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Os Simbolismos do corpo humano na Bíblia: as mãos – parte 5

13 de Abril de 2017, por João Magalhães

Incluímos também o braço, pois, originariamente, na cultura semita, “iad” (“mão” em hebraico) era um todo: mãos e braços.

Atenho-me a algumas significações mais características e talvez menos conhecidas.

 

Bater palmas. Sinal de alegria, aplauso e aclamação, como no belo versículo de Isaías (55,12): “E todas as árvores do campo baterão palmas”. Mas também no sentido de rejeição, como em Lamentações 2,15, vendo a destruição de Jerusalém: “Todos que vão pelo caminho batem suas mãos ao ver-te”; de aplauso maldito, como em Ezequiel, 6,11: “Bate mãos, pateia com os pés, lamenta todas as abominações da casa de Israel, a qual há de cair pela espada, pela fome e pela peste”; no sentido apotrófico [o que tem poder de proteger, de afastar, expulsar o mal. Daí o “fazer figa”] como em Sofonias 2,15: “Quem passa por ela [refere-se à cidade de Nínive] assobia e agita a mão”.

Aliás, a nossa “Figa”, o nosso “fazer figa” é milenar, pois, “no antigo Oriente, em todos os tempos, as mãos apotróficas, destinadas a afugentar os poderes maléficos, gozavam de grande popularidade, seja como amuleto no pescoço ou na mão, seja como impressão da mão tingida de sangue nas paredes da casa, seja como garatuja na entrada de um túmulo”.

 

Mão esquerda e mão direita. O preconceito contra os canhotos (graças a Deus, parece superado, hodiernamente) tem fundo bíblico. No juízo final (Mt 25,41), os condenados ficarão à esquerda; as pessoas canhestras (de canho, canhoto. Olha o pejorativo!) anunciam maus presságios. Em Jz 3,15-19, faz-se questão de dizer que Aod, que assassinará o rei de Moab, era canhoto. A mão esquerda de Deus jamais é mencionada. Está ligada ao castigo, à infelicidade, enquanto que a direita é sinal de bênção.

 

Mão ritual. Basta lembrar a imposição das mãos, a consagração pela unção, o lavabo da missa católica, Pilatos lavando as mãos etc. “Na Palestina, comumente se elevavam as mãos durante a oração. Elas podiam expressar pedido insistente ou louvor. Mãos estendidas podiam também, no juramento, invocar o testemunho do céu. Fazer algo de mão erguida significava agir propositadamente. “Mais inusitado ainda pode parecer, no entanto, que em juramento solene, o jurado devia pôr as mão sob os órgãos genitais daquele a quem prestava o juramento”.

 

Mão e pênis. Schroer&Staubli informam que o hebraico não tem uma palavra para pênis. Usa de perífrases como pés, quadril, coisa, vara. Com mais frequência ventre e na acepção de falo, muito adorado pelos antigos, também mão.

“Por meio da perífrase “mão”, acentua-se o aspecto de força e poder do membro masculino. A potência, ligada à descendência e com isso à vida, era levada no Egito também em amuletos que tinham, às vezes, aspecto humorístico e grotesco”.

Em Gn 24,1-9, (cf.tb Gen,47,29 ss), Abraão diz a seu servo de confiança: “Põe tua mão debaixo de minha coxa e jura-me pelo Senhor, Deus do céu e Deus da terra, que não farás meu filho casar com uma filha dos canaanitas.” “Por trás desse costume arcaico pode estar a noção de que aquele que pronuncia o juramento o faz por sua força viril, que deverá murchar se o juramento for quebrado”

A Bíblia continua falando sobre mão criadora que sustenta o mundo, sobre mão poderosa e braço estendido etc. Finalizo com breve comentário sobre o dedo e o dedo de Deus. Os egípcios estendiam os dedos indicador e médio como defesa e executavam danças exorcistas com eles na posição vertical. E seus magos, não conseguindo dominar o castigo das pragas (Êx 8,15), reconheceram: “É o dedo de Deus”!


(Citações: Schroer&Staubli: “O Simbolismo do corpo na Bíblia”)

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