Vida difícil de uma coveira em São João del-Rei


Cidades

José Venâncio de Resende0

Roseli Cristina da Silva Magalhães, coveira do Cemitério Municipal (Foto: José Antônio de Ávila).

Roseli Cristina da Silva Magalhães, 55 anos, é uma das duas coveiras do Cemitério Municipal do Quicumbi, em São João del-Rei. Há cinco anos na profissão, por “dom de Deus”, confessa que esta é uma atividade difícil, porque se lida com muita dor. Confessa, ainda, que no início da pandemia ficou apavorada porque nada se sabia sobre a gravidade do novo coronavírus. “Mexeu muito com o meu psicológico. Agora, eu levo uma palavra de conforto para as famílias. Oro muito para essas famílias porque eu sinto a dor delas.” Cristina é cristã da Assembleia de Deus.

Vacinada há cerca de dois meses com as duas doses, ela fala um pouco do seu cotidiano no Cemitério Municipal neste tempo de pandemia. Sempre trabalha em dupla com um coveiro. Recentemente, houve uma semana (17 a 24 de abril) em que fez dois enterros por dia. Mas já houve dia em que chegou a fazer três sepultamentos de vítimas de Covid-19. “Antes, a gente perguntava à funerária se era morte por Covid ou natural; agora já nem precisa perguntar, eles vão logo avisando.” Se for vítima de Covid-19, Cristina tem de se paramentar a rigor com o EPI (Equipamento de Proteção Individual); se for de “morte natural”, basta o uniforme de trabalho.

As vítimas de Covid-19 são enterradas “no chão” (antes destinado às pessoas carentes), em covas cujo prazo (de cinco anos) já venceu, conta Cristina. Os restos mortais retirados dessas covas são levados para o ossuário geral ou, se a família preferir pagar, para um particular. As “sepulturas covid” são identificadas tanto no livro de coveiro quanto no da administração. Com a pandemia, o falecido por “morte natural” é sepultado preferencialmente em gaveta.

Durante o sepultamento, os familiares das vítimas de Covid-19 não podem passar de 10 pessoas e devem manter-se à distância de 1,5m da coveira. “Depois que eu tampo a metade da urna, podem chegar perto (sem aglomeração), mas as flores eu mesma prefiro colocar”, conta Cristina.

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