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A dependência doentia de Internet e o vício em jogos eletrônicos

19 de Fevereiro de 2020, por João Magalhães

A dependência do virtual e a atração pelos jogos eletrônicos crescem vertiginosamente. Pesquisa pioneira, recente, da Universidade Federal do Espirito Santo(UFES)com mais de 2 mil jovens entre 15 a 19 anos mostra que 25,3% deles são dependentes moderados ou graves da Internet. Amostra muito séria e ampla. Portanto, representativa da realidade dos centros urbanos brasileiros.

Encontros de amostragem, feiras etc. reúnem milhares de pessoas. Posicionar-se sobre o assunto não se trata de moralismo, mas de preocupação: pode viciar, sendo que o vício traz inúmeros prejuízos. Logo, deve inquietar pais, educadores e militantes do mundo da saúde mental.

A OMS (Organização Mundial da Saúde) classificou o vício em jogos eletrônicos como distúrbio psiquiátrico na mais recente (2018) edição da CID (Classificação Internacional de Doenças), pressionada por médicos e acadêmicos.Segundo eles, incluir este vício nas doenças facilitaria o trabalho dos especialistas no diagnóstico e tratamento do problema.

Inclusão polêmica, mas com apoio dos profissionais do assunto e do esquema de saúde das nações, em sua maioria.

Fala Mark Griffiths, que há trinta anos estuda o assunto: “Jogar videogames é um tipo não financeiro de jogatina de um ponto de vista psicológico. Apostadores usam dinheiro, enquanto os jogadores de videogames usam pontos.”

Eduardo Guedes, do Instituto Delete, que presta atendimento a viciados digitais da Universidade Federal do Rio de Janeiro,classifica três tipos de usuários: o consciente, o abusivo e o dependente. “O inadequado, mas ainda consciente, pode até usar a tecnologia por muitas horas, mas é aquele que não deixa o virtual atrapalhar a vida real. O abusivo já tem alguma interferência do virtual no real, como usar o celular durante as refeições, no trânsito ou em outras situações, mas ainda tem controle da situação. Já o dependente perde totalmente o controle sobre o uso e deixa essa atividade virar prioridade. Qualquer uso abusivo tem um fator de fuga da realidade muito grande.”

Lembrando que é importante o dito pelo dr. Luiz Augusto Rohde, da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, que recebeu o convite inédito e aceitou para contribuir com a conceituada Associação Americana de Psiquiatria para atualizar seu Manual Diagnósticoe Estatístico de Transtornos Mentais (DSM): “Cerca de 60% dos transtornos psiquiátricos começam nos primeiros anos de vida. Ao sabermos disso, por que não focar a identificação precoce dos sintomas, quando a doença é mais fácil de ser evitada?”

Eis as dez situações enumeradas pelo Instituo Delete para você se analisar: Abandono: Fica triste se não recebe ligações ou mensagens ao longo do dia. Solidão: Usa a internet para evitar a sensação de estar só. Comunicação: Ignora pessoas ao seu lado para se comunicar pela internet. Offline: Sente-se deprimido, instável ou nervoso quando não está conectado e isso desaparece quando volta a se conectar. Direção perigosa: Envia ou consulta mensagens no celular enquanto dirige. Insegurança: Autoestima baixa quando os amigos recebem mais “curtidas”. Mundo virtual: Deixa de fazer atividades na vida real para ficar na internet. Viagens: Já deixou ou deixaria de viajar para não ficar desconectado. Comparação: Fica triste quando vê nas redes sociais que seus amigos têm vida mais interessante do que a sua. Relacionamento: Passa por conflitos de relacionamento por ficar muito tempo conectado.

Conforme o caso, o tratamento implica em psicoterapia e até medicação. Pode durar meses e,em alguns casos, o uso de medicação para doenças associadas como depressão ou transtorno bipolar.

“No tratamento, os pacientes vão sendo orientados a como lidar com os gatilhos que os fazem usar demais a tecnologia. Eles enxergam as situações em que usam os jogos ou outras plataformas para compensar dificuldades ou tristezas, entendem o ciclo da dependência e vão começando a ‘desmamar’”, diz Cristiano Nabuco, coordenador do Programa de Dependências Tecnológicas do Instituo de Psiquiatria do Hospital das Clínicas/SP.

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