O sábado, 08 de dezembro, foi dia de atração especial na Comunidade do Curralinho dos Paulas, zona rural de Resende Costa/MG, e especial para a cultura resende-costense. O espetáculo musical “A gente canta Zumbi e outras histórias”, idealizado como Trabalho de Conclusão de Curso do aluno Sebastian Júnior, do Curso de Teatro da UFSJ, foi apresentado na comunidade, sabida e reconhecida como povoado remanescente de um quilombo. O trabalho expandiu horizontes e se tornou, posteriormente, projeto de extensão do Instituto Federal do Sudeste de Minas Gerais – Campus São João del-Rei.
A montagem, que mescla o espetáculo criado pelo Grupo Arena em 1964 com temas de luta, opressão e resistência muito atuais, apresentou ao espectador cenas que vão desde a prisão e sequestro do povo africano e chegada ao Brasil até a luta final entre palmarinos e Domingos Jorge Velho, bandeirante que destruiu o quilombo. Diante de uma plateia atenta, a luta contra a opressão foi cantada e encenada por diversos artistas que mostraram a representatividade possibilitada pelo acesso à Universidade Pública.
A diretora do espetáculo e professora do Instituto Federal, Rosana Machado, falou à plateia ao final da apresentação, que foi de grande emoção. “Montar o espetáculo foi um processo importante para nós, justamente por, de alguma forma, estarmos ocupando um espaço que há pouquíssimo tempo era negado aos negros. Então, estamos na Universidade e no Instituto Federal ocupando um espaço de poder”, disse ela.
Rosana também enfatizou a importância da apresentação in loco, considerando a história da comunidade e seu passado quilombola. “O desejo de levar este espetáculo para uma comunidade quilombola, para a comunidade quilombola reconhecida em nossa região, é justamente por estar nesse espaço de resistência. Nós somos a resistência dentro das instituições de ensino e eles são a resistência sobre a qual estamos falando. Se hoje nós temos pessoas negras em tantos lugares é porque comunidades, como o Curralinho dos Paulas, foram e são resistência. Existindo enquanto negros. Existindo enquanto comunidade quilombola. Estamos falando de resistência no nosso espetáculo teatral e conseguimos levá-lo para uma comunidade que é a própria resistência”, afirmou Rosana.
Emocionados pelo roteiro, atores e público foram às lágrimas tocados pela força do musical. O secretário de Cultura de Resende Costa, Lucas Lara, esteve presente e reiterou seu apreço por ações desse tipo e como são relevantes para a promoção cultural no município. “O que deve ser feito no Curralinho dos Paulas é muito mais do que valorização comunitária ou ações isoladas pelo dia da Consciência Negra. O que deve acontecer aqui é a preservação de uma identidade quilombola e a garantia de direitos enquanto sujeitos do quilombo. Começamos hoje junto ao IF e à UFSJ, mas é só o começo de muitas outras ações que ainda virão”, pontuou Lucas.
