já existia o comércio do vinho do Porto), pertencente aoconcelho de Mesão Frio. Já a freguesia de Barrô (em frente a Barqueiros na margem sul do rio) pertence ao concelho de Resende e faz parte da região vinhateira.
 
Resende é um dos poucos concelhos que produzem todo tipo de vinho, de acordo com José Luis Pinto, do posto de turismo local. É região típica do vinho verde, mas também produz vinho normal e vinho do Porto. A propósito, o mundialmente famoso vinho do Porto é produzido e engarrafado na região vinhateira do Douro, sendo transportado de barcos para a cidade do Porto, onde é armazenado e comercializado. 
 
Na região, predomina a agricultura (basicamente cereja e uva). Resende, como toda a região, enfrentou forte seca no último inverno (não chove desde o Natal). Uma situação que, a persistir, é fonte de preocupação para os produtores, já que a floração das culturas normalmente começa em maio (veja mais informações sobre Resende em http://www.cm-resende.pt/index.php).

Comentários

  • Author

    Parabéns pela linda reportagem da minha querida Resende.
    A beleza da nossa terra e a sua linda história, nos deixam teimosos, de tal maneira que colocamos a modéstia em pedestal principal, ressaltando o nosso orgulho de ser Resendense.


  • Author

    Que bom saber que temos uma outra Resende bem próxima. Eu sou cidadão e morador de Resende no Estado do Rio de Janeiro e nossa história também tem uma forte relação com a Resende de Portugal.

    Carlo A Rosa


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