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Amor corpóreo

29 de Marco de 2023, por José Antônio

Traçam o amor como um rio: seguro de seu curso, jamais parado, desaguando na infinitude do oceano... Pintam o amor como uma flor: singelo, efêmero, nobre, natural... Versificam o amor como contradição: dor sem doer, contentamento sem contentamento, eterno enquanto não acaba...

Meu traço é torto e não sei pintar. O que me resta é escrever sobre o amor. Devo a meu corpo o ofício de escrever. Meu corpo, companheiro inseparável... confidente tão íntimo que assume em seus órgãos, músculos e glândulas os mais recônditos sentimentos da minha alma.

E é assim, ó minha amada, que vou dizer do amor: juntando palavras e corpo, pois é desse jeito que o amor se declara.

Meu corpo fala de amor em todas as suas fibras. Amo-te, ó minha amada, com unhas e dentes. E grito com a força dos pulmões um verso que sussurra ao pé de teu ouvido. Amo-te a ponto de te comer com os olhos e fazer ouvidos de mercador ao não do instante.

Amada minha, só de pensar em tua distância, meu queixo bate e minha solidão fala teu nome pelos cotovelos. Por isso, não te afastes do meu amanhecer. Osso de meus ossos, tu és costela cúmplice de tantos paraísos, frutos, expulsões e perdões.

Meu coração é testa de ferro do meu dia a dia. Vive arranhado e arranhando. Sempre com o cabelo em pé e a pulga atrás da orelha. Mas dou de ombros... o que se há de fazer? Meu coração tem costas largas e um rei na barriga. Jamais deixa se aquietar, incomoda o esqueleto e me leva a pescoçar teus movimentos, ó amada.

E quando estás assim, corpo vivo em minha mão leve, meu sangue ferve à flor da pele; são borbulhas de uma ousadia que transforma o momento em tudo, a palavra em literatura... e faz das tripas coração para sempre abrigar teu corpo e tua alma em minha alma e meu corpo.

É assim, minha amada, que meu corpo se faz amor.

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