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Soluções caseiras, grandes negócios

18 de Julho de 2018, por José Antônio

Há um tipo de criatividade que é especialista em reinventar o que já está inventado. A ciência desse tipo de criação é o improviso. É como andar pulando de pedra em pedra num riacho: você se apoia nas pedras que já estão lá para chegar a um lugar que não está lá.

Criança quando brinca é assim. De repente, em suas mãos uma toalha velha vira a capa do super-herói... o sofá da sala se transforma em nave espacial... a boneca inerte passa a ser um bebê ou mesmo uma amiga...

É uma criatividade que dá funções novas ao que exerce funções velhas.

Meu amigo Leovaldo... sempre cismado, sempre angustiado com as suas neuras. Leovaldo é mais cismado do que ateu lendo o Apocalipse. Pois o Leovaldo cismou que precisava branquear os dentes a poucos minutos antes de sair com uma garota. Quem sabe seria ela a mulher dos seus sonhos? E se fosse, pretendia recebê-la com um sorriso limpinho e clarinho. E o Leovaldo acabou bochechando água com Vanish, aquele tira-manchas de roupas. Botou tudo num copo e mandou ver.

Um dia me contaram que a mãe do Leovaldo já filtrou água no coador de café...

E o Abelardo? Fazendeiro idoso, turrão e prático. O tempo esfriou que até fez geada. O velho Abelardo encasquetou de aquecer as tetas das suas vacas lá no pasto. Como agasalhar o peitoral úbere das vacas? Foi aí que a inteligência prática agiu. Abelardo arranjou um monte de luvas e encaixou todas nos mamilos das bovinas. Acabara de inventar o sutiã de vaca!

Recriar não significa reinventar a roda; significa fazer a roda girar de modo diferente... ou até mesmo de modo esquisito.

Talvez tenha sido isso que o Mané Cráudio, outro amigo meu, fez. Mané Cráudio é exímio pagador de mico. Paga tanto mico que é capaz de babar no seu próprio velório. Mês passado, ele deixou a barba crescer. Só que apareceram muitos pelos brancos e o meu amigo ficou parecendo que engoliu a Branca de Neve e não passou guardanapo na boca. Mantendo a sua natureza miquesca, preservou a barba... e escureceu-a com pincel atômico preto, desses comprados em papelaria mesmo.

Quando ele aparecia na rua com aquela barba mal colorida, a gente não falava... mas pensava:

“Lá vem o Karl Marx tostado...” “Lá vai o Papai Noel torrado...”

As soluções caseiras são grandes negócios no mercado do ridículo. No entanto, resolvem.

Já fiz aparecer água lá em casa num rápido período de seca no bairro: derreti tudo quanto era gelo do meu freezer! Ridículo, porém consegui água. Outra vez, apareceu uma barata na minha sala. Não piso em baratas nem a decreto. O pior é que o inseticida tinha acabado. Esborrifei perfume na barata. Não é que ela morreu?

A necessidade é a mãe da invenção. Mas quem cria mesmo é a cara de pau!

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