Uma visita guiada ao polo turístico do Povoado dos Pinto


José Venâncio de Resende


A capela de São Geraldo é um marco religioso, além de atrativo turístico do povoado dos Pinto (foto Sicoob Credivertentes/Vertentes Cultural).

O Povoado dos Pinto, considerado berço do artesanato resende-costense, começa a consolidar-se como um importante Polo de Turismo Rural, de Experiência e Sabores Mineiros da Capital Nacional do Artesanato Têxtil. Localizado aproximadamente a 12km da zona urbana de Resende Costa e a 24km de São Tiago, o povoado reúne, e não é de hoje, gente criativa e empreendedora, em volta do fogão e do forno a lenha, dos teares, da fábrica de queijos e doces, do apiário e da cachoeira, de acordo com a reportagem Povoado dos Pintos: tecendo o Turismo, da revista Vertentes Cultural, editada e publicada pelo Sicoob Credivertentes.

História, cultura, localização estratégica e qualidade dos serviços oferecidos são a chave para o sucesso do Povoado dos Pinto. O guia de turismo José Claudinei de Assis, o Nei, e a esposa Mariana Reis Sousa, que cuidam do receptivo no povoado, começam a rotina logo cedo, atendendo de 2 a 20 pessoas por vez de Resende Costa, São Tiago e mesmo de outros estados. “Agora, ônibus de excursão, como já houve interesse, a gente ainda não conseguiu atender. Nessa estrada de terra não é qualquer um que coloca ônibus. E também o acesso à Fazenda Pimenta e a Grota do Recreio não é indicado para ônibus. Aí teria de distribuir o pessoal em vans, fazendo grupos menores”, diz Nei.

A maioria dos passeios começa pela manhã, no mirante da capela (de São Geraldo, padroeiro do povoado dos Pinto), onde Nei Assis resume a história do povoado, desde a chegada ao Brasil dos teares manuais, trazidos pelos colonizadores portugueses. Já na Inconfidência Mineira, dois inconfidentes de sobrenome Resende Costa e seu parentesco com outros sobrenomes, como os Pinto de Góes e Lara, integravam uma linhagem de fazendeiros riquíssimos, proprietários de escravos, que estão na origem do povoamento na região. “Na época, também era função deles (os escravos) fazer vestes para si e para seus senhores. E todo o processo começava com a tecelagem manual, tecendo o algodão. Essa é a origem do famoso artesanato resende-costense.” Sob as bênçãos de São Geraldo, o santo da capela do Povoado dos Pinto, “meu avô foi batizado como Geraldo Magela e era devoto. Então puxou o movimento pela construção desse lugar de fé num terreno cedido pelo meu bisavô (José Carlos de Assis, filho)”, conta Nei. José Carlos era neto do capitão Pinto.

 

Roteiro

Dali, partem para o café da manhã no Biscoitos Caseiros da Jô, um cantinho especializado em quitandas assadas no forno de lenha. A receita é de Josiane Silva, que se define como “uma dona de casa, filha, esposa e mãe”, e também “Quitandeira”. Junto com a sogra Dulcinéia Silva, a Néia, faz fornadas de biscoitos como os clássicos de fubá e coco ou de amendoim; rosquinhas, inclusive zero lactose; broinhas; roscas; e pães. E não podia faltar o irresistível pão de queijo, além de surpresas como pamonha assada na folha de bananeira. As receitas vêm de família, conta Jô, de cadernos guardados por vizinhas e dos ensinamentos de Dona Néia. Iguarias servidas quentinhas no café da manhã e pacotinhos de biscoitos vendidos na cidade. E ainda há os “cafés coloniais” servidos num típico carro de boi em plena varanda.

A próxima parada é no Memorial e Ateliê Duas Irmãs, onde Nei Assis conta a história da chegada do artesanato na região e apresenta o acervo. A modesta casinha que abriga o Memorial e o Ateliê também tece enredos de maneira comunitária, com o estímulo de Mariana Reis. O terreno pertence à família de Nei, que construiu o lugar, uma casinha de adobe e cobertura de palha, cuidada por Heloisa Silva. Ali está guardado um acervo precioso, de peças de até 100 anos - as origens do artesanato que move Resende Costa. De ferramentas dos escravos no século XVIII, os teares ganharam outra função. As senhoras da fazenda viram naquele movimento “uma oportunidade de ocupar o tempo ocioso”, explica Nei, surgindo assim as tradicionais “tecedeiras”. E passaram a dar serviço para outras pessoas. “Meu pai (João Batista da Silva), por exemplo, era tropeiro. E nos anos 1940 viajava estradas afora vendendo colchas de Resende Costa”, conta Heloisa, que aprendeu a fazer peças no tear duplo com a irmã Dulcinéia. E o visitante pode experimentar um pouquinho da sensação de manusear um tear.   

Em seguida, o grupo vai para o Meliponário Grota do Recreio, de Antônio Orlando de Mendonça, onde há oportunidade de degustação de meles de diferentes cores, aromas e texturas num cenário aberto. Acostumado a ver o Globo Rural aos domingos quando morou na cidade de São Paulo, Orlando Mendonça teve a memória reavivada por uma reportagem. “Meu pai criava abelhas no quintal e, quando eu era criança, ganhei duas jataís numa cabacinha. Nunca me esqueci do fascínio que eu sentia.” Voou para o Povoado dos Pinto, onde cria pelo menos 15 espécies de abelhas nativas sem ferrão, distribuídas em 80 colmeias, que se tornaram locais de visitação e aprendizado. Essa última parte a cargo do seu filho, Antônio Orlando de Mendonça Júnior, que é professor de língua portuguesa com um pé na biologia.

A próxima etapa do passeio é a Fazenda Pimenta - Casal Gastrô, onde são apresentadas as instalações e há degustação de queijos e outros produtos como requeijão, geleias, doces, molhos e defumados - tudo de forma artesanal, natural e sustentável. O ex-advogado Claudio Ruas Pinto, o Cacau, e a especialista em vinicultura e enologia, Amanda Torres, recebem os visitantes com uma vasta história pra contar. O Casal Gastrô é pioneiro no resgate do autêntico Queijo Minas Artesanal (QMA), em Resende Costa. Recorde-se que, desde dezembro de 2024, os “modos de fazer Queijo Minas Artesanal” são Patrimônio Cultural Imaterial da Humanidade, título conferido pela Unesco. Cacau e Amanda vão contar que resgataram a receita do verdadeiro QMA, originário das ilhas do Pico e de São Jorge no arquipélago português dos Açores e vindo, inicialmente, para a região de São João del-Rei. Uma de suas características, além do leite cru, é que leva o “pingo” (fermento lácteo natural extraído da produção do dia anterior) e também é maturado/curado em prateleiras de madeira e à temperatura ambiente (por 22 dias), como determina a legislação.

Dependendo das condições do tempo e do interesse do grupo, passa-se pela Cachoeira dos Pinto, um cartão postal do povoado. Esta parte da visita é finalizada com almoço na Cantina da Tia Josi. Os visitantes serão recebidos por Miriam Joseane Pinto de Assis, que se reveza entre o Biscoitos Caseiros da Jô e o próprio empreendimento. Nada como um molho pardo preparado por ela no fogão a lenha. Joseane ainda capricha no arroz soltinho; no feijão; no salpicão; no torresmo e na batata frita crocantes; no frango caipira do jeito que só mineiro faz; e também na couve refogada. Tudo servido para grupos de, no máximo, 20 pessoas em duas áreas externas. “Para mim e paro meu esposo, Zé Carlos, é como se estivéssemos recebendo a família ou amigos muito queridos para almoçar”, contou à revista Vertentes Cultural.

O percurso pode finalizar-se na cachoeira se alguém quiser banhar-se, explica Mariana. “Mas o itinerário fica a critério do grupo. Pode fazer o passeio completo, que dura em torno de 8 horas, sendo que a maioria prefere. Mas a gente pode adaptar para um percurso mais curto. O pessoal em geral vem de pousadas na cidade de Resende Costa para o café da manhã.” 

Mariana ainda espera contar com grupos hospedados no Chalé Recanto Feliz para fazer o percurso turístico com Nei Assis. Cássia Resende é a anfitriã do charmoso e bem localizado chalé, ideal para famílias ou grupos de até oito pessoas (dois quartos, um no andar inferior com cama de casal e outro no superior com varanda e vista para a cachoeira). A ideia do chalé vem de alguns anos atrás fruto de experiência vivida em outras regiões fora do povoado. “Pretendo investir bem mais e diversificar, sou bem fora da caixa, amo este tipo de coisa”, revela Cássia.

O projeto de Desenvolvimento Turístico de Resende Costa tem como parceiro o Sicoob Credivertentes, que inclusive patrocinou o encarte de divulgação do case de Turismo de Experiência do Povoado dos Pinto. São apoiadores do projeto e do encarte a Prefeitura Municipal de Resende Costa, por meio da Secretaria de Turismo, Artesanato e Desenvolvimento Econômico; o Conselho Municipal de Turismo (COMTUR); ASSETURC (Associação das Empresas do Turismo e do Artesanato de Resende Costa), Centro de Desenvolvimento São Geraldo - Povoado dos Pinto, Emater, Senar, Sebrae e Trilha dos Inconfidentes.

 

Diversificação

“Uma iniciativa estratégica para o desenvolvimento regional, ao promover a valorização da cultura local, a geração de renda e o fortalecimento da identidade das comunidades rurais”, diz Edmar de Assis, secretário Municipal de Turismo, Artesanato e Desenvolvimento Econômico.

Para ele, o polo vem contribuindo para a diversificação da economia local e a permanência das famílias no campo, gerando novas oportunidades a partir das tradições, tendo como base na integração de atrativos como o artesanato têxtil, a gastronomia típica, o turismo de experiência e o resgate da história do povoado.

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