Universidade de Coimbra identifica trajetos urbanos onde ciclistas estão menos expostos a poluentes

Outro projeto da Universidade de Coimbra é o programa informático que vai permitir antropólogos e arqueólogos identificar e caracterizar o sexo de esqueletos humanos.


Ciência e Tecnologia

José Venâncio de Resende0

Parque Verde do Mondego em Coimbra (fonte: www.centerofportugal.com/pt/).

Ciclistas poderão escolher trajetos urbanos onde estarão menos expostos a poluentes. A metodologia foi desenvolvida por pesquisadores (investigadores) da Universidade de Coimbra (UC). O estudo, financiado pela Fundação para a Ciência e Tecnologia (FCT), foi publicado na revista internacional “Transportation Research D”.

A metodologia compara rotas alternativas para ciclistas, considerando «não apenas a distância e o tempo de viagem, mas também o esforço e a exposição a poluentes resultantes das emissões de tráfego», explica Anabela Ribeiro, coordenadora do estudo e docente no Departamento de Engenharia Civil da Faculdade de Ciências e Tecnologia (FCT). O modelo foi testado e validado em dois trajetos diferentes.

Numa primeira fase, a equipe calibrou a relação entre o esforço dos ciclistas e a inalação de poluentes, em laboratório, tendo em conta as características da pessoa, da bicicleta e do meio envolvente onde é efetuado o trajeto. Para a validação “in situ” foi usada uma bicicleta instrumentada.

O estudo concluiu que, «com um acréscimo de entre 5 e 6 % na distância e tempo de viagem [trajeto via Parque Verde e Sá da Bandeira], consegue-se uma redução de cerca de 30% na inalação de poluentes. Além disso, o esforço total despendido pelos ciclistas em ambos os trajetos é praticamente o mesmo, ou seja, a rota do Parque Verde não exige nenhum esforço adicional, embora seja mais longa, e até requer menos esforço médio nas subidas», explica a pesquisadora. Assim, é possível ser realizado sem grande esforço por um adulto, com preparação física dentro de valores médios.

Assim, «trajetos mais rápidos ou mais curtos podem não ser os melhores no que respeita à exposição a poluentes ou ao esforço médio exigido», observa Anabela Ribeiro.

A metodologia poderá ser uma ferramenta poderosa de apoio à decisão tanto de autarquias (prefeituras) como dos cidadãos, acrescenta. «Por exemplo, com base em informação sólida, os municípios poderão decidir quais os melhores locais para instalar uma ciclovia do ponto de vista da exposição a poluentes».

Já para os cidadãos, e através de uma plataforma amiga do utilizador, «poderão decidir se preferem o trajeto mais rápido ou um alternativo menos sujeito a poluição. Em simultâneo conseguem identificar as ruas ou os percursos onde terão de efetuar mais ou menos esforço», exemplifica.

O estudo está em novas fases de desenvolvimento e aprofundamento, de modo a consolidar os resultados obtidos e a torná-los diretamente úteis para a sociedade.

Identificação de sexo de esqueletos humanos

Um programa informático que vai facilitar o trabalho de antropólogos e arqueólogos no processo de identificação e caracterização do sexo de esqueletos humanos, quer em contexto forense quer em contexto arqueológico, foi desenvolvido por pesquisadores da UC e da Universidade de Oxford. Trata-se do “CADOES: Classificação Automatizada de Dados Osteométricos para Estimar o Sexo” e os resultados da pesquisa foram publicados na revista “Forensic Science International”.

O programa, desenvolvido pelos pesquisadores Francisco Curate (FCT-UC) e João Coelho (Universidade de Oxford), partiu dos dados de um trabalho realizado em 1938 pelo cientista José Antunes Serra – uma descrição antropológica clássica do complexo pélvico de uma amostra de restos esqueléticos portugueses do final do século XIX ao início do século XX, que incluiu 256 indivíduos (131 mulheres e 125 homens) da Coleção de Esqueletos Identificados da Universidade de Coimbra.

Com base nesses dados, «desenvolvemos diferentes algoritmos de classificação que geram modelos osteométricos de elevada precisão, sendo possível analisar 38 variáveis do complexo ósseo pélvico (altura da bacia, ângulo púbico, ângulo sacro-pélvico, conjugata obstétrica, etc.), ou seja, com os dados em bruto fornecidos no trabalho descritivo de 1938, criámos novas abordagens para a estimativa de sexo com base em características morfométricas do complexo ósseo pélvico», diz Curate.

Os pesquisadores centraram-se na região pélvica pelo fato de esta ser a região do corpo humano que apresenta maior grau de dimorfismo sexual e por assumir grande importância na identificação do sexo. Por sua vez, é um passo fundamental para estabelecer o perfil biológico de esqueletos humanos, como, por exemplo, saber a idade que o indivíduo tinha à data da morte ou a sua estatura.

O CADOES está disponível gratuitamente no site responsivo “osteomics.com”, onde é possível aceder a outros sistemas desenvolvidos por pesquisadores do Laboratório de Antropologia Forense da FCT. Sua mais valia “é a flexibilidade, permitindo efetuar um conjunto alargado de análises de forma rápida. É um sistema user friendly (amigo do utilizador) que pode ser usado por qualquer investigador em qualquer parte do mundo», salienta Francisco Curate.

Este programa permite também trabalhar com pequenos fragmentos de ossos, o que representa um avanço na identificação de esqueletos, dado que, «infelizmente, a pélvis é uma região que se preserva menos bem, que se fragmenta muito», esclarece o pesquisador.

Além de facilitar o trabalho da comunidade científica da área, este novo programa informático tem um grande potencial como recurso pedagógico, «podendo ser utilizado em sala de aula para explorar a anatomia da região pélvica, por exemplo em escolas secundárias», finaliza Francisco Curate.

Mais informações estão disponíveis no site http://www.uc.pt/

Fonte: Cristina Pinto - Assessoria de Imprensa da UC

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