Equipe da Universidade de Coimbra desenvolve molécula natural para substituir o tóxico estireno

Dois estudos importantes nas áreas econômica e ambiental.


Ciência e Tecnologia

José Venâncio de Resende0

fotoMolécula natural para substituir derivado do petróleo.

 

Pela primeira vez, foi desenvolvida uma molécula quase cem por cento natural capaz de substituir o estireno, derivado do petróleo, que está na base de materiais usados nas mais diversas indústrias, por exemplo, naval, automóvel, embalagens e vestuário, mas que apresenta elevada toxicidade. A investigação (pesquisa) que conduziu à nova molécula “verde” – tema de capa da revista científica Green Chemistry, uma das mais prestigiadas revistas da área da química verde – foi desenvolvida por uma equipe do Departamento de Engenharia Química da Faculdade de Ciências e Tecnologia da Universidade de Coimbra (UC). 

Segundo os coordenadores do estudo, Ana Fonseca e Arménio Serra, «há muito que a comunidade científica estuda uma alternativa ao estireno, um composto considerado tóxico e bastante nocivo para o ambiente e para o ser humano, tendo sido classificado como agente carcinogénico. Até aqui, as tentativas de substituição do estireno não se mostraram satisfatórias essencialmente por não assegurarem as melhores propriedades do material final».

O maior desafio deste trabalho foi desenvolver uma molécula com base em produtos naturais, que possa ser utilizada nas mesmas funções do estireno e que, após os mesmos tratamentos, possibilite a obtenção de materiais com as mesmas propriedades mecânicas e térmicas. A nova molécula tem por base o «sobrerol, um composto de estrutura cíclica, que pode ser obtido a partir da transformação de materiais extraídos da resina do pinheiro. A preparação do sobrerol envolve também a utilização de dióxido de carbono (CO2) como matéria-prima sendo uma importante mais-valia sob o ponto de vista ambiental», descreve Ana Fonseca.

Atualmente, o estireno é dos compostos mais usados industrialmente, prevendo-se um crescimento no seu consumo de 4,9% entre 2018 e 2023 (https://www.mordorintelligence.com/industry-reports/styrene-market). Assim, a molécula inventada pela equipa da UC poderá ter um grande impacto na indústria. No entanto, é preciso «efetuar os necessários estudos de desenvolvimento tecnológico para a sua aplicação», concluem os coordenadores da pesquisa.

Bactérias e fungos nas alterações climáticas

Um método simples que usa bactérias e fungos, separados ou de forma combinada, para aumentar a resiliência das plantas às alterações climáticas e, simultaneamente, reduzir o uso de agroquímicos, foi desenvolvido e testado pela pesquisadora Inês Rocha, do Centro de Ecologia Funcional da Faculdade de Ciências e Tecnologia da Universidade de Coimbra (UC). Desenvolvido no âmbito da sua tese de doutoramento, orientada por Rui Oliveira, o método consiste essencialmente em inocular plantas com bactérias presentes na rizosfera (na zona da raiz) e fungos micorrízicos.

Com o prolema das alterações climáticas, «esta abordagem apresenta-se como uma solução eficiente e de baixo custo para promover uma agricultura sustentável através da redução do uso de agroquímicos e do aumento da sobrevivência das plantas face a stresses ambientais, como os problemas das secas, inundações e salinização dos solos», sublinha a pesquisadora da UC.

Estes dois tipos de micro-organismos possuem diferentes mecanismos de ação direta na planta, através da absorção de nutrientes, do fornecimento de água, etc., ou indireta (por exemplo, protegendo a planta de pragas ou melhorando a estrutura do solo). O processo de inoculação traduz-se por incorporar micro-organismos que promovam o crescimento das plantas de uma forma mais resistente, permitindo a sua sobrevivência independentemente da degradação ambiental.

Entre as fases para a obtenção de uma fórmula eficiente e sustentável, detacam-se a identificação de micro-organismos promotores de crescimento vegetal em culturas agrícolas e a seleção de fungos e bactérias com o potencial mais elevado para garantir o sucesso do método. Os resultados alcançados até agora, afirma Inês Rocha, «são promissores, demonstrando vantagens na aplicação do método desenvolvido. Nos ensaios de avaliação do stress hídrico, as bactérias tiveram um efeito positivo no rendimento da cultura e os fungos foram responsáveis pelo aumento da absorção de nutrientes.»

Já nos testes de fertilização, em que as plantas inoculadas foram cultivadas com quantidades reduzidas de fertilizantes químicos, verificou-se um aumento de biomassa e de nutrientes. A próxima fase passa por avaliar o comportamento das plantas em cultivo ao ar livre, em campos agrícolas.

Fonte: Cristina Pinto, assessora de imprensa da UC

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