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A antiga poesia litúrgica católica – parte 2: Te Deum

17 de Marco de 2021, por João Magalhães

É, pelo que se vê, o hino litúrgico mais usado nos ritos católicos. Também em alguns não católicos que o celebram, como as igrejas luterana, anglicana e metodista. Sua propagação se deve muito aos monges beneditinos, que o introduziram em seu hinário no século VI. Tornou-se até uma cerimônia de agradecimento à parte. Por exemplo, cantar um Te Deum pelo fim de uma epidemia.

A origem do Te Deum é muito antiga. Aí pelo século III. Até hoje se pesquisa sobre seu autor, mas são atribuições: Santo Ambrósio? Santo Hilário de Poitiers? Nicetas de Ramesana? Sua autoria, contudo, permanece incerta.

O “Te Deum” é um hino de louvor e agradecimento de intensa qualidade poética. Muitas ideias em poucas palavras.

“Louvamos-te Deus; confessamos-te, Senhor. A ti, eterno Pai, toda Terra venera” (“Te Deum laudamus, te Dominum confitemur, te aeternum Patrem omnis terra veneratur”).

“A ti todos os anjos, a ti os céus e todos os poderes, a ti Querubins e Serafins com voz incessável proclamam: Santo, santo, santo é o Senhor Deus do Sábado. Céus e Terra estão cheios da majestade de tua glória” (“Tibi omnes Angeli, tibi coeli et universae potestatis, tibi Querubim et Seraphim incessabili voce proclamant: Sanctus, Sanctus, Sanctus Dominus Deus Sabaoth. Pleni sunt coeli et terra majestatis gloriae tuae”).

“A ti o glorioso coro dos apóstolos, a ti o louvável número dos profetas, a ti louva o exército em vestes brancas dos mártires, a ti a Santa Igreja confessa por todo orbe terrestre como pai de imensa majestade, [bem como] teu venerando filho único e também o Espírito Santo paráclito” (“Te gloriosus Apostolorum chorus, te prophetarum laudabilis numerus; te martirum candidatus laudat exercitus. Te per orbem terrarrum sancta confitetur Ecclesia. Patrem immensae majestatis: venerandum tuum verum et unicum Filium, sanctum quoque Paraclitum Spiritum”).

“Tu, Cristo, rei da Glória. Tu és filho sempiterno do Pai. Tu para amparar o homem não temeste o útero da virgem. Tu, vencido o aguilhão da morte, abriste aos crentes o reino dos céus. Tu sentas à direita de Deus, na glória do Pai. Crerás ser o juiz a vir” (“Tu Rex gloriae, Christe. Tu Patris sempiternus es Filius. Tu ad liberandum suscepturus hominem non horruisti Virginis uterum. Tu devicto mortis acúleo, aperuisti credentibus regna coelorum. Tu ad dexteram Dei sedes, in gloriam Patris. Judex crederis esse venturus”).

“Pedimos-te, portanto, acode os teus servos que remiste com teu precioso sangue. Faz que sejamos contados entre os santos na eterna glória” (“Te ergo, quaesumus, tuis fammulis subveni, quo spretioso sanguine redimisti. Aeterna fac cum sanctistuis in gloria numerari”).

“Salva teu povo, Senhor, e abençoa tua herança e dirige-os e levanta-os por toda eternidade” (“Salvum fac populum tuum, Domine et benedic hereditati tuae et rege eos et extolleillosusque in aeternum”).

“A cada dia te bendizemos e louvamos teu nome no século do século” (“Per singulos dies benedicimus te et laudamus nomen tuum in saeculum saeculi”)

“Digna, Senhor, este dia, nos guardar sem pecado. Tem misericórdia de nós, Senhor.  Vive conosco. Faz misericórdia, Senhor, sobre nós do mesmo modo como esperamos em ti”. (Dignare, Domine, die isto, sine peccato nos custodire”. Miserere nostri, Domine, morerere nostri. Fiat misericórdia, Domine, super nos, quemadmodum speravimus in te)

Em ti esperei, não serei confundido na eternidade (“In te, Domine, speravi, non confundar in aeternum”).

Restringindo-se ao aspecto literário, que é o propósito desta série, percebem-se: uma salmodia em nenhum momento monótona; a musicalidade dos enunciados, daí o grande número de compositores que o musicaram; a súplica plangente; a exploração de sentimentos.

O beneditino Dom Cagin, em seu estudo sobre o Te Deum, cita Hugueny: “Melhor do que a inteligência é o coração que comentará o Te Deum. O comentário do coração não se escreve sobre o papel, mas na alma em tratos de amor e na vida em atos de caridade.”

Acho que só a grande poesia consegue isso. É o que penso. E você?

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