Mais de dois séculos do município fluminense de Resende


Cultura

José Venâncio de Resende0

Ponte, um dos monumentos emblemáticos de Resende (fonte: Prefeitura Municipal).

Resende, no estado do Rio de Janeiro, completou 220 anos no dia 29 de setembro, data em que foi instalada, em 1801, a vila por ato do vice-rei e 2º conde de Resende, general José Luís de Castro. A então freguesia (1756) Nossa Senhora da Conceição do Campo Alegre da Paraíba Nova passou, assim, a chamar Vila de Resende, em homenagem ao conde de Resende. Na época, tinha cerca de 4.000 habitantes e foram eleitos então os primeiros vereadores, de acordo com o modelo português, ou seja, o vereador mais votado tornava-se o presidente da Câmara Municipal (equivalente a prefeito no Brasil). 

O 2º conde de Resende era filho de D. Antônio de Castro, almirante de Portugal, que em 10 de junho de 1754 recebeu o título de 1º conde de Resende. O almirante era bisavô de Emília de Castro Pamplona, esposa do escritor Eça de Queirós. O livro Cidades e Resende (Chiado Books) conta a história da família Castro e sua relação com os Resendes. Um dos descendentes de Egas Moniz (o primeiro senhor da “Honra de Resende”), Vasco Martins de Resende, casou-se com Maria de Castro mas não deixou filhos. “Com a sua morte, em 1477, terminou a linhagem, “extinguiu-se completamente a geração varonil dos Resendes”. No seu testamento, feito no Paço de Resende, Vasco passou a honra para a viúva e seus descendentes. “Muito mais tarde, D. José I concederia à família (Castro) o título de conde de Resende.” 

Por ironia do destino, um descendente dos Castros, o 2º conde de Resende, “era o vice-rei do Brasil na época em que foram julgados e condenados os inconfidentes mineiros liderados por Tiradentes, entre eles os José de Resende Costa (pai e filho)”. A sentença foi executada em 29 de maio de 1792, com os Resende Costa sendo degredados para a África. “A execução da sentença coube ao nosso conterrâneo e vice-rei (José Luís de Castro, 2º conde de Resende)”, resume o padre e escritor Joaquim Correia Duarte, natural de Resende (Portugal), em artigo publicado no livro Cidades e Resendes.

O município

Os primeiros habitantes de Resende (RJ), às margens do Rio Paraíba, eram os índios Puris, termo que em português quer dizer “gente tímida e mansa”. Em 1744, o coronel paulista Simão da Cunha Gago obteve licença para desbravar a região à procura de ouro e pedras preciosas. As terras do atual município de Resende tornaram-se conhecidas no Século XVIII, quando a febre do ouro e dos diamantes possibilitou o desbravamento dos atuais estados do Rio, de São Paulo e de Minas Gerais.

Nos anos 1840, o café já se tornara a grande riqueza da Vila de Resende. Os lavradores passaram a fazendeiros e começaram a construir seus sobrados. O primeiro deles foi o de D. Benedita Gonçalves Martins, conhecida como a Rainha do Café, na Praça da Matriz. No dia 13 de julho de 1848, em pleno desenvolvimento por conta do café, Resende é elevada a município, com uma população de cerca de 19 mil pessoas, das quais 8.663 escravos. 

Com a proibição do tráfico de escravos (1850) e o encarecimento da mão de obra, acrescidos da queda na produtividade das terras, no final da década de 1870, vários cafeicultores transferiram-se para o Oeste Paulista (região de Ribeirão Preto), em busca de terras férteis e baratas. Por sua vez, mineiros foram estabelecer-se em Resende, atraídos pelos baixos preços das terras dos cafezais abandonados, onde passaram a criar gado. Era o início da pecuária, atividade econômica que viria a substituir o café. No início do século XX, Resende já representava um terço da produção leiteira do estado do Rio de Janeiro. 

Os trilhos da Estrada de Ferro D. Pedro II chegaram a Resende em 1873, acabando, em pouco tempo, com a navegação no Rio Paraíba. Até então, a navegação era importante para o transporte do café. Mais de 60 barcas levavam o café até Barra do Piraí, onde era feita a baldeação para os trens da Estrada de Ferro D. Pedro II. 

O primeiro prefeito foi escolhido em 1912, época em que o tamanho da Vila de Resende ia da fronteira de São Paulo até pouco antes da Serra das Araras (na Serra do Mar entre os municípios de Piraí e Paracambi), além de fazer limite com Angra dos Reis e com Minas Gerais. Com a criação de outras vilas, Resende foi perdendo grande parte de seu território. 

Na primeira metade do século XX, indústrias começaram a ser instaladas em Resende e, em 1940, a Academia Militar das Agulhas Negras foi implantada na cidade. Atualmente, um amplo parque industrial encontra-se em desenvolvimento, abrigando importantes unidades fabris, com destaque para os setores metal-mecânico e químico-farmacêutico. Município bem localizado, com boa infraestrutura e vocação industrial, é considerado um dos que mais crescem no Estado do Rio, atraindo investidores e empresas pelas possibilidades que oferece. 

Patrimônio histórico

O Centro Histórico de Resende apresenta prédios antigos, sobrados e casarões, testemunhas de uma época de riquezas e ostentação. São 63 imóveis tombados pelo Patrimônio Histórico Municipal.

Entre eles, a Caixa d´água (construída em 1876); o prédio da Câmara Municipal (erguido a partir de 1926), atualmente sede do projeto da Câmara Cultural e da Academia Resendense de História; Estação Ferroviária (construída no final do século XIX e remodelada em 1937); Fazenda do Castelo (antiga fazenda de café do período colonial, 26 cômodos, escadarias em mármore de carrara e azulejos portugueses, construído em 1835); Igreja Nosso Senhor dos Passos (construída em 1827; Igreja Matriz Nossa Senhora da Conceição (construída em 1812); Igreja Nossa Senhora do Rosário (construída em 1825-1827); Mercado Municipal (Espaço Z), construído no início do século XX; Palacete (construído no século XIX, tem grande valor arquitetónico); Ponte Nilo Peçanha (Ponte Velha), inaugurada em 1905, em estrutura metálica importada da Bélgica, pelo então presidente Nilo Peçanha); Sobrado de Dona Maria Benedita (construído em 1840 por um dos maiores produtores de café da região).

Fontes:

“Cidades e Resendes” -  https://www.chiadoeditora.com/livraria/cidades-e-resendes-uma-viagem-por-portugal-continental-arquipelago-dos-acores-minas-gerais-e-cabo-verde

Prefeitura de Resende - https://resende.rj.gov.br

 

 

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