Substituição de paralelepípedos por asfalto em algumas ruas da cidade é questionada pelo Conselho Municipal de Patrimônio e Cultura


Vanuza Resende


Calçamentos de paralelepípedos da Praça Dom Lara e da Rua 7 de Setembro foram substituídos por asfalto

Encerrando o segundo mandato como prefeito de Resende Costa, Aurélio Suenes deu início a obras de asfaltamento ou calçamento de diversas ruas da cidade. De acordo com o agora ex-prefeito Aurélio, a Prefeitura Municipal possui em vigor três contratos para execução de obras de asfaltamento de ruas, dois deles na Avenida Tiradentes, a nova avenida, que inclui trecho da rua Heloisa Macedo Lara e da Rua Vicente Penido, no Bairro Nossa Senhora Aparecida. “O contrato da primeira etapa (das obras) é de recursos de emenda parlamentar do deputado federal Diego Andrade. Já o contrato da segunda etapa é com recursos provenientes do pré-sal. O outro contrato de recapeamento ficou no valor de 832 mil reais e são recursos da CFEM (compensação pelos efeitos de exploração mineral)”, explica Aurélio Suenes.

Além de vias recapeadas com asfalto na cidade, há locais em que a prefeitura optou pela utilização de bloquetes, sobretudo em trechos de estradas rurais e em povoados. Há também ruas no centro urbano de Resende Costa que estão sendo calçadas com bloquetes. De acordo com Aurélio, a grande maioria dessas obras será concluída no decorrer deste ano.

 

Discordância

A substituição do calçamento com paralelepípedos por asfalto em alguns logradouros no centro da cidade, no final de 2020, causa polêmica entre o Conselho Municipal de Patrimônio e Cultura e o Executivo Municipal. O presidente do CMPC, Edésio de Lara Melo, não concorda com a intervenção, especialmente na Praça Dom Lara e na Rua 7 de Setembro. “O paralelepípedo, além de ecologicamente correto, é mais bonito e não contribui para que automóveis circulem em alta velocidade. Ele nos liga à nossa bela Resende Costa do século passado, à década de 1940 em diante, especificamente. Se bem instalado, ele é para sempre. Único maltrato que recebe são os trabalhos de manutenção mal feitos. O paralelepípedo contribui diretamente para a retenção da água da chuva, portanto é ecologicamente correto. Sua manutenção é barata, não demanda mão de obra especializada para a execução dos serviços”, argumenta Edésio.

Contrapondo o conselho, Aurélio Suenes diz: “O meu ponto de vista é diferente. As ruas onde estão sendo feitas as intervenções não fazem parte do nosso entorno (do centro) histórico. Se esses calçamentos ainda existissem nas proximidades da igreja matriz, eu não seria louco de retirá-los. Se seguirmos o ponto de vista do Conselho, não poderíamos também asfaltar as ruas calçadas com pedra quebrada, pois elas possuem características parecidas.”

 

Locais escolhidos para obras

Edésio Lara reconhece que em alguns locais na cidade existe, sim, necessidade da substituição dos calçamentos. “Eu sei que algumas ruas precisam desses serviços. Algumas precisam de manutenção, como a (rua) José Jacinto. Há ruas que são verdadeiras armadilhas. Mês passado, duas senhoras da cidade de Lagoa Dourada tiveram seu automóvel agarrado em um buraco: a rua (onde o fato ocorreu) não tem sequer cascalho. Foi preciso uma retroescavadeira ser chamada ao local para retirar o carro. Agora estão jogando entulho na rua para ver se os carros podem passar por ela. Por que não investir nessas ruas que não têm nada, só terra batida?”, questiona o presidente do Conselho de Patrimônio.

Aurélio disse que, para a execução das obras, “as ruas foram escolhidas de acordo com o nível de conservação e com a demanda dos moradores. Infelizmente as obras de implantação da rede de esgoto deixaram as ruas em condições bem ruins.”

 

Conselho fala sobre descaracterização e prejuízos ao turismo; prefeitura discorda

O CMPC defende que o asfaltamento pode prejudicar questões ligadas ao turismo. De acordo com o presidente do órgão, turistas que visitam a cidade “não querem ver asfalto. Eles (turistas) gostam de ver ruas e lugares com calçamento original, ou seja, os paralelepípedos que são vistos em tantas ruas de cidades históricas de Minas, como Diamantina e Ouro Preto”. “Se quisermos cuidar da imagem da cidade, preservando o que há de bom, bem acabado e bonito, não é com asfalto que vamos conseguir isso. A riqueza que temos dos nossos calçamentos vem sendo coberta com asfalto”, lamenta Edésio.

Mais uma vez, Aurélio discorda: “Seria óbvio e fácil concordar se os paralelepípedos estivessem no entorno da Matriz. Isso, sim, seria algo muito bom para o nosso turismo. Diamantina e Ouro Preto têm um patrimônio histórico que não se compara com o de Resende Costa, mas, mesmo assim, possuem ruas com asfalto e bloquetes. Portanto, o que faz sentido é sempre a localização. Esse é o meu ponto de vista e o de várias outras pessoas com quem já conversei sobre o assunto.”

Aurélio enumera algumas possíveis intervenções no centro da cidade que, em sua opinião, são importantes para a preservação do patrimônio histórico e arquitetônico de Resende Costa. “Entendo que possa ser um objetivo realizável em médio prazo restaurar os pavimentos do nosso entorno histórico, a começar pela praça Nossa Senhora de Fátima, em frente à Câmara Municipal. No meu ponto de vista, isso, sim, faz sentido.”

 

Conselho e Prefeitura

O CMPC informou que deu início ao processo do tombamento de algumas ruas da cidade, cujos calçamentos de paralelepípedo estão sendo substituídos por asfalto. Porém, a ação está sendo realizada concomitantemente às obras. Os dois lados (conselho e prefeitura) foram questionados pela reportagem do JL sobre como foi o diálogo entre eles nos últimos quatro anos acerca da preservação do patrimônio histórico e cultural de Resende Costa. “A única coisa com a qual não concordamos foi em relação a essa questão dos paralelepípedos e também sobre a instalação de academias ao ar livre em alguns locais, como o Mirante das Lajes, por descaracterizarem o local”, avalia Edésio Lara. O ex-prefeito Aurélio, que deixou o governo do município no último dia 31 de dezembro, elogiou a relação do Executivo com o Conselho de Patrimônio. “Sempre tivemos uma relação de respeito mútuo. Até então sempre havia concordado e apoiado as decisões do Conselho. Mas essa questão do tombamento dos calçamentos de paralelepípedos nos locais onde estão não faz sentido algum”, pondera.

O Conselho Municipal de Patrimônio e Cultura sugere à gestão municipal que realize uma campanha de conscientização com a população sobre a importância da preservação dos calçamentos de paralelepípedos.

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