Lisboa investe em criatividade, inovação e tecnologia, em busca de novos empreendedores

Objetivo é aproveitar o ambiente favorável gerado pela Web Summit, que veio para ficar.


Economia

José Venâncio de Resende0

Cerca de 69 mil pessoas, de 159 países, participaram este ano, em Lisboa, da Web Summit 2018 – um dos maiores eventos de tecnologia e empreendendorismo do mundo – entre jovens empreendedores, investidores e visitantes. Foram 1200 oradores e 1500 investidores em conferências e workshops, com a cobertura de 2600 jornalistas. No encerramento, o coordenador da Web Summit, Paddy Cosgrave, revelou que estava de mudança da Irlanda para Lisboa, já que nos próximos dez anos o evento será realizado na capital portuguesa.

Não poderia haver ambiente mais propício para estimular a criatividade. Tanto assim que se buscam “alternativas que transformem Lisboa numa cidade inovadora, criativa e tecnológica, capaz de tirar proveito de dinâmicas como a que vai ser gerada pela presença da Web Summit nos próximos dez anos, de modo a posicionar-se a nível internacional”, disse ao jornal Expresso* Miguel Fontes, presidente da Startup Lisboa - incubadora de empresas.

A Startup Lisboa é a responsável pela gestão do Hub Criativo do Beato (HCB), cujas obras estão endamento na ala sul da antiga Manutenção Militar, zona até então esquecida na frente ribeirinha oriental da cidade. Em reportagem especial, assinada pelo jornalista Virgílio Azevedo, o Expresso conta em detalhes a história do projeto do HCB.

A intenção é que o HCB seja uma “nova centralidade” para completar o “Caminho do Oriente” que envolve o grande dinamismo do Parque das Nações (31 mil habitantes e 30 mil empregos) e a onda de renovação urbana entre o Terreiro do Paço e Santa Apolônia, explica Fontes. A ideia é que seja um polo de “forte atividade cultural e de realização de eventos”, assinala Fontes.

Empregos

O edifício do UCB, onde funcionaram as fábricas de bolachas e massas da antiga Manutenção Militar, será administrado pela empresa alemã Factory Lisbon. Dentro de um ano, estarão a trabalhar no local 700 pessoas em startups, empresas de média dimensão e multinacionais. A Mercedes-Benz.io, por exemplo, vai abrir neste prédio o seu maior centro de desenvolvimento digital na Europa, criando 200 empregos especializados.

Boa parte do edifício “se destina a startups, vai ter uma capacidade de resposta rápida às suas nevessidades e ser adaptável”, explica o gestor da Factory Lisbon, Jeremy Bamberg, também de mudança para a capital portuguesa. “Mas as grandes empresas tecnológicas gostam de estar perto das startups e por isso concebemos um espaço para as duas, que permita estarem em contacto permanente.”

As obras de adaptação do edifício já começaram, depois da limpeza do lixo das fábricas. O vasto edifício de 12.000 m2 terá o maior terraço da Europa do Sul, com 2000 m2 de área e o comprimento de dois campos de futebol, contou ao Expresso Bamberg. “Será ajardinado e estará aberto ao público, tal como 40% do próprio edifício, porque queremos estar ligados à comunidade local e à cidade.”

O HCB vai receber 3000 pessoas e estará na intersecção entre a Lisboa “mais virada para o lazer e outra mais virada para o trabalho”, tendo assim “uma lógica de comunidade”, diz Miguel Fontes. O HCB vai ocupar a antiga fábrica de pão e promover a criação de 800 empregos, acrescenta.

Ele recorda que “a zona do Beato já estava a sofrer uma apropriação para novos usos, com a abertura pontual de galerias de arte, ateliês de artistas, indústrias criativas, fábricas de cerveja artesanal, bares e restaurantes, aproveitando os preços mais baratos dos espaços comerciais”. Agora, buscam-se em larga escala “alternativas que transformem Lisboa numa cidade inovadora, criativa e tecnológica, capaz de tirar proveito de dinâmicas como a que vai ser gerada pela presença da Web Summit nos próximos dez anos, de modo a posicionar-se a nível internacional”.

Fontes aponta três eixos fundamentais para o HCB: “Empreendedorismo, indústrias criativas – na arquitetura, design, som, jogos, marketing digital – e grandes empresas com ambiente de inovação aberta”. O objetivo é transformar o espaço da antiga Manutenção Militar “num elemento vivo para a comunidade local, com um conjunto de serviços e de preocupações fortes de sustentabilidade ambiental a todos os níveis”.

O hub terá uma área inicial de 35 mil m2, diz José Mota Leal, gestor de projeto do HCB, “e estima-se que depois da reabilitação total, através do investimento público em infraestruturas e privado na adaptação de 19 edifícios, venha a ter uma área de 50 mil m2”. Mas a Câmara Municipal de Lisboa já negocia com o Exército e o Tesouro para estender o HCB à ala norte da antiga Manutenção Militar. São mais 100 mil m2.

Startup Lisboa**

A Startup Lisboa foi inaugurada em 2012, com a missão de fomentar o desenvolvimento da iniciativa empresarial e a criação de empregos, através da combinação de infraestruturas e serviços de apoio especializados - projetos inovadores e com potencial de internacionalização. A sua implementação contribuiu para posicionar Lisboa como uma das cidades mais avançadas na promoção do empreendedorismo.

É atualmente constituída pela Startup Lisboa Tech, uma incubadora de empresas tecnológicas, e pela Startup Lisboa Commerce, uma incubadora de empresas especializada em acolher projetos nas áreas de comércio, serviços e turismo. Em 2015, foi inaugurado um terceiro espaço de incubação de empresas e aceleração, situado igualmente na Baixa da cidade.

São modalidades de incubação: programa de incubação - consultoria especializada, acompanhamento por mentores, disponibilização de espaço adequado, desde 10m2 até 40m2 equipado com mobiliário, telefone, limpeza, segurança, ar condicionado e internet de banda larga; e programa de pré incubação - desenvolvimento do plano de negócios através de tutorias com profissionais especializados, formação específica, eventos de networking e atividades complementares.

Os serviços de apoio especializado oferecidos são: estrutura de apoio ao desenvolvimento de empresas - mentoring; encontros regulares com especialistas em desenvolvimento de jovens empresas; e eventos temáticos dedicados aos problemas das jovens empresas.

Em Julho de 2015, na antiga residência de estudantes da Rua do Comércio, abriu a “Casa da Startup Lisboa”. Um espaço de acolhimento para jovens empreendedores que venham a Lisboa desenvolver ou apresentar os seus projetos, frequentar formações e encontrar patrocinadores, entre outras atividades. A “Casa” é dirigida a empreendedores que não residam em Lisboa e precisem de ficar temporariamente na capital para desenvolver as ideias ou contatos.

A Startup Lisboa gere ainda o Fundo Startup Lisboa Loans, com financiamento até 45.000 euros, que se destina a empresas já existentes, com três ou mais exercícios econômicos completos (financiamento até 100% do investimento), ou a novas empresas ou ainda empresas existentes mas com menos de três exercícios econômicos completos (financiamento até 85% do investimento).

*O bairro mais criativo de Lisboa – Expresso, 10/11/2018

**Startup Lisboa - https://www.startuplisboa.com/

 

 

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