Livro narra a saga dos Laras, da Espanha ao Campo das Vertentes


Notícia

José Venâncio de Resende0

fotoMaria José Lara, autora dos dois volumes que contam a saga da família Lara (foto arquivo pessoal)

O livro “Do Campo das Estrelas ao Campo das Vertentes”, de Maria José Lara de Bretas Pereira, conta a saga dos Laras, desde “a Espanha medieval, passando pelo Brasil Colonial, os primórdios da Capitania das Minas Gerais, durante e depois do Ciclo do Ouro e, finalmente, à cidade de São Tiago”. A obra em dois volumes contou com o apoio cultural do Sicoob Credivertentes.

Durante uma viagem à Espanha, em 2006, Maria José Lara deparou-se, numa feira de livros, com um título inusitado: A Lenda dos Sete Infantes de Lara. “A história trágica de sete irmãos, filhos de um nobre castelhano chamado D. Gonzalo Gustios de Lara, decapitados em batalha, pelas tropas do general mouro Almanzor, por um ato de traição de um tio dos jovens, chamado Ruy Velázquez, causou-me profunda impressão.”

No dia seguinte, na cidade de Córdoba, antiga sede do Califado Árabe de Al-Andalus (atual Andaluzia), que dominou a Espanha por 700 anos, Maria José Lara caminhava pelas pitorescas ruelas do Bairro Judeu – La Juderia – quando não conseguiu evitar um grito de espanto. No portal de uma casa em ruínas, havia uma placa com os seguintes dizeres: “Aqui foram decapitados os Sete Infantes de Lara”.

A casa estava trancada, em evidente estado de deterioração e, pelas grades do velhíssimo portão enferrujado, não se vislumbrava quase nada do seu interior, conta a autora. “Uma dúvida passou instantaneamente pela minha cabeça: se os filhos do conde de Lara foram mortos no mesmo dia, de quem descende a numerosa família Lara que se espalhou por toda a Península Ibérica e suas colônias?

Impressionada com a coincidência da trajetória dos Laras com a história dos lugares onde seus membros habitaram, voltou à Espanha, em 2016 e em 2019, “com o objetivo específico de amplia rminhas pesquisas e conferir os dados que já possuía. Percorri praticamente todo o antigo Alfoz de Lara, a região hoje chamada de “Ayuntamiento de Lara” (Terra de Lara), na Província de Burgos, considerada o berço da família, e outras localidades relacionadas com a história dessa mesma família. Visitei cartórios, bibliotecas, arquivos públicos, institutos de pesquisa histórica e, principalmente, os arquivos eclesiásticos localizados nas Cúrias Diocesanas. Durante os últimos quatro anos,debrucei-me sobre uma infinidade de livros e dados históricos e genealógicos”.

 

Dois volumes

A obra é dividida em dois volumes: o primeiro desenrola-se na Espanha Medieval e o segundo narra as aventuras dos Laras no Brasil.

“O primeiro volume aborda as origens da poderosa ‘Casa de Lara’ na Península Ibérica, do século VIII, coincidente com a decadência dos reis visigodos e início da ‘Reconquista Cristã’. Todos os reis cristãos e todos os Laras descendem de D. Pelágio, o legendário rei asturian que venceu a primeira batalha contra os invasores mouros e mobilizou a Península durante 700 anos.”

Os Laras protagonizaram papéis importantes durante todo esse período, observa Maria José. No século X, tornaram-se os primeiros condes de Castela. Com a transformação do condado em reino, alternaram parceria e confronto com a monarquia castelhana, chegando ao Século XIV com a família praticamente destituída de privilégios e títulos de nobreza.

O fim da Era Medieval foi uma combinação catastrófica de eventos, como a peste bubônica e alterações climáticas significativas que provocaram modificações profundas na economia e no sistema social, relata a autora. “A profunda mudança no sistema social, político e econômico coincidiu com o final da Reconquista Cristã, a expulsão dos mouros e a perseguição aos judeus provocada pela criação do Tribunal da Inquisição. O auge dessas mudanças aconteceu no final do século XV, com a descoberta do Novo Mundo, posteriormente batizado de América. Muitos portugueses e espanhóis partiram paras as novas colônias em busca de fortuna.”

Foi nesse contexto, conta Maria José, que “o castelhano D. Diego Ordoñez de Lara deixou sua cidade natal, Zamora, e embarcou para o Brasil em 1593, na vigência da União Ibérica, quando o rei espanhol Felipe II encampou Portugal sob seus domínios, por ser o parente mais próximo do falecido rei português, D. Sebastião, desaparecido na famosa Batalha de Alcácer-Quibir”.

 

A caminho de São Tiago

O segundo volume narra a saga dos Laras no Brasil. Os descendentes de D. Diego, estabelecidos nas vilas de São Paulo e Santana de Parnaíba, nas margens do rio Tietê – que veio a se tornar o reduto dos bandeirantes paulistas -, uniram-se aos descendentes dos colonos portugueses e nativos, de acordo com a narrativa de Maria José. “Alguns desses descendentes receberam sesmarias e vieram para a região das Minas Gerais, depois do final do Ciclo do Ouro. Tornaram-se fazendeiros e enriqueceram, principalmente a partir do século XIX, quando a família real portuguesa se mudou para o Rio de Janeiro e a região mineira passou a ser seu principal celeiro.”

As fazendas proliferaram-se nas margens de novas estradas. “Vilas e povoados foram surgindo ao longo desses caminhos. No rastro das antigas trilhas por onde passaram os bandeirantes paulistas, alguns mineradores espanhóis ergueram uma ermida em honra do santo padroeiro de sua pátria e, em sua homenagem, deram ao povoado que surgiu em volta da igrejinha, o nome do apóstolo São Tiago Maior.”

Ali, alguns membros da família Lara encerraram a sua peregrinação, conta Maria José. “Plantaram suas raízes, geraram novas vidas e criaram vários ramos familiares espalhados por toda Minas Gerais. Assim como seus ancestrais em outros tempos, enfrentaram os desafios com bravura. Viram o país tornar-se independente, presenciaram a abolição da escravatura, a extinção do Império e a Proclamação da República. Viram suas fazendas se tornarem improdutivas pela falta de mão de obra e sofreram com a necessidade de partir para as vilas e cidades em busca de estudo para os filhos e de melhores condições de vida para todos. Uns poucos conseguiram manter seu patrimônio, muitos empobreceram e passaram por enormes dificuldades.”

“As perspectivas do século XX levaram alguns de volta para São Paulo, de onde partiram no século XVII. As cidades de maior porte das redondezas igualmente atraíram alguns membros da família que bateram asas para estudar, trabalhar e vencer na vida. Alguns permaneceram nas antigas fazendas, honrando a profissão dos pais e avós. Outros aderiram às artes do seu tempo, segundo a própria vocação e talento.”

Os Laras que povoaram o Campo das Vertentes deram origem aos nove ramos da família nestar egião: Os Rodrigues Lara (Resende Costa, Bom Sucesso e São Tiago); os Laras Resende (Resende Costa, Belo Vale e Entre Rios de Minas); os Góes e Lara e os Ribeiro da Silva (São Gonçalo do Brumado, Resende Costa e Ritápolis); os Pintos Laras (Tiradentes, Coronel Xavier Chaves, Resende Costa, Ritápolis, Piracema, Carmópolis e Passa Tempo); os Gonçalves de Lara e Góes (Tiradentes, Lagoa Dourada e Coronel Xavier Chaves); os Mendonças Lara (Tiradentes, Coronel Xavier Chaves - Fazenda do Mosquito - São Tiago); os Gonçalves de Faria Lara (Resende Costa, Belo Horizonte - Venda Nova -, Santa Luzia, Betim, Esmeraldas e Pará de Minas); os Góes e Lara e os Gonçalves de Melo (Tiradentes, Coronel Xavier Chaves, Resende Costa, Bom Sucesso e São Tiago); e os Gonçalves Lara (São Tiago).

Essa história dá sentido ao surgimento do circuito turístico “Caminhos de São Tiago”, cuja infraestrutura vem sendo organizada pelos municípios da região, como forma de incrementar o turismo e a economia locais, explica Maria José. “E este livro, que inicialmente pretendia acompanhar a saga de uma família que se estabeleceu na região, se transformou em um testemunho da história da colonização e da cultura brasileiras, especialmente das estratégias de conquista e povoamento no Campo das Vertentes de Minas Gerais.”

 

Sobre a autora

Maria José Lara de Bretas Pereira nasceu em São Tiago (MG), em 1941, primeira dos doze filhos de Geraldo Lara e Maria da Glória Silva Lara. É casada com o arquiteto Luiz Celso Bretas Pereira e tem dois filhos: Adriana e Luiz Mauro; e dois netos: Arthur e Victor. Atualmente, reside em Belo Horizonte.

É graduada em Pedagogia e Administração pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG). É mestre em Administração pela mesma Universidade e fez vários cursos de especialização na sua área profissional, no Brasil e no exterior.

Bancária, funcionária pública, professora universitária, empresária e consultora organizacional, foi diretora do Instituto de Administração Pública (órgão da Secretaria de Planejamento e Gestão do Estado de Minas Gerais) e da Bretas Pereira Consultores. Especialista em Ciências do Comportamento aplicadas à Administração, desenvolveu trabalhos no Brasil e em vários outros países.

É autora de vários livros e de mais de centena de artigos. Entre os livros, encontram-se “Mudanças nas Instituições” (Editora Nobel, São Paulo,1988); “Faces da Decisão” (Editora Makron Books, São Paulo, 1997, 1ª Edição, e Editora Livro Técnico, Rio de Janeiro, 2009, 2ª Edição; e “Na Cova dos Leões” (Editora Makron Books, São Paulo, 2999, 1ª Edição, e Oficina de Arte &Prosa, em 2002, 2ª Edição). Ocupa a cadeira número 50 da Academia Brasileira da Ciência de Administração, sediada no Rio de Janeiro.

Recentemente, estreou outra faceta literária, com histórias de família: “A Família de José Augusto da Silva” (Editora Ophicina Arte &Prosa, 2009); “O Escrivão” (Editora B, Belo Horizonte, 2015); “Um Tabelião de Muitos Ofícios” (Editora BP Consult, Belo Horizonte, 2015); e agora a Saga da Família Lara.

O livro “Do Campo das Estrelas ao Campo das Vertentes” pode ser adquirido no Solara Hotel de São João del-Rei e nas agências do Sicoob Credivertentes.

Deixe um comentário

Faça o login e deixe seu comentário