O cenário político de São João del-Rei, com a ascensão de Aurélio Suenes, desperta uma série de reflexões sobre os desafios que ele enfrentará ao longo de sua gestão. Ao observar a movimentação recente dos indecisos que aderiram a Suenes, percebe-se que sua atuação em áreas estratégicas, como o Departamento Autônomo Municipal de Água e Esgoto (DAMAE), a saúde pública e as questões relacionadas aos servidores, serão um ponto-chave de sua administração. Contudo, a história política da cidade demonstra que o apoio popular pode ser rapidamente revertido, dependendo de suas decisões.
São João del-Rei possui um eleitorado volátil, como evidenciado por políticos do passado que, em um momento, obtiveram ampla aceitação popular, mas, posteriormente, foram relegados ao esquecimento. O caso de Helvécio Reis, que alcançou expressivos 28.744 votos, é um exemplo claro dessa dinâmica. Entretanto, sua popularidade rapidamente se dissipou, mostrando como a cidade pode tanto elevar quanto descartar lideranças políticas em pouco tempo.
A gestão do DAMAE será um dos primeiros desafios de Suenes, e suas decisões podem reverberar em vários setores da sociedade. Cobrar daqueles que estão inadimplentes, incluindo famílias de baixa renda e moradores de classe média alta, poderá gerar descontentamento. Isso se aplicaria, por exemplo, àqueles que têm piscina e que, presumivelmente, deveriam contribuir mais com as taxas de consumo de água. Todavia, a equação não é simples. Se, por um lado, é fundamental organizar as finanças da cidade e garantir o pagamento por parte de todos os contribuintes, por outro, essa medida pode desgastar politicamente o novo prefeito, sobretudo entre as famílias mais pobres.
Outro ponto de atenção será a atuação de Suenes na área da saúde. A manutenção dos serviços de saúde pública em São João del-Rei, como a Santa Casa, o Hospital Nossa Senhora das Mercês, a Unidade de Pronto Atendimento (UPA) e os postos de saúde, exige um delicado equilíbrio. Privatizar esses serviços não parece uma solução viável, já que a população tem se mostrado cansada da falta de investimentos e de cortes orçamentários. Mesmo Nivaldo, que não é considerado um gestor exemplar, tem conseguido manter os serviços minimamente operantes. A era de Helvécio Reis mostrou quão desafiador é garantir o funcionamento adequado da saúde pública na cidade, o que reforça o peso que esse tema terá na nova gestão.
A relação de Suenes com os servidores municipais também será decisiva para sua popularidade e manter a possível insatisfação dos servidores sob controle será de suma importância para a estabilidade de sua gestão. Nivaldo, ainda que criticado, ao menos assegurava reajustes acima da inflação, e se Suenes optar por uma política mais austera, poderá enfrentar resistência e protestos. A importância dos servidores para o jogo eleitoral não pode ser subestimada, pois eles representam uma fatia significativa de votos na cidade.
Assim, a gestão de Aurélio Suenes será um teste não apenas de capacidade administrativa, mas também de habilidade política. Equacionar técnica e política em São João del-Rei requer uma compreensão profunda do “espírito da cidade”, que, como a história política local demonstra, pode ser tanto generoso quanto implacável com seus líderes. O caminho à frente exigirá não somente eficiência administrativa, mas ainda uma leitura sensível das demandas e expectativas populares.