Quinho do Antônio Ribeiro: De sapateiro na infância a empresário em SP


Entrevistas

José Venâncio de Resende0

Quinho do Antônio Ribeiro

Trabalho, honestidade e gratidão. Palavras que resumem a luta de Francisco Ribeiro, o popular Quinho, que foi para São Paulo aos 15 anos de idade. É um dos sete filhos (quatro homens e três mulheres) do lavrador Antonio Augusto Ribeiro e de Ilizieta Alves de Andrade. “O meu pai era um homem de roça, que não tinha condições de dar nenhum conforto para os filhos. Mas era um homem muito honesto e trabalhador, e me ensinou que a gente na vida tem que lutar para ser alguém. “Se você for um profissional, em qualquer lugar do mundo vai ter o seu trabalho para oferecer, sem pedir favor.”

Quinho foi colocar sapato no pé aos oito anos de idade, quando fez a primeira comunhão. “Sapato emprestado, ainda.” Quando saiu do grupo escolar, aos 11 anos, fez uma viagem a cavalo de quase duas semanas com Euclides, que completou 100 anos em setembro. “Andamos 10 dias a cavalo levando uma boiada para Arcos. Na volta, passamos por Itapecerica, Carmo da Mata, por toda aquela zona.”

Ainda garoto, Quinho aprendeu a profissão de sapateiro. “Meu pai conseguiu que eu fosse trabalhar com o Adão Pinto Lara Resende, filho do Sr. Joaquim Pinto Lara.” Quinzinho deixou a sapataria para Adão, que também era músico e foi delegado da cidade. “Adão montou uma pequena indústria ao lado da Santa Casa. Tinha umas dez pessoas que trabalhavam para ele.”

Quando Quinho engraxava sapato, Adão deixava o dinheiro para ele. “Até me dava graxa. Eu pegava minha caixa de engraxate e ia para a avenida principal engraxar sapato. Adão também me deixava fazer sandálias com as sobras de couro para vender. Eu sempre tive o meu dinheirinho.” Depois, passou a levar Quinho nas viagens a São João Del-Rei. “Ele me ensinou como escolher couro no curtume. Aí passou a me dar o dinheiro para eu fazer as compras. Quando ia buscar material para a sapataria, eu dormia em São João e ia comprar gibi para vender em Resende Costa.” O delegado Adão costumava levar Quinho às audiências no Fórum. “Eu era menor, mas ele me levava assim mesmo.”

Adão morreu jovem, por volta de 33 anos, mas Quinho nunca se esqueceu do primeiro patrão. “Eu consegui ser um líder no meu trabalho, ser gerente de fábrica graças ao que aprendi com ele. Ele me ajudou muito, abriu a minha mente para o futuro. Foi muito gratificante a época que eu trabalhei com ele.”


SÃO PAULO
Quinho foi para São Paulo por volta de 1958, indo morar com o irmão mais velho, Zé Ribeiro: “O meu irmão foi muito importante na minha vida, me deu muita força, foi meu segundo pai”. Atuou como sapateiro até os 18 anos. “Trabalhei numa sapataria uns dois anos. Eu sempre tive como meta ser alguém na vida.”

Deixou a casa de Zé Ribeiro para se juntar às irmãs Vanda e Romilda e ao irmão Paulinho. “Nós fizemos nossa vida aqui com muita dificuldade.” Quinho não tinha hora para entrar nem sair do trabalho. “Eu trabalhei muito em São Paulo.” Mas decidiu continuar os estudos, pois em Resende Costa cursou apenas o primário. “Estudei durante quatro anos, fazendo o ginásio junto com o curso técnico. Era ginásio profissionalizante. Eu fiz curso de desenhista mecânico, projetista, matemática de mecânica.”

Tal como Adão, um novo amigo apareceu na vida de Quinho. “Ele começou a fazer o curso junto comigo, me indicou o caminho da mecânica, me ensinou a trabalhar. Foi ele que me levou para a Macotec, onde trabalhei durante 30 anos. Ele me deu muita força. Faleceu há muitos anos num acidente, mas eu o guardo no coração até hoje.”

A Macotec era uma pequena metalúrgica com cerca de cinco ou seis funcionários – no auge, a empresa chegou a ter 550 funcionários. “Comecei na Macotec como preparador de máquinas. Passei a líder de seção, a chefe de seção, depois a gerente de fábrica. Fiquei durante 22 a 25 anos como gerente da fábrica. Eu tinha na minha custódia em média quase 300 funcionários.”

A Macotec produzia peças para as indústrias automobilística (Volkswagen, Mercedes-Benz, Ford etc.), agrícola, petroleira, naval... “Nós fabricávamos válvulas para a Petrobrás, para a CSN de Volta Redonda... Mas eu perdi o prazer de trabalhar na firma devido à entrada de pessoas desonestas. Eu poderia estar rico, mas nunca tirei um centavo da empresa. E saí porque essas pessoas faliram a empresa.”

Quinho chegou a receber o cartão de prata da Macotec pelos 25 anos de trabalho. “Mas, durante esse período, eu me preparei para a aposentadoria. Comecei a comprar algumas máquinas, que eu guardava. E, no dia que dei entrada na aposentadoria, em 1994, eu já dei entrada na minha firma.”

A empresa Rerotec, com cerca de 12 funcionários, atua no mesmo segmento da Macotec. “Mas eu dou trabalho para outras pessoas, talvez até mais do que dentro da fábrica. Muita coisa eu mando fazer fora porque não compensa fabricar na empresa. Eu faço peças para a indústria automobilística, faço muita peça para a indústria de borracha, para máquinas agrícolas, para geladeira industrial (frigoríficos). O nosso segmento é diversificado: elétrico, mecânico, automobilístico...”


FAMÍLIA
Quinho é casado com dona Elza “há muito anos”. “Eu casei muito jovem quando vim para São Paulo. Tenho três filhos e cinco netos.” Ele colocou nos seus filhos os mesmos nomes dos filhos de Adão Pinto Lara Resende – Rosangela, Reginaldo e Rosemary. Todos são formados em faculdades. “Uma filha é jornalista e inclusive tem uma empresa de assessoria de imprensa; outra é psicóloga; e o filho fez administração de empresas e é o gerente da fábrica.”

Quinho criou a família “com muita luta, muita garra”. Agora, ocupa o seu tempo entre cuidar dos negócios e “viver a vida. Gosto, por exemplo, de viajar para o Mato Grosso para pescar”.