Ensino Médio – parte 1


Artigo

João Bosco de Castro Teixeira*0

fotoJoão Bosco Teixeira

O Brasil corre atrás do ensino médio. Sempre correu. Quando a vida era mais simples, e número bem menor de pessoas tinha acesso aos estudos, o ensino médio clássico ou científico, e a escola normal, satisfaziam bem à demanda. A escola normal formava as excelentes professoras da escola infantil. Do clássico saíam candidatos para a área de humanidades e similares na universidade. Do científico, saíam os candidatos aos vestibulares das áreas exatas, além daqueles da área da saúde e dos demais ramos do conhecimento. Mas, o que era mais importante, a maioria dos concluintes do ensino médio saía pronta para ingressar no mundo do trabalho, via concurso, nos vários organismos estatais, ou via processos seletivos em diversificadas instituições. Além disso, tinham eles reconhecido o valor ético e moral de suas vidas. Desse modo, aqueles rapazes e moças podiam pensar num casamento próximo e, ao longo da vida, ampliar com segurança uma situação financeira de êxito.

A vida complicou-se bastante. O número de pessoas que podiam pensar em estudar aumentou enormemente. As possibilidades de vida profissional se multiplicaram. Tudo na vida cresceu, inclusive o lazer que passou a fazer parte essencial da vida até de simples trabalhadores. Não resta dúvida de que aquele ensino médio passou a não satisfazer mais às necessidades dos jovens que tinham diante de si um mundo tremendamente mais rico de ofertas, como também não atendia mais às necessidades de trabalhadores para o país. E com o crescimento da base da pirâmide social, a qualidade do ensino deixou muito a desejar. Não se saía mais do terceiro ano sabendo escrever e ler, nem fazer uso aproveitável das operações fundamentais da matemática.

No Brasil já se sentia a tremenda falta que faziam os técnicos das várias áreas. Não era possível mais trabalhar só com portadores de diploma superior. O caminho mais rápido e eficiente passava necessariamente pelo ensino médio.

Tentou-se um pouco de tudo. A lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional de 1996, que deu sequência à Constituição de 88, falou muito, ampliou horizontes, definiu tantos objetivos que, de lá para cá, cada escola pode fazer praticamente o que quis. Incluíram-se, posteriormente, três alternativas para o ensino médio: um ensino médio sem pensar na formação para o trabalho, um ensino médio também com a formação para o trabalho, e, terceira alternativa, a formação para o trabalho, após a conclusão do ensino médio. Esta opção foi ofertada por várias escolas. Não se sabe bem quem fez a segunda opção. A primeira continuou sendo a mais buscada. Mais barata, mais fácil, mais enganosa e sem resolver o problema da capacitação de técnicos. Além disso, passou a ter acentuado foco na preparação para o vestibular, embora com novos nomes, o que  descaracterizou a importância desse período da vida dos jovens, cheia de desafios de ordem afetiva, social, política, cultural, religiosa e econômica.

O Brasil, com o foco na formação de técnicos, encontrou extraordinário caminho, no nível do ensino médio: foram os Cefets e escolas agrotécnicas e similares. Que estupendas escolas, cujos ex-alunos, se o quisessem, poderiam viver como técnicos nas suas áreas de conhecimento. E se pretendessem cursar a universidade, estariam preparados para enfrentar o vestibular, até mesmo na área de saúde. Mas, parece que o Brasil ficou com vergonha de encaminhar os jovens para o trabalho. Não nos demos conta de que tais escolas de ensino médio vieram preencher uma tremenda lacuna. Continuamos querendo todos na universidade, todos doutores, ainda que mal formados.

Fora de tais escolas, a que leva o ensino médio? Para mim, a nada. Ou quase nada. Hoje tudo se orienta para a superação dos enens. Do ponto de vista da educação, o foco nos preparativos para a universidade faz que aquela pretendida formação para a cidadania fique quase por completo esquecida. Não fossem os valores naturais que família e escola trazem consigo em suas atitudes e normas, não fosse a boa formação da maioria dos professores, a educação ficaria reduzida a zero, porque os poucos conteúdos formativos são, na verdade, relegados. A culpa não é da escola. É da sociedade que entende que a universidade é feita para todos, independentemente das finalidades de uma universidade. Pudessem os técnicos ser respeitados em seu trabalho, não haveria necessidade desta imposição de um curso superior para  se considerar uma pessoa como merecedora de consideração.    

*Professor aposentado da UFSJ, membro da Academia de Letras de São João del-Rei.

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