Olá!
Eu sou uma vaquinha. Vaquinha de presépio.
Você está olhando o presépio e nem presta muita atenção em mim. Eu estou em todos eles. Eu e os meus dois companheiros: o galo e o burro. Às vezes, espalham uns carneirinhos ao redor do estábulo. Mas fui eu que acabei levando a fama de bichinho de presépio. Até mesmo pra insultar alguém que é pasmaceira: “vaquinha de presépio”.
Tem lugares aí pelo mundo em que sou eu o centro das atenções. Na Índia, as minhas primas úberes são cotadíssimas. Ninguém mexe com elas. Elas são sagradas. Se me colocarem num altar por aqui, eu viro vaca profana. Eu é que não vou falar nada. Não sou vaca louca.
Tem muitos anos que eu compareço aqui no estábulo nesses dias de Natal. Sinto-me orgulhosa com isso. Outro dia, o burrinho se queixou de que a gente só fica fazendo número, que a gente é zero à esquerda, não faz falta, que a gente é... vaquinha de presépio mesmo! Onde já se viu? Tire os bichos do presépio e você verá a falta que eles fazem. Nós temos importância. O Criador também quis nascer perto de nós.
Todos os anos vem aqui um trio de reis, eles são Magos. Cada um traz uma coisa: ouro, incenso e mirra. Sabem que o Menino na manjedoura é muito importante. Ninguém traz nada pra nós. Tudo bem. Não somos os principais do presépio.
Os pais do Menino são pobres e não têm muitos recursos. Não conseguiram arranjar um lugar melhor pro filho deles nascer. Aí eles vieram pra cá, vê se pode! Nessa bagunça toda. Eu vi o pai ajeitando tudo para dar um mínimo de conforto pro bebê e pra mãe. Quando o Menino nasceu, uma luz muito bonita invadiu o estábulo. Nunca o nosso recanto ficou tão bonito. O galo não parava de cantar. Parece que havia uma estrela parada em cima da gente.
A minha função e a do burro é ficar perto do Menino, bafejando sobre ele. Coitadinho, ele sente muito frio e os pais não trouxeram muito agasalho. Às vezes, eu olho pro burro e ele olha pra mim. Sorrimos em silêncio, satisfeitos por estarmos aquecendo o Criador. No fundo, gostaria de ter muitos presentes pra oferecer pro Menino. Mas sou apenas uma vaca. O que uma vaca pode ofertar pro Criador? Não é que eu seja mão de vaca, mas vaca não tem bens. O máximo que eu poderia fazer é deixar que me matassem pra que eu pudesse alimentar o Menino. Já pensou? Vaca atolada. Não seria um prato avacalhado, apesar da vaca ir pro brejo.
O Menino vai crescer saudável e inteligente. Terá um coração bom e vai fazer muitos milagres. Ao longo da história, as pessoas vão oferecer a vida pra ele, algumas vão construir templos luxuosíssimos. Serão tantos presentes que nem sei. Pelo que eu conheço dele, em minha limitada inteligência bovina, ele não vai gostar dos presentes luxuosos. Ele é muito simples e humilde. É um bebê diferente.
Eu ofereço apenas o meu bafejo. Não é lá grande coisa, mas pelo menos eu não vou oferecer uma cruz.
Vou parar de falar, pois o Menino está dormindo. Acho que ele está sonhando, posso ver um leve sorriso em seu rostinho. Dorme, Menino! Sonha com todo mundo alegre e sem sofrimentos, todo mundo morando em um lugar cheio de paz e harmonia. Faz isso, Menino, porque os teus sonhos são possíveis de acontecer.