Elvas e Barbacena: nomes portugueses familiares à região das Vertentes


Cultura

José Venâncio de Resende0

Elvas, entre muralhas (fotos: José Venâncio).

Terá o povoado de Elvas, arraial desde 1802 do município de Tiradentes (na região mineira das Vertentes), alguma relação com o município de Elvas, no Alto Alentejo português? Esta é uma pergunta que continua por responder.

A cidade portuguesa de Elvas fica às margens do rio Guadiana, a 8 km de Badajoz (capital da comunidade autônoma de Estremadura na Espanha) e a cerca de 200 km de Lisboa. O centro histórico da cidade, com cerca de 16 mil habitantes, localiza-se na parte alta entre as muralhas – conjunto histórico-cultural considerado Patrimônio Mundial da Humanidade pela Unesco (30 de junho de 2012) como “Cidade Fronteiriça e de Guarnição de Elvas e suas Fortificações”.

Elvas fica ainda a cerca de 26 km do município de Olivença (Estremadura), do século XIII, que pertenceu a Portugal por 504 anos. “Em 1801, a França napoleônica – de que era aliada a Espanha – declarou guerra a Portugal, assinada pelo rei espanhol Carlos IV, que não aceitara fechar seus portos à armada inglesa. A guerra começou e, no dia 24 de Maio do mesmo ano, Olivença foi conquistada, findando o conflito com a assinatura do Tratado de Badajoz em 6 de Junho. Ficou conhecida como a ´Guerra das Laranjas´.”* O sonho é que Olivença um dia volte a pertencer a Portugal. 

O conjunto de fortificações de Elvas, cuja fundação remonta ao reinado de D. Sancho II, é o maior do mundo na tipologia de fortificações abaluartadas terrestres (perímetro de oito a dez quilômetros e uma área de 300 hectares). Em arquitetura militar, a fortificação abaluartada, também chamada de traçado italiano, fortificação em estrela, ou fortificação à moderna, é um estilo de fortificação desenvolvido, inicialmente, na Itália a partir do final do século XV para enfrentar o desenvolvimento da artilharia móvel, capaz de destruir as altas muralhas dos antigos castelos medievais. 

As muralhas de Elvas foram construídas no âmbito da Guerra da Restauração, sendo um exemplo notável da primeira tradição holandesa de arquitetura militar. Além das muralhas abaluartadas do século XVII, este vasto patrimônio militar inclui o Forte de Santa Luzia, o Forte da Graça, o Aqueduto da Amoreira e os três fortins: de São Pedro, de São Mamede e de São Domingos ou da Piedade. 

O Forte da Graça é um exemplo notável da arquitetura militar do século XVIII, considerada por muitos historiadores como uma das mais poderosas fortalezas abaluartadas do mundo; é ainda original pela sua concepção e implantação num monte bastante elevado. O Aqueduto da Amoreira foi construído entre 1530 e 1622 para o abastecimento de água à cidade; tem 1367 metros de galerias subterrâneas e mais de 5 quilómetros e meio à superfície com arcadas que chegam a superar os 30 metros de altura. 

Barbacena 

O castelo de Barbacena, localizado na vila de mesmo nome no Alto Alentejo português, está abandonado e ameaçado, segundo informação que circula no facebook**. A Vila de Barbacena, que integra o município de Elvas, deu origem ao nome da cidade mineira de Barbacena. 

Não é de agora o mau estado de conservação do castelo de Barbacena - classificado como Imóvel de Interesse Público (IIP), conforme Decreto n.º 47 508 (24 janeiro 1967), por seu papel histórico na proteção da antiga vila e na independência da nação. Mas parece que vai piorado a um ritmo cada vez maior.

Fátima Catalão (autora da foto do facebook) chega a falar em “princípio do fim… Castelo Barbacena”. A designer e professora de artes no Instituto de Ciências Educativas de Lisboa, Graça Maria Mendes, comenta a postagem: “Grande é a responsabilidade dos eleitos para o poder local. Grande é a insensibilidade e a falta de conhecimento do significado de património, da importância para as suas gentes e para o país”. E conclui: “Foste abandonado… Castelo de Barbacena!”

A reconstrução, provavelmente de um castelo medieval, foi ordenada em 1519 pelo rei D. Manuel. Vítima de ataques e pilhagens em meados do século XVII e em constante necessidade de modernização para a defesa de uma zona de importância estratégica, a fortificação foi remodelada por Afonso Furtado de Mendonça, bisneto de Diogo de Castro do Rio, o  1.º visconde de Barbacena.

Depois de sair da posse da família, as ruínas do castelo passaram por vários proprietários. Último proprietário, o fadista Mico da Câmara Pereira, com muitas dívidas e sem condições de requalificar o imóvel, colocou o castelo à venda, em 2015, pelo valor base de 129 mil euros. Atualmente, “o Castelo de Barbacena é mais uma triste e inconcebível ruína do nosso patrimônio arquitetônico que aguarda melhores dias”, conclui Graça Mendes.

Na companhia do guia turístico José Carlos Franco Gama, estive recentemente em visita à Vila de Barbacena, com população estimada em 400 habitantes, a grande maioria de idosos. Uma vila em extinção que poderia ser revitalizada, no aspecto econômico, com atividades turísticas. E nesse sentido o castelo poderia fazer parte de um projeto de turismo sustentável (por exemplo, recebendo grupos de visitantes a Elvas), ocupando papel relevante na recepção. Mas para isso precisa ser recuperado em caráter urgente.

*https://www.jornaldaslajes.com.br/integra/olivenca-espanha-quer-o-portugues-como-segunda-lingua-materna/1509

**https://www.facebook.com/BarbacenaAlentejo/posts/482272264008820 

LINK RELACIONADO: https://www.jornaldaslajes.com.br/integra/a-barbacena-portuguesa-a-22-km-da-fronteira-com-espanha-/3206

 

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