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Água com açúcar

16 de Dezembro de 2021, por José Antônio

Parece filme água com açúcar... Olho para trás e me vejo criança em dias de Natal. Lojas abertas até tarde... o entra e sai insistente... as calçadas abarrotadas... embrulhos coloridos prometendo a felicidade dos presenteados... encontros, abraços, sorrisos alegres... frases de “Feliz Natal” e “Próspero Ano Novo”...

Ao longo da avenida, músicas natalinas na Harpa Paraguaia... luzes piscando nas ruas... vitrines ricas à espera de pais abastados (ou corajosos)... vitrines humildes oferecendo brinquedos também humildes, à espera de pais que, apesar de ganharem pouco, sempre se lembram dos filhos...

E lá no fundo do coração, aquele sentimento de uma paz alegre, de uma alegria simples, de uma simplicidade divina.

Lembro-me das vésperas do Natal. Minha avó me mostrando os preparativos do almoço: os frangos já escolhidos, as carnes já temperadas, os doces nas compoteiras, a árvore iluminada, ainda sem os presentes. Quase meia-noite, hora da Missa do Galo. Todos em frente ao presépio... a imagem do Menino Jesus dentro da gruta. Momento de emoção... parecia que Ele se acomodava em cada coração ali. Rezávamos agradecendo mais um Natal. E íamos para a missa. Lá, ficava eu dividido entre o dever litúrgico e o pensamento nos presentes e na festa do dia seguinte.

De manhã, despertava com o alarido das crianças que acordavam antes de mim e que já tinham ido para a rua brincar e exibir suas novidades. Levantava-me num pulo, corria até a árvore e abria os meus presentes com avidez. Mesmo duvidando, esforçava-me para acreditar que fora Papai Noel que os deixara ali.

Hora do almoço: todos rumavam para a casa de minha avó. E a família toda começava a se compor. Meus primos chegavam também com seus brinquedos e a casa virava um espaço de infinito e de harmonia. Ainda ecoam em mim as vozes agudas de nós crianças fazendo festa, jogando piadas inocentes na hora do almoço, explicando cada brinquedo que ganháramos, falando que nenhuma porção de comida caíra do prato... E minha avó olhava tudo aquilo, deixando sua felicidade transbordar em seu sorriso. Nossos pais nos abraçavam e todos nos sentíamos em paz.

Sim, tudo isso passou. Parece filme água com açúcar. Mas como fazem falta a água e o açúcar em cenas de hoje! Como seria bom se houvesse uma água pura para que lavasse tantas coisas tristes que a gente vê no Natal: crianças e famílias que jamais tiveram chance de ter um Natal feliz e em paz... países que sempre estão em guerra no dia 25 de dezembro... pessoas que sempre estão solitárias no dia do nascimento de Cristo... Falta o açúcar no paladar de alguns tantos natais.

Aquela vontade de chorar no Natal, sem sabermos por quê... Talvez seja fácil explicar: o verdadeiro dono da festa muitas vezes não é convidado. Justamente no seu aniversário, muitos se desviam do aniversariante e se concentram na festa. É mais cômodo pensar em comida e bebida, presentes e roupas, viagens e shoppings, Papai Noel e trenó... Lembrar-se do dono da festa é lembrar-se de Jesus Cristo. E lembrar-se de Jesus Cristo é também lembrar-se de crianças que morrem de fome enquanto outras são violentadas e até mesmo prostituídas; políticos enganam nações e comunidades enquanto muitos votam sem lucidez; pessoas são assassinadas enquanto outras se desesperam por não terem emprego...

Acho que é por isso que ficamos com vontade de chorar no Natal: Jesus Cristo achou lugar para nascer e se instalou em nossos corações, deixando-nos grávidos de divindade. Mas sempre atrasamos o parto, por causa de comodismos e receios. Os esforços do Cristo dentro de nós nos fazem lembrar que o tempo pede o seu nascimento... e choramos frente ao medo de sermos felizes.

Mesmo assim, desejo a você um Feliz Natal! Que o seu Ano Novo seja um novo ano, porque você deixou Jesus nascer... e aceitou as suas consequências!

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