A prioridade de São João del-Rei em 2010 é atacar os problemas da água, esgoto, trânsito e lixo, se a cidade quiser se desenvolver como pólo turístico. Esta é a opinião do promotor de Justiça Antônio Pedro da Silva Melo, o Toninho Melo, que defende enfaticamente a entrada da COPASA em São João del-Rei.
Toninho Melo começou vendendo passagens – às vezes como trocador - da Empresa Nossa Senhor do Pilar em Resende Costa, entre 1969 e 1970. Neste intervalo, fez o curso ginasial na Escola Técnica de Comércio Tiradentes, de São João del-Rei. Estudou o científico com os padres salesianos e cursou ciências na antiga Faculdade Dom Bosco. Prestou concurso para a Polícia Rodoviária Federal, tendo trabalhado, entre 1973 e 1979, no posto de Resende Costa. Neste meio tempo, estudou Direito em Conselheiro Lafaiete.
Formado, Toninho Melo iniciou a advocacia (como sócio de Agenor Gomes) e a militância política em Resende Costa, elegendo-se vereador em 1976, com 24 anos de idade. Ao perder a eleição de prefeito para Gilberto Pinto, em 1982, fez concurso para o Ministério Público (MP), tendo sido nomeado em 1984. Foi nomeado Promotor de Justiça em Buenópolis e Corinto, norte de Minas, onde ficou durante cinco anos. Em 1989, foi transferido para Barbacena e, em 1990, para São João del-Rei, onde atualmente trabalha na Curadoria de Meio Ambiente.
Nesta entrevista, o promotor analisa momentos importantes da política em Resende Costa e reitera o seu amor pela cidade. “Resende Costa, além de ter sido destino, é escolha, pois o destino às vezes faz a gente nascer num local que depois a gente não escolhe amar pela vida toda. Resende Costa é muito mais que destino. Se eu pudesse escolher um lugar para nascer, escolheria Resende Costa novamente, sem demagogia nenhuma. Até porque não preciso de voto em Resende Costa, ou em nenhum lugar, pois eu não sou mais político e espero nunca mais ser. Resende Costa é uma história de amor muito grande. Ela está para mim acima do bem e do mal”.
JL – Ouve-se com freqüência que São João del-Rei é administrada atualmente pelo MP...
Toninho - Não é bem isso. Em São João del-Rei e num bom número de cidades, o Poder Público Municipal é ausente, se acomoda, faz o jogo do faz de conta, o jogo político da pior qualidade possível, do clientelismo, prefere deixar de cumprir o seu papel a contrariar um eleitor ou um possível eleitor. Aqui em São João, tudo é possível quando se fala de absurdos, de descumprimento da lei, de descompromisso com a legalidade... Então, o MP de São João não quer administrar. Nós queremos é que o município faça o seu papel. Veja o sistema de água e esgoto precário, o trânsito maluco... Guardadas as proporções, São João del-Rei está pior do que São Paulo. Nós temos 30 mil veículos cadastrados em São João, entre motocicletas, carros, ônibus e caminhões. Ou seja, 30 mil para as mesmas vielas onde passavam as carruagens e carros de boi. E um grande número de motoristas descompromissados com as regras. Então, dirigir em São João del-Rei hoje é uma tarefa hercúlea, difícil, porque ninguém obedece nada. É a lei do mais esperto, a lei do Gérson… O lixo é outro problema... A gente não vê vontade da administração pública em investir um real sequer na coleta e tratamento do lixo, Por isso o MP assumiu o papel de levar o gestor, o homem público, a cumprir o papel que é dele, mas que ele não quer cumprir.
JL - Fale dos Termos de Ajuste de Compromisso (TAC) assinados no início da administração do prefeito Nivaldo.
Toninho - Nós temos TACs a sumir de vistas. O Dr. Rodrigo (promotor Rodrigo Ferreira Barros) assinou, seguramente, só nesta administração, uns 50 TACs. Tudo aqui é no TAC, até a cobrança dos tributos atrasados. É brincadeira eu ter de fazer um TAC para o município cumprir o papel dele, que é cobrar os tributos. Hoje, o prefeito, que no passado achou ruim, está morrendo de alegria, porque a receita pulou 800%. Ele inaugurou a Praça do Minas, na Biquinha, só com recurso próprio; a Praça do Matozinhos está sendo reformada com recursos próprios. Ou seja, eram recursos que ele, e outros que o antecederam, não tiveram coragem de cobrar para não melindrar o eleitor. Eram tributos que ninguém pagava. Tributo que o camarada sabe que não vai executar, não tem penalidade nenhuma se ele não pagar, então ele não paga. O mesmo acontece com o DAMAE (Departamento Municipal de Água e Esgoto), uma autarquia... Tem 40% de inadimplência. Qual é a empresa que sobrevive com 40% de inadimplência? Nenhuma. Só uma empresa do governo mesmo... O DAMAE deve só à Cemig uns quatro ou cinco milhões de reais.
JL – Por que insistir com o DAMAE?
Toninho - Num Programa da TV Campos de Minas, eu coloquei alguns pontos que em 2010 São João del-Rei precisa atacar se quiser continuar a se desenvolver como cidade turística: água, esgoto, trânsito e lixo. Não adianta o governador Aécio Neves ter boa-vontade - e ele tem muita - de mandar dinheiro pra cá, se a casa continua suja. O lixo que é recolhido não é tratado, mas escondido. Construíram um lixão num local de difícil acesso, nas proximidades da estrada de Piedade. Para ir lá, tem de ser num carro 4x4, tracionado. Lá está escondido o nosso lixão. Eles recolhem o lixo de hospitais, farmácias e laboratórios separados, mas queima junto com o lixo doméstico. Você vê sendo queimado um monte de agulhas e seringas. A que nível de contaminação estão o lençol freático e as cachoeiras que se localizam lá!
JL - Que ganhos São João del-Rei teve em 2009?
Toninho - Na verdade, há uns cinco ou seis anos tivemos ganhos, sobretudo nos quatro anos da administração do Sidinho. Tudo que ganhamos é obra e graça do governador Aécio Neves. Por sua vez, o município tem estado ausente o tempo inteiro. Tem feito, no máximo, a contrapartida. E olhe lá. O Conjunto Habitacional que vai ser inaugurado na saída para Lavras ficou atrasado porque o município não fez a parte dele, que é a urbanização... Ganhamos o Centro de Pronto Atendimento da Caieira, uma obra gigantesca... O Governo do Estado investiu quatro milhões de reais e irá investir mais um milhão. Já o município ainda não fez a parte dele, que é entrar com cento e poucos mil reais para a manutenção... Numa reunião, eu cheguei até mesmo a brincar: “Será que em São João o governador terá também que dar alvará para baile?” (risos). Ele Faz tudo! Criou um batalhão da Polícia Militar (38º), o que foi importantíssimo para a diminuição do índice de criminalidade em São João. O nosso potencial de bandidagem está todo recolhido no Mambengo (presídio regional), ou está morto. Nós temos mesmo que continuar agradecendo ao governador Aécio Neves, porque São João ainda não fez a sua parte.
JL - O sr. é a favor da Copasa em São João em del-Rei?
Toninho - Claro. Nós colocamos a Copasa em Resende Costa em 1981, quando a cidade ainda não tinha a menor chance. A obra da rede de esgoto em Resende Costa foi um sonho que agora está sendo realizado. Uma obra de mais de 10 milhões de reais e que a Copasa certamente não verá o retorno deste dinheiro. A Copasa não tem lucro nas cidades pequenas. Se ela vier para São João del-Rei, irá pulverizar os prejuízos que ela tem nas cidades menores. A Copasa tem que entrar em São João del-Rei.
JL - E o que está faltando?
Toninho - Vontade política, amor à terra. Em contrapartida, está sobrando egoísmo e oportunismo desse pessoal que não quer pagar água. Houve, no passado, um vereador que enfiou na Lei Orgânica um dispositivo que teria de se convocar um plebiscito para a Copasa entrar em São João del-Rei. Como fazer um plebiscito de verdade numa cidade onde 40% não pagam a conta de água? O resultado já está pronto.
JL – Como o sr. qualifica o serviço do DAMAE?
Toninho - É de quinta categoria. Não tem segurança. O esgoto se espalha a céu aberto por todos os cantos da cidade. Nós temos manilhas de barro no centro da cidade instaladas na década de 1920, de dimensão aquém da ideal. É um primitivismo só. Mas quem não quer a Copasa é um grupinho de políticos safados que tem algum tipo de proveito quando colocam funcionários lá dentro. Na verdade, não colocam funcionários, mas fantasmas, porque eles não vão trabalhar. Dá para imaginar, numa cidade do porte de São João del-Rei, você ter de ouvir líderes paroquiais para saber se pode ou não cortar a água do fulano que não pagou a conta? São João, neste ponto, não evoluiu. Nós precisamos começar a quebrar essas resistências... O que é o DAMAE? O DAMAE é nada! A Copasa está cheia de boa-vontade, enquanto o governador Aécio está no Palácio da Liberdade. Não sei depois. O investimento para a Copasa começar o tratamento do esgoto e captar a água é em torno de 70 milhões de reais... Nós fizemos duas audiências públicas (em outubro e novembro de 2009) para cada um apresentar suas perspectivas, sobretudo de financiamento. O DAMAE chegou ao mesmo valor da Copasa, ou seja, 70 milhões... Só que a Copasa disse: “Nós temos o dinheiro em caixa”. Já o DAMAE: “Nós temos que procurar alguém que nos dê o dinheiro”.
JL – Falta vontade política?
Toninho - Eu até acredito que o prefeito atual está bem entusiasmado, porque na outorga a prefeitura pega uns 10 milhões de reais. E o Nivaldo, populista que é, vai fazer pracinhas e jardins na cidade inteira. Na verdade, ele está de olho é neste dinheiro. A Copasa tem água e esgoto nas Colônias e nas Águas Santas. Ela presta um grande serviço, e nós sabemos disso.
JL - Em 2009, o sr. diria que o MP cumpriu com o seu papel?
Toninho - O MP levou a pecha de querer mandar na prefeitura, de querer administrar. Mas todos os setores da administração municipal em que nós mexemos estavam desregulamentados. Ou seja, só são regulamentados no papel. Qualquer coisa que é de competência do município o MP teve de entrar na marra. Até TAC para a sucessão hereditária...
JL – E o empreguismo na prefeitura?
Toninho - O Nivaldo tinha 300 cargos de confiança no município, ou seja, mais de 10%. O MP teve de entrar e brigar, fazendo mais um TAC. O prefeito foi obrigado a mandar embora. Aí veio o populismo. Quando ele não gostava do cara e tinha que mandar embora, mas estava com medo de perder o voto, falava o seguinte: “O MP disse que eu não posso te manter”. Ele só manteve aqueles de quem ele gostava (risos). Nós aceitamos o papel de bicho-papão porque, pra nós, bicho-papão é o cumprimento da lei.
JL - E a questão do nepotismo?
Toninho - O MP em Minas Gerais deu um salto gigantesco. Cerca de 10 mil pessoas perderam o emprego advindo de nepotismo. As cidades de Prados e Ritápolis tinham entre 10 e 12 funcionários. Já Resende Costa é uma cidade privilegiada. Durante a cerimônia de entrega da Medalha Desembargador Hélio Costa, na qual o ex-prefeito Gilberto Pinto foi homenageado (04/12/209, em Resende Costa), falei que os nossos administradores são todos probos. Não temos casos de denúncia de prefeito ladrão... Desde o prefeito Antônio Honório pra cá, que eu me lembre, todos são íntegros. Podem até terem sido ruins, mas foram corretos.
JL - Neste sentido, o sr. não tiraria o chapéu para as administrações de São João del-Rei?
Toninho - Não tiro o chapéu... O prefeito Otávio Neves, que inclusive construiu o Terminal Rodoviário com recursos próprios, era um sujeito correto. Mas depois dele começou a bagunça: o empreguismo sem fim, a prefeitura com um monte de funcionários fantasmas...
JL – A que o sr atribui o “atraso político” de São João del-Rei?
Toninho - O problema do nosso país é que há uma grande massa de eleitores que vota com o estômago e não com a cabeça... O mesmo voto que eu não dou para o Nivaldo – porque ele não faz o meu perfil, eu não o acho um bom administrador – minha mulher e meus três filhos também não dão. Mas a casa lá em cima do morro, com 10 pessoas, dá. Aí eles ganham da gente. E irão ganhar sempre...
JL – Por que os administradores públicos não gostam de dar informações, a não ser aquilo que lhes interessa?
Toninho - Eles não querem expor as entranhas... Está em vigor um projeto do governo federal de transparência. O Dr. Rodrigo fez com que todos os prefeitos da região assinassem. Os dados serão publicados na internet... Acho difícil emplacar. Nós não temos mecanismos eficientes de fiscalização... Uma vez publicado na internet, facilita para a imprensa a fiscalização e divulgação dos dados. Qualquer cidadão poderia ficar a par desses dados. Hoje, o cara que fiscaliza e não tem mandato ganha a fama de chato. E, se ele tem mandato, eles tentam comprá-lo. Então, esse projeto de transparência seria - e é - uma grande conquista para o cidadão, pois ele poderá fiscalizar para onde está indo o seu dinheiro. Agora, se isso será monitorado e fiscalizado é que eu tenho as minhas dúvidas.
JL – Nesse sentido, o trabalho do MP em São João del-Rei foi exemplar...
Toninho - O trabalho que fizemos aqui foi espetacular. Precisaria um TAC para obrigar o município a regular o ponto dos seus funcionários? Em qualquer lugar do mundo, o cara tem hora para chegar e sair do seu trabalho e ele precisa registrar o seu ponto. Teve categoria dentro da prefeitura, sobretudo os médicos, que não aceitou de jeito nenhum. Funcionários lá dentro, sem curso superior, não quiseram se cadastrar, porque se sentiam no direito de entrar e sair quando quisessem. Ou seja, o desgoverno, a desregulamentação.
JL - Como o sr. enxerga a corrupção nas administrações municipais?
Toninho - É algo verdadeiro. Eu sempre disse: Nós precisamos ter uma Câmara Municipal não só de doutores, até porque isso não retrata o povo, além de não ser a amostragem do país. Mas precisamos de pessoas que tenham conhecimento pelo menos daquilo que estão decidindo e votando. Atualmente, o pessoal que está lá é o retrato do extrato social a que ele pertence.
JL – Falta qualidade na representatividade...
Toninho - Eu transporto isso para Tiradentes, que é uma cidade pequena, mas conhecida no país inteiro. Tudo que tem em Tiradentes foi levado por gente de fora. E há uma guerra surda nos bastidores entre os nativos e os não-nativos. A Câmara só tem nativos. Um dia, fui a uma reunião lá para tratar da segurança. Até o Ministro do Supremo Tribunal Federal (STF), Eros Grau, que reside lá, pediu-me para dar uma força, pois estava havendo muitos furtos nas pousadas. Bom, eu perguntei aos empresários: “Quantos representantes vocês têm na Câmara?” “Zero, nenhum”. “Será que vocês não conseguem eleger ninguém? Vocês é quem mandam na cidade”. Eu conheci Tiradentes há 30 anos ou mais. Tinha nada. Foi antes de a Rede Globo descobrir a cidade e do Ives Alves ir morar lá. Eu disse a eles: “Vocês precisam se fazer representar na Câmara Municipal, porque aí o prefeito terá que ouvi-los, a Polícia também”. Ora, todo o dinheiro e o que há de bom na cidade de Tiradentes, hoje, foi quem veio de fora que trouxe.
JL – O que o sr. acha do papel da imprensa do interior?
Toninho - O jornal no interior luta com muita dificuldade para sobreviver. Muitas vezes ele fica de pé devido ao idealismo dos seus componentes e idealizadores. São indivíduos despojados de ambição financeira e que perdem horas do seu dia. São pessoas apaixonadas. Por outro lado, você vai ver pessoas que não têm compromisso com nada, com ninguém. O principal jornal de São João del-Rei, a Gazeta, é do grupo do governador Aécio Neves, assim como a TV Campos de Minas, a Rádio São João e a Rádio Vertentes. Eles têm a linha deles... Existe também o jornal Folha das Vertentes, que é ligado ao PT. E agora criaram outro jornal aqui, chamado O Grafite, que é do juiz. Eu até brinquei com o Dr. Adalberto (Promotor de Justiça em São João del-Rei), que no processo eleitoral passado levou um revólver na cabeça pelo juiz, numa audiência porque ele estava impugnando - na verdade, o juiz não gostava dele. “Adalberto, ele criou um jornal para te combater. Você tem essa honra. Ele criou um jornal só para bater no promotor. Você foi matéria de primeira página duas vezes. Retrato na primeira página. Ou estão te achando muito bonito, ou você realmente é um cara que dá muito ibope.” Não considero este jornal como sério. É um jornal que foi criado por uma facção interessada em determinados processos que estão caminhando no Fórum. Até porque, se você pegar o Expediente do jornal, vai ver que lá está o nome da esposa do Dr. Pavanelli, que mal conhece São João del-Rei. Eu não entendo porque ela é diretora deste jornal. Uma coisa é certa: eles estão a fim de bombardear o Ministério Público.
JL - O Ministério Público atualmente luta em diversas frentes na defesa da cidadania, inclusive na proteção do Patrimônio Histórico.
Toninho - Sim. Um promotor de Belo Horizonte, Dr. Marcus Paulo, descobriu que a portada da igreja antiga do Matozinhos, demolida pelo Padre Jacinto, estava numa fazenda de um milionário em Campinas (SP). Ele entrou na justiça para o portal voltar pra cá. Eu perguntei a ele: “O que o sr. vai fazer com esse portal?”. Ele me respondeu: “Esse portal tem 300 anos. Por enquanto eu não sei o que vou fazer com ele, mas o lugar dele é em São João del-Rei”. Quando a igreja antiga do Matozinhos foi demolida, não havia essa consciência de preservação patrimonial. Hoje é diferente. O patrimônio vai muito além desta geração...
JL – O MP é também grande aliado da própria imprensa...
Toninho - Claro. A imprensa é tudo. Quando falam que a imprensa é o quarto poder, costumo dizer que é o primeiro. Ela é capaz de derrubar até mesmo um Presidente da República, como fez com o Fernando Collor de Mello...
JL - Como o sr. vê o aumento do número de vereadores em São João del-Rei?
Toninho - Ficou para a próxima eleição para prefeito, mas se trata do maior absurdo, do jogo de conivência de deputados que querem mais cabos eleitorais qualificados, isto é, indivíduos que já possuem seus curraizinhos eleitorais. Estes indivíduos conseguem para os deputados determinado número de votos daqueles eleitores que votaram neles para vereador. Aí está o problema. Continuamos com o sistema viciado, a velha política do cabresto...
JL - Quanto custaria aos cofres da Câmara Municipal de São João del-Rei os novos vereadores?
Toninho - Nós passaríamos aqui de nove para 14 vereadores (salário de 4.000,00 reais). Então, teria um aumento de R$ 240.000,00 (por ano) só com o salário, fora as outras despesas. Cada vereador tem direito a um assessor e um advogado, sem falar na verba de gabinete que aqui chega a R$ 2.000,00.
JL - O que ainda falta para São João del-Rei entrar de fato na rota do desenvolvimento?
Toninho - Um fato novo que irá nos ajudar muito, sobretudo às próximas gerações, são as universidades, principalmente a Universidade Federal de São João del-Rei (UFSJ). Com a expansão dos campi e dos cursos de graduação e a implantação dos cursos de pós-graduação (Mestrado e Doutorado), a cidade vai entrar efetivamente numa vida acadêmica, de pesquisas. E isto poderá projetar a cidade para além das belezas do passado. A gente espera que as novas lideranças que estão surgindo sejam compromissadas com o cidadão, não com essa podridão que existe numa faixa dos atuais líderes… Vamos ver no ano que vem, durante o processo eleitoral, a falta de vergonha da compra de votos. Enquanto tivermos na política pessoas como o senador José Sarney, que são a escória, indivíduos que passaram por vários governos se camuflando como um camaleão, mudando de cara, a política não vai mudar. Acredito que as próximas gerações verão uma depuração. Mesmo quando chega o desânimo, precisamos ter esperança, continuar e dar bons exemplos.
JL – Como o sr. vê a evolução política em Resende Costa?
Toninho - Politicamente, nós tivemos, em Resende Costa, uma conjunção de fatores que hoje nós temos em São João del-Rei e não estamos sabendo aproveitar. Tem o governador Aécio Neves, o (deputado) Reginaldo Lopes, o Cristiano, que foi vice do Sidinho... Ou seja, São João teve os governos estadual e municipal convergindo e nada fez. Diferentemente, em Resende Costa, houve uma convergência de fatores em 1976. O Ocacyr Alves de Andrade foi o melhor prefeito, para mim, que Resende Costa já teve. Era um indivíduo sem estudo, mas de uma visão de futuro extraordinária...
JL – Nessa época, o sr. estava começando na política...
Toninho - Fui eleito vereador em 1976, com 24 anos. Eu tive exemplos da paixão pela cidade que serviram para balizar a minha vida, minha conduta política. Uma pessoa que marcou a minha vida foi o Antônio da Silva Barbosa, o Barbosinha... Não vamos falar do Barbosinha que ajudou tanta gente na farmácia dele, mas da cidadania dele. Outra pessoa foi o monsenhor Nelson, que não nasceu em Resende Costa, mas que brigava por ela com toda força da alma. O monsenhor Nelson era meu padrinho... Então, são líderes deste calibre que me mostraram que a gente tinha que fazer alguma coisa. Eu me lembro do Barbosinha falando do projeto do nosso asfalto, que finalmente ia sair. Os olhos dele até dilatavam... Por detrás dos óculos dele, a gente via brilhar aquela paixão pela cidade. Com o monsenhor Nelson, eu viajei para Aparecida do Norte (SP) e Belo Horizonte a fim de lutar pelo asfalto... Enfim, eu tive o privilégio de conviver com pessoas muito mais velhas do que eu, mas que me ajudaram muito. Eu soube beber daquela fonte.
JL - Fale sobre a gestão do prefeito Ocacyr...
Toninho - A estrada asfaltada era o sonho dourado de Resende Costa. Hoje, as pessoas passam no asfalto e acham que ele nasceu ali. Não viveram o barro, a poeira e a ponte caindo na estrada velha. Mas é natural que, pelo fato de não terem vivido naquela época, hoje não valorizem tanto a luta que se deu passado. Quando nós assumimos o governo, Resende Costa não tinha água. Era um drama. A cidade não tinha perspectiva nenhuma. Nós tínhamos meia dúzia de pessoas que teciam no tear, lá no Povoado dos Pintos, e saíam vendendo a mercadoria em lombos de cavalos e burros. Mas a gente acreditou que poderia fazer algo. Foi aí que na advocacia eu perdi um tempão, mas eu ganhei como resende-costense. O que eu perdia de dinheiro e na construção da minha carreira, eu ganhava na construção da minha cidade. Tudo que construímos foi no sacrifício, foi arrancado na marra, com lágrimas e suor. Tem passagens nessa história que são marcantes. Na luta para conseguir a energia elétrica para Jacarandira, encontramos falta de dinheiro e de vontade dos homens lá de cima. O Ocacyr conseguiu um gerador emprestado para colocar energia elétrica dentro de Jacarandira. Era uma luz fraca e cara. Fomos à CEMIG e um dia eles nos chamam lá e dizem: “Olha, nós vamos dar a energia elétrica, mas saindo de Passa Tempo”. Aí o Ocacyr disse: “Não quero”. Eu falei para ele: “Ocacyr, você está louco?”. Eu não entendia a lição que ele estava me dando. Ele me disse: “Jacarandira está na divisa de Resende Costa com Passa Tempo. Se eu aceitar a energia saindo de Passa Tempo, só irá favorecer os fazendeiros de lá”. Olha a visão dele! Eu, com os meus 24 anos, não conseguia enxergar as coisas como ele. Quando saímos do Palácio da Liberdade, eu disse: “Ocacyr, se não sair a energia via Resende Costa, nós não podemos falar com ninguém que tivemos a CEMIG em Jacarandira nas mãos e não quisemos”. Ele insistiu tanto, até que um dia o Israel Pinheiro Filho, que era diretor da CEMIG nessa área, o chamou lá e disse: “Você venceu, prefeito. Nós vamos tirar a CEMIG pra você, partindo de Resende Costa”. O Ocacyr disse: “Mas eu quero que passe no Cajuru também”. E disse mais: “Eu quero que coloque trifásico até o trevo do Povoado do Ribeirão, porque, se você levar monofásico, vai chegar somente uma brasinha lá na ponta.”. E assim ele conseguiu eletrificar o município inteiro, contemplando inúmeras fazendas, casas e sítios.
JL – E a construção do asfalto?
Toninho - Na construção do asfalto, quando a estrada chegou lá no Zé Jiló, o dinheiro acabou. O Penido falou com a gente lá em São Paulo: “Se eu tirar as máquinas de Resende Costa, elas não voltam mais”. Fomos atrás do Francelino (governador) e ele prometeu... Havia uma má vontade muita grande do DER (Departamento de Estrada de Rodagem) para com a nossa obra, porque na verdade cidade pequena nenhuma da nossa região tinha asfalto. Só tinha asfalto cidades nas quais a estrada passava dentro, como Lagoa Dourada e São Brás do Suaçuí. Houve um momento que o engenheiro responsável pela nossa obra, o Dr. Junqueira, me disse: “Toninho, essa estrada está causando tanto problema que é melhor pegarmos o dinheiro e construirmos outra cidade na beira de outra estrada”. (risos).
JL - No atual momento político, o sr. diria que existe uma convergência favorável ao município?
Toninho - Eu tenho visto certa imaturidade da administração atual do município. Eles ainda não adquiriram o traquejo de administrar. Na homenagem que a Comarca prestou ao ex-prefeito Gilberto Pinto (Medalha Desembargador Hélio Costa), fiz uma menção honrosa a ele que a meu ver foi repleta de razão. O Gilberto é um cara que prestou um grande serviço à cidade. O jeitão dele às vezes não o faz ser um político hábil, sobretudo na medida de saber transigir, parlamentar, negociar. Ele é um homem muito mais da ação do que da palavra. Então, cria - ou pode criar - alguma linha de atrito. Mas ele faz bem. O Gilberto tem uma intimidade grande com o Aécio Neves, porque ele foi político do Aécio desde que este entrou na vida pública. O Gilberto conseguiu fazer muita coisa boa para Resende Costa com a ajuda do Aécio, como a construção do Parque do Campo, o asfaltamento de várias ruas e a cadeia, que muita gente criticou... Nós temos uma comarca, portanto, a cadeia é essencial.
JL - A administração atual pode dar sequência a este trabalho?
Toninho - Poderia continuar, mas eu sinto essa falta de maturidade do grupo que administra a cidade hoje. Querem um exemplo? Na eleição que indicou homenagem ao Gilberto, estavam presentes o juiz, o promotor, o presidente da Câmara municipal, o prefeito e o representante da OAB (Ordem dos Advogados do Brasil). Houve resistência do prefeito Adilson em aceitar o Gilberto como eleito, o escolhido pelo juiz e pelo promotor. Ele argumentou ser uma decisão do “meu grupo político”. Ora, grupo político atrasado, sobretudo na medida em que você se recusa a reconhecer os valores o outro, só porque o outro é de um partido diferente. Neste momento, o prefeito está sendo atrasado, retrógrado. Outra coisa: a administração atual colocou uma placa em frente ao Fórum atribuindo a si a autoria de uma coisa pela qual eles não moveram uma palha, que é a implantação da rede de esgoto. Eles estão roubando filho dos outros. Ganharam prontinho, assim como o Gilberto ganhou as obras do MG2 (recursos para obras vindos do Governo do Estado de Minas Gerais), quando saímos da administração. Tratam-se dos Centros Comunitários dos Pintos e de Jacarandira, da estrada para São Tiago e da melhoria da estrada de Jacarandira. Ou seja, tudo que a gente havia negociado. O Gilberto teve o mérito de não falar que era dele. Agora, assumir paternidade de filho dos outros, só porque o filho é bonito... A obra da rede de esgoto de Resende Costa é 100% Aécio. Ah, mas tem recursos do BNDES (Banco Nacional do Desenvolvimento)! Sim, mas trata-se de dinheiro emprestado, que tem que ser pago. Não é caridade do Lula.
JL - De quem é a responsabilidade de fiscalizar as obras de implantação da rede de esgoto? Há rumores de insatisfação popular em relação à empresa contratada para realizar as obras...
Toninho - Nessa hora é que o prefeito tem que mostrar que é bom. Ora, se a empresa ganhou para recompor o piso da minha cidade com tal material, terá que fazê-lo. Aqui na Colônia foi preciso que o MP (Ministério Público) entrasse em cima do prefeito, porque a empresa responsável pelas obras terceirizou e não estava cobrindo com o mesmo material. Em Resende Costa, a responsabilidade é 10% do prefeito. Ora, se eu contrato uma empresa para trabalhar dentro da minha casa, eu é que tenho de fiscalizá-la.
JL – Então, o sr. não é muito otimista sobre a atual administração municipal?
Toninho - Em Resende Costa, eu não vejo a questão com muito otimismo e perspectiva, devido ao amadorismo da atual equipe de governo. A equipe do Gilberto era muito bem afinada. Agora, é preciso formar uma nova orquestra, ensinar aos músicos a ler a partitura, solfejar e tocar. Mas a alternância do poder é importante para o jogo democrático.
JL - O sr. já está pensando na aposentadoria?
Toninho - Ainda não sei o que irá acontecer. Eu sou muito prático nos meus planos. Eu vivo um momento muito interessante dentro do Ministério Público. A comarca foi promovida para instância especial e estamos ganhando casa nova aqui em São João. Estamos, enfim, conquistando coisas pelas quais lutamos durante muitos anos. Além disso, eu não posso sair da instituição dentro dos próximos cinco anos, devido às injunções da carreira. Fui promovido, juntamente com a Comarca, para instância final. Hoje, o promotor de Belo Horizonte é o mesmo de São João del-Rei, assim como o juiz. É o último degrau da carreira. Então, eu tenho que ficar cinco anos para poder me aposentar nessas condições. Agora, eu gostaria muito de voltar a advogar, se Deus me der vida, saúde e disposição. Até porque, eu tenho filhos que são advogados. Talvez um ou outro será funcionário público, mas, se algum desejar advogar comigo, será um grande prazer, além de ser um presente que Deus irá me dar, para eu poder encerrar a minha vida na área jurídica.
Promotor Toninho Melo defende COPASA em São João del-Rei e analisa diferentes momentos da política em Resende Costa
Entrevistas
André Eustáquio e José Venâncio 08/02/20100

Toninho Melo