Ritápolis aguarda a transformação da Fazenda do Pombal, onde nasceu Joaquim José da Silva Xavier– o Tiradentes -, em Memorial da Liberdade, com base em projeto elaborado pelo arquiteto Oscar Niemeyer. O município considera-se o berço de Tiradentes, que nasceu em 1746 em São Sebastião do Rio Abaixo, antigo povoado de São José del-Rei. “Sabe-se que outras cidades reivindicam o direito de serem berços de tão nobre brasileiro. Porém, a Fazenda do Pombal, local do nascimento do Mártir da Independência, fica em terras do município de Ritápolis”, segundo o livro Santa Rita do Rio Abaixo (Ritápolis) – Memórias, histórias e causos (Imprimax Gráfica Del Rei Ltda., São João del-Rei, 2012), de Sebastião Higino de Souza - o Tião Fogueteiro – e Guilherme Hartung.
Mas não existem documentos que precisem o dia e o mês de nascimento do “herói nacional”. O que existem são informações (e versões) sobre data e local do batizado de Tiradentes. Uma das versões, contada por Tião Fogueteiro, é de que Tiradentes teria sido batizado na capela de São Sebastião, que era localizada na Rua 21 de Abril, 254, Ritápolis. Ele relata que Tiradentes foi batizado pelo padre Jerônimo, no dia 12 de novembro de 1746 e só teve um padrinho, o senhor Sebastião Ferreira Leytão. Já Adalberto Guimarães Menezes (autor do livro Parque Histórico Nacional Tiradentes) afirma que Tiradentes foi batizado nesse mesmo dia, porém na capela de Nossa Senhora d´Ajuda que ficava nos terrenos da Fazenda do Pombal.
“Naquela época, a cidade, que era um povoado, chamava-se São Sebastião do Rio Abaixo, depois passou a se chamar Santa Rita do Rio Abaixo e, com a emancipação político-administrativa, recebeu o nome de Ritápolis, que conserva até os dias de hoje”, narra o livro. “No Brasil Colônia, a Fazenda do Pombal estava em território de Tiradentes (na época, São José del Rei). São João del Rei foi elevada a cidade no dia 6 de março de 1838, separando-se da cidade-mãe Tiradentes. Com essa separação, São João del Rei se tornou uma cidade independente, tendo como um dos distritos São Sebastião do Rio Abaixo.”
A emancipação de Ritápolis deu-se em 1º de março de 1963, na fornada que beneficiou vários municípios mineiros. “Sendo assim, a Fazenda do Pombal é patrimônio desse município”, resume o livro de Tião Fogueteiro e Hartung. Da Fazenda do Pombal, “só restam ruínas, hoje pertencendo à Floresta Nacional (Flona) de Ritápolis, administradas pelo IBAMA (Instituto Brasileiro do Meio Ambiente)”.
300 anos de ocupação
São 300 anos de ocupação do território, sintetiza o arquiteto Fábio José da Silva que há 25 anos atua em projetos particulares e públicos. Na virada do século 19 para o século 20, os proprietários rurais começaram a construir casas na cidade para os períodos de festas e para os filhos ficarem enquanto estudavam.
Nesse meio tempo, mais exatamente em 1918, a igreja barroca perdeu o aspecto original frontal (frente). Houve o acréscimo de uma segunda nave e de uma torre, mas o interior da igreja continua o mesmo, com retábulo barroco, imagens originais etc. A igreja matriz, hoje “Santuário Diocesano”, fica na Praça Tiradentes, que abriga ainda a estátua do alferes.
Outro sintoma de que a cidade estava em desenvolvimento, prossegue o arquiteto, foi a construção, em 1940, do teatro com 300 lugares, que funcionou como cinema até a década de 70. O teatro, antigo Cine Teatro Pio XII, localiza-se próximo à chamada “casa grande”, casarão de propriedade da Igreja onde funciona a secretaria da paróquia.
Ainda na segunda guerra mundial, houve melhoria da estrada para o tráfego de automóvel (antes, usada por carro de bois). O descobrimento de cassiterita na Fazenda do Tanque, na mesma época, abriu novas perspectivas, relata Silva. “Isto impulsionou a cidade, trouxe gente de fora, principalmente de Conceição da Barra e do meio rural para a nova frente de trabalho. Tudo isso levou a cidade à emancipação. Mas a emancipação foi mais uma questão externa do que interna.”
Mas Tião Fogueteiro diz que Tancredo Neves não queria que São João del-Rei abrisse mão de Ritápolis. Tanto que os defensores da emancipação se reuniram numa comissão presidida pelo líder da UDN João Baptista dos Santos, com o apoio do deputado Nicanor Armando Neto (natural de Ritápolis) e dos políticos são-joanenses Mateus Salomé de Oliveira e Nelson Lombardi.
Os prefeitos
O udenista João Baptista dos Santos, conhecido como João Avelino, foi nomeado, em 1963, intendente (espécie de prefeito) até a realização da primeira eleição. O primeiro prefeito eleito de Ritápolis foi Benedito José de Oliveira, líder político local do Partido Social Democrático (PSD) e posteriormente do Movimento Democrático Brasileiro (MDB). Ele dirigiu o município por dois mandatos (1964-67 e 1972-73).
O segundo prefeito foi o comerciante Sinval Amaral (1968-71), da Aliança Renovadora Nacional (ARENA), partido de apoio ao regime militar que conseguiu ainda emplacar o terceiro prefeito, José Jader dos Santos (1974-77). Outro comerciante, Cícero Moura Vieira, recuperou o poder para o MDB (1978-82). Seu sucessor foi o também peemedebista Eduardo Ficher de Almeida (1983-88), que voltaria mais tarde (1993-96).
O médico Flávio Carletine Albuquerque (MDB) foi eleito para o período 1989-92, mas se perdeu na administração e não terminou o mandato, de acordo com Tião Fogueteiro. Com a sua cassação pela Câmara Municipal, assumiria o vice, Cícero Vieira, que estava impedido por ser candidato à eleição seguinte. Na linha sucessória, o presidente da Câmara, o taxista Jorge Resende Silva, completou os seis meses restantes do mandado do prefeito deposto.
Por dois mandatos seguidos, o médico Higino Zacarias de Souza, filho de Tião Fogueteiro, governou Ritápolis em 1997-2000 e 2001-2004 pelo PSDB. Desde 2005, já em segundo mandato, dirige o município o oficial da reserva do Exército, Antonio Ronato de Melo (DEM).
Ritápolis é uma cidade com poucos anos de emancipação, mas que teve uma política conturbada, resume o advogado Frederico de Oliveira Guimarães Santos, primeiro-secretário do Grupo Teatral Inconfidência (grupo de jovens da comunidade). “O município já enfrentou dois processos de impeachment, dos quais um resultou em cassação do mandato do prefeito (com renúncia do vice e assunção do presidente da Câmara) e outro em absolvição.”
As administrações municipais depararam-se com problemas recorrentes e que até hoje permanecem sem solução, especialmente na área da saúde, talvez a mais precária da cidade, observa Santos. “O que se verifica ao longo dos anos é a preocupação das administrações em realizar obras vultosas, enquanto a cidade padece de atendimento médico e de incentivo à cultura, ao turismo, ao esporte e à geração de renda.”
Tião e Tancredo
Tião Fogueteiro conta que participou ativamente das campanhas políticas de Tancredo Neves, que em suas visitas ao município sempre ia acompanhado do neto Aécio. Até que um dia Tião pediu a Tancredo bolsas de estudo para dois de seus filhos. “Ele prometeu, mas meus filhos nunca acharam ele em sua casa na Avenida Atlântica no Rio de Janeiro. Meus filhos estudaram sem a ajuda dele.”
Quando Tancredo foi candidato a governador em 1982, seus sobrinhos-assessores procuraram Tião Fogueteiro para organizar os fogos de artifício do último comício em Belo Horizonte. “Fogos é comércio, e eu preciso ganhar dinheiro”, respondeu Tião. “Mas se fosse especialmente para ele eu não fazia.” Diante da insistência, inclusive com a promessa de adiantar o pagamento de parte do serviço, Tião Fogueteiro aceitou a proposta. “Nunca ganhei tanto dinheiro.”
Como o Tancredo gostou do serviço, Tião Fogueteiro não apenas recebeu gratificação extra de deputados que apoiavam a campanha como também teve a promessa de que os serviços de fogos nas inaugurações do governo estadual seriam entregue a ele. “Tancredo cumpriu apenas parte da promessa, por razões que não dependeram dele.” Naquela eleição, Tião Fogueteiro votou no candidato do PDS, Eliseu Rezende, “mas o pessoal daqui de casa votou tudo no Tancredo”.
Com o fim da ditadura militar e do bipartidarismo, Tião Fogueteiro e seu filho Nicolau Tolentino de Sousa seguiram os passos de Leonel Brizola e, em 1987, abriram em Ritápolis o diretório municipal do Partido Democrático Trabalhista (PDT). Na eleição seguinte, o PDT elegeu como vereador mais votado o então estudante de veterinária Higino Zacarias de Sousa.
Fase de fartura
Até a década de 1980, os prefeitos administravam a escassez de recursos, mas ainda assim conseguiam realizar um bom trabalho, lembra Fábio Silva. “E os vereadores nem tinham salário.”
Na primeira metade dos anos 80, a mineração entrou em decadência com a descoberta de cassiterita em grande quantidade no estado de Rondônia, o que inviabilizou a produção local. Mas o município passou a ser beneficiado com mais recursos federais, o que facilitou a vida dos prefeitos e vereadores, favoreceu o clientelismo e aumentou as possibilidades de corrupção.
Houve uma mudança de perfil, resume o arquiteto. “A coisa desandou.” De um lado, os recursos mal aplicados e o favoritismo a grupos de amigos e aliados, ou seja, “falta de olhar coletivo”. De outro, um município carente de oportunidades de trabalho e de alternativas de geração de renda. “A decadência da mineração e essa nova forma de administrar trouxeram um retrocesso. Vão-se completar 30 anos de não-crescimento.”
Com exceção das atividades agropecuárias, diz Silva, o município não teve outra atividade econômica forte. Com isso, a população começou a deixar a cidade em busca de alternativas de trabalho. “Nos últimos 16 anos, a população só descresceu, caiu de sete mil para 4,9 mil habitantes.”
Da década de 90 para cá, a proporção da população no meio rural girou em torno de 40%. Sem vínculo com a cidade, essa população aproximou-se dos municípios vizinhos, como Resende Costa, São Tiago, Coronel Xavier Chaves e São João del-Rei. “Isso enfraqueceu ainda mais a nossa economia, pois eles vendem, compram e investem nesses municípios.”
Para Silva, os produtores rurais, que se sentem abandonados pela administração do município, “tem uma visão política melhor do que a da população urbana. Não tem pobreza absoluta no meio rural”. Por outro lado, “se o município teve alguma melhoria nos últimos anos, foi graças à política nacional que beneficiou a todos”.
O arquiteto considera que os maiores empregadores do município são, na área urbana, a prefeitura – que “foi transformada em cabide de empregos” – e a vizinha São João del-Rei (construção civil, comércio e serviços domésticos), enquanto o setor rural ainda continua a ser grande fonte de ocupação de mão-de-obra.
Desafios
O primeiro passo para mudar é a população se conscientizar de que existem “outros caminhos que não seja a falsa ilusão de emprego na prefeitura, por exemplo”, diz Silva. Além disso, ele defende que a prefeitura se profissionalize e se organize para captar recursos externos na forma de projetos (turismo, artesanato, pequenas indústrias de alimentos, floricultura etc.), em vez de sobrecarregar, sem critério, a população com taxas e impostos.
O arquiteto pede um estudo comparativo com os municípios vizinhos, principalmente de impostos sobre imóveis e taxas municipais, a fim de definir um critério justo e igual para todos na cobrança de impostos e taxas. Também propõe que se explore o aspecto urbano (arquitetônico, urbanístico etc.) como meio de atrair novos moradores preocupados com qualidade de vida, mesmo que trabalhem em cidades vizinhas.
A falta de uma atividade econômica que se mostre promissora ao município, tal como se verifica em algumas cidades da região, se deve a um conjunto de fatores que, independentemente do grau de participação de cada um deles, contribuem para a decadência da economia ritapolitana, observa Frederico Santos que é também primeiro-secretário das Obras Sociais da Paróquia e conselheiro/secretário da Fundação Lara Resende. Em primeiro lugar, ele cita a falta de incentivo do poder público, “que não adota uma política de fomento ao desenvolvimento, deixando de atrair empreendedores e, consequentemente, deixando de gerar empregos”.
Na sua visão, a administração municipal restringe-se a obras públicas, manutenção dos serviços públicos essenciais e funcionamento da estrutura burocrática dos órgãos municipais. “Não há incentivo às atividades econômicas, ao turismo, à capacitação profissional, o que se poderia dar mediante aliança com outras instituições.” Ritápolis, por exemplo, não integra o Circuito Turístico Trilha dos Inconfidentes, embora seja berço do líder dos inconfidentes, o Tiradentes.
Também falta mais determinação do povo ritapolitano, pouco adepto ao associativismo e ao cooperativismo, opina Santos. “Falta sair do comodismo, correr atrás, liderar, capacitar-se, investir e arriscar. Desta forma, é preciso que a comunidade busque uma atividade econômica com potencial e que estas iniciativas sejam incentivadas, subsidiadas, acompanhadas e fortalecidas pelo poder público, de forma que a cidade e sua população se desenvolvam com geração de renda e emprego.”
Enfim, as administrações municipais necessitam de visão mais aberta aos diversos problemas da comunidade, diz Santos. “Comunidade esta que também precisa ter maior participação na vida pública da cidade, frequentando reuniões do Poder Legislativo e cobrando providências do Poder Executivo.”
Ritápolis precisa ainda aprimorar muito questões essenciais ao bem estar de sua população e, para isso, urge a efetiva atenção da administração pública, enfatiza Santos. “Na área da saúde, por exemplo, a situação municipal sempre foi precária. As unidades de saúde carecem de médicos para atendimento 24 horas à população, possuindo quando muito acadêmicos em medicina. O Hospital Santa Rita (hoje relegado a UBS) tem plantão deficiente, frequentemente composto apenas de motorista e auxiliar de enfermagem.”
Quanto à infraestrutura urbana, prossegue Santos, talvez um dos problemas mais urgentes refere-se ao saneamento básico, especificamente o esgotamento sanitário, não existente na cidade e cuja implantação pela Copasa foi rejeitada pela Câmara Municipal. “Mas as deficiências são várias, incluindo problemas a princípio simples, como limpeza de ruas, ruas ainda não iluminadas ou iluminadas parcialmente, calçamento etc.”
Além disso, a cidade não oferece emprego à juventude que ingressa no mercado de trabalho, complementa Santos. “Por isso, a maioria migra para buscar emprego em outras cidades, se já não migrou para estudar um curso superior, o que justifica o declínio populacional verificado nas últimas décadas. Na cidade, estarão restritos a laborar nos pequenos comércios, no campo ou nos órgãos públicos. Faltam, portanto, boas oportunidades de trabalho para a população.”
Ritápolis, depois da cassiterita, a procura de rumo para economia local
Política
José Venâncio de Resende 09/04/20121

Praça da Matriz, com destaque para a estátua de Tiradentes
Leitor do JL - 09/04/2012
O esgotamento sanitário feito pela COPASA será de grande importância para a saúde dos moradores e não suja os lençóis freáticos alem de diminuir a possibilidade de doenças na população.
A população deveria cobrar da Camata a mudança de pensamento e aprovar o assunto do assunto do esgoto local.
A cidade está crescendo e o pior virá com o tempo.