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Um simples novo ano

22 de Janeiro de 2025, por José Antônio

Não espere tanta coisa de mim. Por favor, não crie expectativas quanto a coisas que não posso oferecer. 

Sou apenas uma sequência de dias.

Sou meramente uma sequência de outras sequências de números distribuídos em blocos com diferentes nomes. Apesar de calculado, sou um desenho mal feito do tempo.

Empurram-me tantos encargos que até fico com medo: “Que o Ano Novo lhe traga felicidades...” “Que o Ano Novo lhe traga muita prosperidade, amor e paz...” 

Gente... por favor! Eu não trago felicidade para ninguém. Nem tristeza. Trago somente números. Uma sequência de números. 

As pessoas é que decidem o que vão fazer nesses números e com esses números. 

E quando surge a obrigação de eu ser bissexto? Meu Deus, é mais um dia de pressão.

Desculpem-me, mas tenho que deixar as coisas claras senão jogam a culpa toda em cima de mim. “Que ano difícil esse...” “Credo! Ainda bem que esse ano acabou...” Convenhamos, o que foi que eu fiz de errado? 

Isso sem falar nas cobranças ingênuas que nascem dos otimismos exagerados: “Tomara que o ano que vem seja igual a esse que passou...” “Tenho certeza de que no ano que vem vou ter mais alegrias ainda...” Eu me sinto como alguém que tem a obrigação irrevogável de trazer presentes. Como se fosse um Papai Noel... de saco vazio mesmo!

Talvez eu seja mesmo inexorável como a matemática e frio como os dicionários. O que fazer? O que é…é!

Quando eu alcanço o 365 (às vezes, o 366), é aquele foguetório no mundo todo. Tem gente que atira frutas ao mar, outros se atiram eles mesmos nas ondas, tem gente que explode rolhas de champanhe… E é aquela porção de gente vestida de branco, chorando, rindo, se abraçando, se beijando, se embebedando… 

Isso é bonito, concordo. Mas essa alegria poderia ser em qualquer dia. Por que é que no último dia da minha lista que todo mundo se lembra de que a esperança existe? Por que nesse último número todos resolvem festejar a vida?

Terminada a barulheira, eu começo a listagem de novo. Estou de volta ao número um. Sinto que todos me olham vorazmente, esperando milagres que não aprendi a realizar. Aos poucos, com o desfile dos sempre mesmos números, as pessoas vão percebendo que os pulinhos nas ondas da praia não foram saltos qualitativos… as frutas jogadas ao mar não deixaram nem uma semente sequer para nascerem em água salgada… o champanhe evaporou com a última expectativa.

E eu ali: firme! Cumprindo a lei de um calendário convencional, exibido em uma folhinha que dia a dia vai se tornando uma folha seca, perdendo o viço da novidade.

Encarem-me assim para que não chamem o Réveillon de Revelhaco. 

Lembrem-se: a semente da alegria, as ondas que podem renovar e a bebida restauradora que realmente sopra vida no coração se encontram não nos meus números, mas na alma de cada um de vocês. Vivam! Sonhem! Amem! Pulem! Cantem! Abracem! Beijem! Apaixonem-se pelo momento. É nele que a vida está. É nele que a mudança acontece, pois o seu momento é somente seu. Irrepetível. Tão intenso que está além de uma simples sequência de 365 dias. Ou 366.

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