Padre Joaquim Carlos de Resende Alvim completou 140 anos de falecimento

Solene Missa de “Requiem”, celebrada na igreja Matriz de Resende Costa, fez memória do primeiro pároco da Paróquia de Nossa Senhora da Penha de França


Religião

André Eustáquio0

fotoQuadro com a foto do padre Joaquim Carlos foi exposto no presbitério da igreja Matriz de Nossa Senhora da Penha (Foto Edésio Lara)

No dia 13 de novembro de 1879, a pequena Lage  atual Resende Costa – se cobriu de luto. Aos 82 anos de idade, falecia o vigário Joaquim Carlos de Resende Alvim (1797-1879), primeiro pároco da Paróquia de Nossa Senhora da Penha de França da Lage, criada em 3 de abril de 1840. Cento e quarenta anos após a morte do padre Joaquim Carlos, a Paróquia de Nossa Senhora da Penha de França celebrou uma solene Missa de Requiem, no último dia 15 de novembro, em memória do vigário que dedicou longos anos do seu sacerdócio ao Arraial da Lage e à paróquia local.

Conforme relata o escritor resende-costense José Maria da Conceição Chaves, o Juca Chaves, em seu livro “Memórias do Antigo Arraial de Nossa Senhora da Penha de França da Lage”, publicado em 2014 pela amiRCo (Associação de Amigos da Cultura de Resende Costa), padre Joaquim Carlos de Resende Alvim nasceu na Fazenda dos Campos Gerais, possivelmente no ano de 1797. Ele era filho legítimo do antigo escrivão do juízo da Provedoria da Vila de São João del-Rei, capitão-mor Gervásio Pereira Alvim, português natural de Coimbra, e de dona Francisca Cândida de Resende, irmã do conselheiro José de Resende Costa, o filho. Portanto, o padre Joaquim Carlos era neto do capitão e inconfidente José de Resende Costa, proprietário da Fazenda dos Campos Gerais.

 

Primeiro vigário

Em 1840, o Curato da Lage foi elevado à condição de Paróquia e o vigário Joaquim Carlos, que na ocasião residia na Fazenda dos Campos Gerais e era o responsável por ministrar os ofícios litúrgicos na capela da Lage, foi apresentado ao Governo Provincial como vigário colado em 7 de novembro de 1840.

Lageano de nascimento, padre Joaquim Carlos deixou a Fazenda dos Campos Gerais ainda adolescente para se ingressar no renomado Seminário de Mariana, onde realizou seus estudos preparatórios para o sacerdócio. No dia 24 de maio de 1823, ele foi ordenado sacerdote pelo então bispo de Mariana, dom frei José da Santíssima Trindade. “Desde cedo se lhes manifestaram os pendores de uma legítima vocação”, escreveu Juca Chaves.

De acordo com relatos históricos, padre Joaquim cumpriu praticamente todo seu ministério sacerdotal na Paróquia de Nossa Senhora da Penha de França da Lage. “Sempre residiu o vigário Joaquim Carlos nos Campos Gerais, ao lado daqueles entes queridos que lhe deram o ser e por quem nutria extremado afeto e, após o trânsito deles, continuou a viver ali, de onde se afastava por exigência do ministério, para celebrar, na Lage, o Santo Sacrifício da Missa e demais atos do culto, nos dias de preceito e festas”, conta Juca Chaves. Ainda segundo o escritor resende-costense, relatos de pessoas da antiga Lage afirmam que o padre Joaquim Carlos “foi um pastor solícito, angelicalmente puro, de desmedida caridade, não descurava de suas ovelhas a que muito amava, trazendo-as sempre presas ao seu aprisco por uma velada assistência e constante pregação”. Padre Joaquim geriu a paróquia até 13 de novembro de 1879, quando faleceu aos 82 anos de idade.

 

Missa de Requiem 

Segundo o escritor Juca Chaves, no dia 22 de março de 1880, foi celebrada na igreja Matriz de Nossa Senhora da Penha, “grandes exéquias em sufrágio da alma do vigário Joaquim Carlos de Resende Alvim, as quais contaram de três missas e solene Libera me”. No dia 15 de novembro de 2019, 140 anos após o falecimento do vigário da Lage, a Paróquia que recebeu dele tanto zelo e dedicação celebrou solene Missa de Réquiem em sua memória. A celebração aconteceu na igreja Matriz de Nossa Senhora da Penha de França e foi presidida pelo pároco local, padre Fábio Rômulo Reis. “Com gratidão, fizemos memória de sua marcante presença como pastor solícito, bem como de todos os ex-párocos falecidos, que deixaram sinais indeléveis na espiritualidade desta comunidade”, destacou padre Fábio, que, no transcorrer da celebração, recordou-se dos ex-párocos e sacerdotes filhos de Resende Costa já falecidos.

A missa contou com a participação do Coro e Orquestra Mater Dei, dirigido pelo maestro Wagner Barbosa. O grupo executou a “Missa de Requiem” do compositor tiradentino Antônio de Pádua Alves Falcão (1848-1927), que a escreveu especialmente para sua filha, falecida precocemente em 1923; o “Les Mort”, do francês Jacques Louis Battmann (1818-1886), e o tradicional Libera me, Domine, de compositor anônimo, executado pelo Mater Dei nos ofícios fúnebres. Além desse repertório, a orquestra entoou, antes da procissão de entrada, a Marcha Fúnebre “Maria da Penha Sousa”, composta pelo músico resende-costense Elvis Washington Reis na ocasião do falecimento da musicista e ex-maestrina do Mater Dei, que dá nome à obra. “O Coro e Orquestra Mater Dei sempre esteve atrelado a grandes comemorações em nosso município, especialmente as de cunho religioso. Em 1880, foram realizadas celebrações das exéquias do padre Joaquim Carlos e solene Libera me, Domine. Não sabemos se o grupo que realizou a música naquela época foi contratado, se foi algum grupo local ou ainda se foi o grupo que deu origem à nossa orquestra. 140 anos depois, a música volta a ser parte importante da celebração”, disse o maestro Wagner Barbosa.

Em 1879, padre Joaquim Carlos foi sepultado, provavelmente, no túmulo de seus pais no interior da igreja Matriz de Nossa Senhora da Penha. Lamentavelmente, as sucessivas obras de ampliação e até mesmo de demolição da igreja Matriz fizeram com que desaparecesse o túmulo da família dos Resende Costa. Portanto, não se tem notícias de onde foram parar os restos mortais do neto do capitão e inconfidente José de Resende Costa, o pai, e ilustre primeiro pároco da Paróquia de Nossa Senhora da Penha.

Na procissão de entrada da solene Missa de Réquiem, foi levado até o presbitério da Matriz de Nossa Senhora da Penha, por dois seminaristas, o quadro com a foto do vigário Joaquim Carlos de Resende Alvim. A foto, que atualmente se encontra exposta no Museu de Arte Sacra da Paróquia de Nossa Senhora da Penha de França, na galeria dos ex-párocos, é um dos poucos registros que se tem do primeiro pároco da Lage. Existe também o “De Genere” (espécie de biografia do religioso a partir do momento em que ele se tornava clérigo) do padre Joaquim, arquivado na Cúria Metropolitana da Arquidiocese de Mariana.

No feriado da Proclamação da República de 2019, os conterrâneos do padre Joaquim Carlos de Resende Alvim rezaram pelo descanso eterno de sua alma, 140 anos após o seu falecimento. Uma bonita e tocante manifestação de fé e de gratidão pelo trabalho e pela vida, agora eterna, daquele que, segundo relato de Juca Chaves, “o mundo não seduziu, não guardou rancor, jamais se deixou negligenciar no cumprimento de sua obrigação (...). E que repetia, sem cansar, que não buscou as ordens como um meio de vida, mas tão somente para a sua santificação, louvando sempre os seus pais por lhe terem proporcionado os recursos para a sua ordenação”.

 

Fonte:“Memórias do Antigo Arraial de Nossa Senhora da Penha de França da Lage”, de José Maria da Conceição Chaves (Juca Chaves), amiRCo, 2014.

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