O glorioso Expedicionário Futebol Clube


Esporte

Alair Coêlho de Resende*2

Expedicionário Sport Club, década de 60

No início do século 20, tal como ocorreu em toda Minas Gerais, chegou ao Arraial da Lage um novo esporte, o então chamado jogo da bola; logo depois se popularizou com o nome de foot-ball e o povo logo se pôs a chamá-lo de futebol. Nos anos 20 já tínhamos um bom time desse esporte em nossa terra e seus grandes astros eram três irmãos, filhos de nosso Tio Joaquim de Melo, coletor estadual: Didinho de Melo, Totonho de Melo e Zé de Melo. Didinho era o melhor dos três. Outros três irmãos, chamados irmãos Tobias, cujos nomes não sabemos, também faziam parte do time. Com esses craques, mais o Moacyr do Zé Braz, o Levindo do Braz e outros, dos quais não se guardou os nomes, esse time foi o terror da região. Moacyr do Zé Braz depois foi para o Rio de Janeiro e lá também se sobressaiu, como goalkepper. Há quem diga que foi o melhor jogador de futebol nascido em Resende Costa.

O primeiro time de futebol que existiu em Resende Costa chamava-se Resendino Sport Club e seu campo era no Pau-de-Canela, em terrenos do Senhor Francisco Alves, o conhecido Chiquinho Alves. Nesse time se destacavam os seguintes jogadores: Prudêncio Gomes, Elpídio Gomes, Didinho de Melo - o craque do time -, seus irmãos Totonho e Zé de Melo, refinado jogador, Moacir do Zé Braz, os famosos irmãos Tobias e Levindo do Braz. Esse time foi tido como o melhor de toda a região, sendo muito respeitado e temido até mesmo em São João del-Rei.

O Resendino foi fundado em 1920 e, embora tivesse uma vida intermitente, viveu até o final da década, quando foi fundado o Resende Costa Sport Club.

Numa rápida passagem pelo mundo da bola nós encontramos em Resende Costa três times, nos fins dos anos vinte e início dos anos trinta. Eram o Resende Costa Sport Club, que ocupava o campo do Expedicionário, o Yolanda Futebol Club, cujo campo, no alto, à direita, a aproximadamente uns quinhentos metros do Cruzeiro do Beramuro, ao lado de um barranco ou erosão, onde hoje há uma plantação de eucaliptos e o Cruzeiro Futebol Club, que tinha seu campo à direita de quem chega ao Cruzeiro do Pau-de-Canela, nos terrenos do senhor Chiquinho Alves.

Houve nesta época um torneio cuja partida final foi disputada pelo Resende Costa e o Yolanda, este composto apenas por jovens afro-descendentes. Haviam estabelecido que os torcedores do time perdedor passariam seis meses sem ter direito a andar pelos passeios (calçadas) da Vila. O Resende Costa venceu por 3x1 e os adversários, educadamente, respeitaram o castigo.

Finalmente, depois de altos e baixos na prática do futebol, tivemos a oportunidade de vermos no Resende Costa uma formação quase que bifamiliar: jogavam no time quatro filhos do Sobico (Olinto Argamim de Freitas) e os irmãos Salomão, filhos do senhor Miguel Turco: o Sossó, um dos maiores goleiros de Minas Gerais, Simão e Alberto. Os filhos do Sobico eram o Iraci - a nosso ver o melhor jogador de todos os tempos em Resende Costa -, o Totonho, o Ari e o Hélio. Com o Zé Barbosa, Quito Peluzzi, Juquinha de Souza e Tote do Chico Canela, estava completo o imbatível esquadrão, como gostávamos de dizer.

Terminada a II Guerra Mundial, o Totonho do Sobico, que fora sargento na guerra, funda, em maio de 1946, o Expedicionário Futebol Clube (“Expedicionário”, assim mesmo, no singular), cujo escudo era uma “cobra fumando”, emblema da Força Expedicionária Brasileira (FEB). O uniforme era uma camisa tricolor, em azul, vermelho e branco, em estreitas faixas verticais e um calção branco. Esse time foi o de mais longa vida entre nós, eis que ainda existe.

Uma curiosidade: na esquina de “Ao Nacional”, rica loja de propriedade do capitão Ozório de Mendonça Chaves, onde hoje está a Padaria Sobrado, havia uma vitrine de exposição de mercadorias e, ao seu lado, permanentemente exposta, uma placa de madeira com o escudo do Expedicionário contendo o noticiário do clube, redigido dia-a-dia.

O primeiro jogo do Expedicionário foi contra um time de São João del-Rei, tendo o Expedicionário vencido por 6x1. A formação do Expedicionário nessa partida foi a seguinte: Geraldo Jaguaré, Ari Freitas e Basílio (trio final); Zé Tiana, Totonho do Sobico e Geraldinho Jacaré (trio médio) e no ataque, Geraldo Chaves, Zé Campos, Godô do Elizeu, Zé Antônio Rocha Coelho e Aderson (o “São” do Chico Canela).

É de se destacar que tivemos alguns craques famosos como o foram Sossó, Iraci, Totonho do Sobico e Betinho Peluzzi, dentre outros. Betinho Peluzzi saiu do Expedicionário, onde atuava no time reserva e logo foi campeão pelo América mineiro, em 1948, tendo sido também titular da Seleção de Minas Gerais, na época em que havia um Campeonato Brasileiro disputado pelas seleções dos estados. Betinho ficou famoso com o nome de Helbert, seu nome de batismo e de registro. Foi o primeiro resende-costense a se profissionalizar como jogador de futebol. E que jogador!

Outra curiosidade digna de nota é que, quando da fundação do Expedicionário, havia entre nós, os fundadores, um jovem jogador, José Fidelis dos Santos, que, embora resende-costense, fora criado em Prados por um tio médico, que se mudara de Resende Costa em razão de desgostos políticos. José Fidelis, cuja mãe continuou morando em nossa cidade, trouxe de Prados, a nosso pedido, peças de uma bola de futebol, de tamanho oficial e nós, utilizando uma velha câmara de ar, já remendada e muito velha, montamos uma bola que, de par com uma outra, já gasta, do Totonho do Sobico, foi a primeira bola do Expedicionário e também a primeira montada em Resende Costa. Nós a montamos na Sapataria do Simão Salomão, onde trabalhávamos como sapateiro.

As bolas anteriormente usadas eram as chamadas bolas de capota ou capotão. Eram constituídas de uma câmara de ar, de bico, sem válvulas. Eram enchidas de ar com uma bomba de recalque, rudimentar, seu bico amarrado e introduzido na capota, a qual era fechada por cadarços, como se fosse um sapato. Nunca eram rigorosamente esféricas.

Depois, na década de quarenta, essas bolas de capota deram vez às chamadas bolas argentinas, de válvulas, iguais àquela que fizemos. Esta, por falta de uma forma própria e pela desigual densidade das peças de couro, com poucos dias de uso deformou-se. Começaram então dizer que a “bola do Alair” estava com dor de dente. Aí havia uma sutil referência também ao fato de que éramos namorados da Socorro (depois nossa esposa), filha de um dentista, o Sobico.

Em seus primeiros anos de vida o Expedicionário nunca teve uma diretoria, pelo menos até a transferência para Belo Horizonte do Totonho do Sobico, nosso querido Antônio Argamim de Freitas, seu fundador e líder. Algumas pessoas, inconformadas com a “ditadura” do Totonho do Sobico, tentaram, certa vez, constituir uma diretoria para o Expedicionário, tirando-o das competentes mãos do Totonho. Reuniram-se num cômodo de comércio que havia na casa do José Procópio da Silva (hoje casa do Boanerges) e em meio à reunião, quando ia começar a votação, nós dissemos, bem alto, em nome de outros membros do Expedicionário: “nós queremos a ditadura do Totonho do Sobico.” A reunião acabou ali e o Expedicionário continuou sua vida vitoriosa, até hoje, embora agora o chamem de “Expedicionários”, num erro de “número” (singular/plural) e sem respeito ao uniforme de origem.

Dos fundadores do Expedicionário Futebol Clube, só restam vivos José Salatiel dos Reis, o Zé Tiana, Zé Campos e este escriba.

 

*Alair Coêlho é resende-costense, advogado e escritor. Autor de“Casos e Causos do Vovô Totonho da Chapada”.

Comentários

  • Author

    Meu pai jogou neste time, na década de 60. Tenho foto.
    Inclusive gostaria de mais informações a respeito.


  • Author

    Poderia nos enviar fotos da época do seu jogando no Expedicionários Mário? Se possível, pfv: [email protected] obrigado.


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