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Tribos

13 de Agosto de 2019, por José Antônio

Tribos. Estão em toda parte. Na minha intensa vida de retinas teimosas, venho me deparando com tribos. Tribos distribuídas e atribuídas tribos. Cada uma se dedica a uma causa, mesmo não sabendo por causa de quê.

Uma vez, conheci a tribo do barbante. Tinha até estatuto. Todo mundo ali só podia usar coisas de barbante. As roupas, os enfeites no cabelo, os tênis, tudo era de barbante. Um dos adeptos, num raciocínio embaraçado, me disse que era o máximo levar pra cama uma garota de barbante, quer dizer, toda enroladinha no barbante.

– A gente vai virando a gata, cara, enquanto o barbante vai saindo. Uau! É uma coisa!

Sei lá. Parece aquele negócio de ficar desenfaixando múmia. No fim, a gente acaba indo pra cama com uma múmia zonza de tanto rodar. Essa suruba do barbante é um nó cego no gozo. Acho que a comunidade acabou. Ninguém mais ficou amarrado nela. Vai ver que o barbante arrebentou.

Esbarro nas tribos. São tantas. Pluralidade cultural. E por falar em culturas plurais, já pensou a Copa do Mundo organizada por uma FIFA de tribos?

A abertura do evento seria por conta da tribo da dança de salão. A tribo dos mauricinhos e a tribo das patricinhas – Uh! Lá, lá! – iriam pra torcida da França, todos com cheirinho refinado e caro de Azzaro e Givenchy L’Interdit.

 A tribo dos esquerdistas radicais torceria pela União Soviética, torcendo mais pela ressurreição do Stálin do que pela vitória do time. Mas ressurreição não existe, dizem eles. Então, o negócio é mandar a Copa lá pros gulags e se mobilizar pra mudar o mundo numa mesinha de bar, bebendo e com boina na cabeça.

Os direitistas convictos iriam compor a torcida dos Estados Unidos e da Inglaterra, com bandeirinhas de desfile militar e gritando, num sorriso de propaganda de creme dental, pelo liberalismo monárquico e pela monarquia liberal. E viva o capital, mesmo que seja com a monarquia quebrando o pau.

Já a tribo dos bichos-grilos iria pra torcida das Guianas: ninguém sabe quem são, onde moram, como sobrevivem nem que língua falam.

E a tribo da fumacinha? Torcida da Bolívia!

A tribo das academias... sou o mais fortinho, sou a mais gostosa, sou o mais resistente, todos me admiram quando chego, tenho um corpaço, manja só a silhueta... Torcida da Argentina!

Tem também a tribo dos festeiros: só pensam em churrascada, cervejada, mulherada, homaiada... tá sempre ferrada. Mas não param de dançar nem de beber. Torcida do Brasil.

Que dá pra ficar confuso com tanta tribo, isso dá. A gente fica até meio zonzo... igualzinho àquela menina do barbante.

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