Nas eleições municipais, o brasileiro comparece e vota mais num candidato do que nas eleições para presidente ou governador. Em outras palavras, há menos abstenções e votos brancos e nulos. O motivo é simples: os eleitores conhecem melhor os candidatos a prefeito ou vereador do que os candidatos a presidente da República ou governador ou deputado.
Mas o que é realmente preocupante é a alta proporção de eleitores desmotivados ou alienados. Podemos chamar de alienação eleitoral o percentual de abstenções, votos brancos e nulos em relação ao número total de eleitores de um município. Nas eleições de 2016, foram quase 18 mil eleitores são-joanenses que se alienaram – 27% do eleitorado de 66 mil pessoas. O segundo colocado naquelas eleições teve menos votos do que o número de eleitores que não se envolveu com a disputa democrática.
Qual é o motivo para a alienação do eleitor? Não se interessa por política e é obrigado a votar? Não confia nos políticos?
Os vereadores já estão nas ruas e redes sociais, apresentando-se a um eleitorado desconfiado dos políticos e temeroso da contaminação da pandemia que dissemina mais velozmente que as fake news. Imaginem a dificuldade do candidato a vereador na sua busca por uma vaga de representante do povo na Câmara Municipal. Nós temos que receber bem (e se possível aplaudir) os cidadãos que se candidatam a um cargo eletivo numa comunidade ou município. Uma autêntica democracia tem nas eleições livres seu requisito fundamental, embora não seja o único.
A batalha dos candidatos a prefeito e vereador tem que superar dois obstáculos iniciais em meio a uma pandemia. Primeiro, convencer o eleitor a sair de casa para votar. Segundo, não deixar que o eleitor anule seu voto ou vote em branco.
Apresento, a seguir, os números de São João del-Rei que demonstram o tamanho e a variedade de escolhas nesta eleição.
São 210 candidatos para as 13 vagas de vereadores, segundo o TSE. São 16 candidatos por vaga neste ano. Nas eleições de 2016, a disputa por vaga foi um pouco pior: 18 candidatos por vaga entre os 244 candidatos. É mais difícil do que entrar numa faculdade de medicina.
O que anima os candidatos é saber que o eleitorado promove a renovação da Câmara Municipal. Desde o ano 2000, a cada eleição, no mínimo 60% dos vereadores não são reeleitos. Em 2016, oito vereadores não se reelegeram.
A renovação da Câmara indica que a porta de entrada tem o tamanho da porta de saída. Existe uma grande oportunidade para o cidadão entrar na vida política como vereador. Mas também é difícil nela permanecer, pois a porta de saída tem estado escancarada. Lembrem-se, prezados candidatos, que sua vocação para a vida pública deve ser respaldada pelo trabalho eficaz de representante dos eleitores.
*Economista e professor aposentado da UFSJ