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O céu noturno: um olhar para o passado – literalmente

20 de Novembro de 2019, por Rodrigo Silva

Deneb, da constelação de Cisne, a aproximadamente 1500 ano luz de distância da Terra.

O interesse do homem em viajar pelo tempo é inegável. Diria, talvez, que este é um de seus anseios mais gritantes. Vemos a expressão desse desejo com certa frequência em grandes obras cinematográficas. A título de exemplo, podemos mencionar os clássicos “Exterminador do Futuro” de James Cameron; “Efeito Borboleta” de Eric Bress & J. Gruber; e “A Máquina do Tempo” de George Pal. O que passa despercebido aos olhos da maioria, porém, é que o passado está visível, a olho nu, no céu noturno: as estrelas.

Somos capazes de enxergar objetos através da luz que estes emitem ou refletem. Há um determinado intervalo de tempo desde o instante em que um corpo emite ou reflete feixes de luz até o instante em que esses feixes alcançam os nossos olhos. Para objetos na Terra, esse intervalo de tempo é ínfimo; afinal, as distâncias são muito pequenas e a velocidade da luz é enorme: aproximadamente 300 mil quilômetros por segundo (300.000 km/s).  Não obstante, para os astros que vemos no céu, a história é diferente.

O termo “ano-luz” talvez lhe seja familiar. Apesar da palavra “ano”, o termo diz respeito a unidade de distância, e não unidade de tempo. Exemplificando, 1 ano-luz é a distância que a luz percorre no intervalo de tempo de 1 ano – aproximadamente 9,5 trilhões de quilômetros (9.460.730.472.580,8 km).

A estrela mais próxima da terra, além do Sol é claro, está a cerca de 4,24 ano-luz de distância (estrela Próxima Centauri – da constelação de Centauro). Em outras palavras, a luz que vemos ser emitida de Próxima Centauri é a luz que deixou o astro há pouco mais de 4 anos. Ao olharmos para o céu noturno, especificamente para Próxima Centauri, não estamos vendo o astro do presente, e sim o estamos vendo como este era 4 anos no passado. Se Próxima Centauri fosse destruída no presente, só veríamos sua destruição 4 anos no futuro (quando a luz emitida pela destruição chegasse à Terra). Já a estrela provavelmente mais distante da Terra que é visível a olho nu (Deneb – da constelação de Cisne) está a cerca de 1.500 ano-luz de distância, segundo cálculos mais recentes. Ou seja, ao olharmos para Deneb, a vemos como esta era 1.500 anos atrás.

A título de curiosidade, imaginemos um planeta hipotético bem distante da Terra. Imaginemos, também, que neste planeta há um observador com um telescópio, também hipotético, com o qual se possa ver a Terra, independentemente do quão distante o planeta esteja:

  • Se o planeta estivesse a 18 ano-luz de distância (170,3 trilhões de quilômetros), o observador estaria vendo, no presente, o atentado às Torres Gêmeas de 11 de setembro de 2001.
  • Se o planeta estivesse a 30 ano-luz de distância (283,8 trilhões de quilômetros), o observador estaria vendo, no presente, a Queda do Muro de Berlim (1989).
  • Se o planeta estivesse a 74 ano-luz de distância (700,1 trilhões de quilômetros), o observador estaria vendo, no presente, a Bomba de Hiroshima (1945).
  • Se o planeta estivesse a 70.000.000 anos-luz de distância, o observador estaria vendo dinossauros caminhando sobre a Terra.

Na próxima vez em que olhar para as estrelas, lembre-se que o passado está, literalmente, diante de seus olhos. Lembre-se que está, a olho nu, a fazer uma viagem entre 4 e 1500 anos no passado.

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