Livro “Meu Santo Protetor” traz santos para todos os tipos de males


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Brandão, ilustração com certa dose de humor


As doenças da pele são aquelas que tem a maior quantidade de guardiães (19 santos ao todo) no livro “Meu Santo Protetor”, do médico Geraldo Barroso de Carvalho. Será que é por que ele é especialsita em dermatologia? Mas Santa Edwiges, protetora dos endivididados e dos aflitos, também se encontra lá, em meio às 270 páginas do livro, com direito inclusive a oração e conselho aos devotos.
 
No caso das doenças da pele, há santos protetores contra úlceras, arranhões, queimaduras, eczemas, furúnculos, verrugas, picadas de abelha etc. Mas, “curiosamente, um mesmo santo costuma oferecer proteção contra várias doenças, das mais desencontradas, como é o caso de Santa Aldegunda, que protege contra o câncer, contra a morte súbita e contra as doenças infantis”, diz o autor na introdução do livro.  
   
O livro apresenta um resumo da vida de 118 santos e descrição sucinta (ou explicação) da doença de cuja proteção cada um se encarrega. Em seguida, oferece uma oração em quadras de sete sílabas e, por fim, o autor dá um conselho aos devotos. O relato sobre a doença, a oração e o conselho trazem “pequena dose de irreverência e bom-humor, justificada pelo caráter supersticioso e o aspecto idólatra que muitos devotos imprimiram ao culto”. A oração é uma pequena poesia na qual o autor tenta reler as formas como o povo entende a sua crença e como essa crença pode servir, de forma prática, para curar as doenças.  
 
Como o autor chegou a esse número de santos? Seria impossível retratar todos os santos, diz o artista gráfico Edson Brandão, autor do projeto gráfico e ilustrador do livro. “Até porque, por incrível que pareça, alguns deles sequer têm iconografia. E de alguns até duvida-se da existência deles. Eles são tão arraigados na cultura popular europeia e brasileira que não se sabe até que ponto foram criados por ela ou fruto da vontade de que eles existissem. Então, de alguns dos santos nós não conseguimos achar nem realmente imagens que os retratassem.”
 
Aqui começou o desafio para Brandão. “Então, nós partimos realmente para criar alguma coisa. Como os clássicos são sempre retratados e apresentados, eu optei por manter a iconografia tradicional, mas sempre com uma pequena brincadeirinha. Em cada ícone desses há uma leve ironia ou alguma coisa que possa remeter a esse sentido também brincalhão que o dr. Geraldo tenta imprimir em cada verbete.” A ideia foi buscar “a leveza e até resgatar essa ingenuidade, digamos assim, de como é estabelecida a relação entre as pessoas e os santos, sem necessariamente achar que isso é uma coisa menor ou que não deva ser levada a sério”.
 
Brandão conta que o autor submeteu o trabalho a religiosos amigos, que acharam que “estava no tom certo”. “E a partir daí eu tive a tranquilidade para partir para o desenho.” Ele usou toda a sua experiência no trabalho com bico de pena “numa coisa mais clássica, mais profunda, digamos mais séria. Mas eu tenho também vivência com desenho humorístico, porque durante mais ou menos 10 anos (final dos anos 1980) eu colaborei com o extinto jornal Pasquim, onde trabalhava exatamente com caricaturas, cartuns, charges”.
 
Medicina e cultura popular – O livro seria um capítulo de uma obra maior na qual Geraldo Carvalho está trabalhando, que aborda a história da medicina e das interferências da cultura popular, além da própria formação da medicina como se entende hoje, revela Brandão. “Então, ele caiu nessa questão da devoção, da capacidade da população em invocar os santos para obter determinadas coisas. E o trabalho foi tão extenso que ele percebeu que o mais sensato seria fazer um livro especificamente sobre esse assunto e deixar o projeto maior seguindo o seu curso normal.”
A decisão de escrever o livro dos santos levou então à necessidade das ilustrações, conta Brandão. “E foi aí que eu entrei na história. O dr. Geraldo me chamou, nós conversamos muito sobre o projeto gráfico e os desenhos para dar uma cara ao livro”.
 
Na medida em que foi lendo o material, Brandão percebeu que teria certa dificuldade. “Ao mesmo tempo em que colocava a vida dos santos e a própria função curativa deles como uma coisa cem por cento séria, sem de forma nenhuma desprezar essa cultura popular, a coisa mais difícil foi achar o tom certo tanto do texto quanto das ilustrações.”
 
O resultado é que “o livro é um bate-bola legal entre os desenhos, que têm uma certa vida própria, e o texto em si; ou seja, não estão dissociados obviamente dos textos, mas têm uma função própria”.
 
O médico Geraldo Carvalho é natural de Cipotânea, considerada cidade de padres e bispos, e reside atualmente em Barbacena, cidade natal de Edson Brandão. 
 
O livro pode ser adquirido, mediante encomenda, na livraria Acanto Cultural, Rua Dr. Balbino da Cunha, 19, São João del-Rei. O telefone de contato é (32) 3373-2858.