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Amor moderno

12 de Fevereiro de 2019, por João Magalhães

Vez por outra, gosto de apresentar ao leitor a filosofia desta coluna: “Numa perspectiva de ver-julgar-agir, posicionar-se opinativamente frente a temas que se julga ter importância nas diversas áreas sociais, sobretudo os polêmicos ou controversos, e estimular o leitor a fazer o mesmo”.

Tinha lido uma matéria, muito interessante a meu ver: “Escolas focam em ‘alfabetizar’ para vida online e em formar criadores digitais”, cujo breve resumo dizia: “Sem ter visto o mundo antes da internet, a geração de alunos que hoje está no ensino básico é cercada por uma nova preocupação por parte de educadores. Além do uso da leitura em plataformas tradicionais, está na mira das escolas particulares e públicas de São Paulo o chamado letramento digital ou multiletramento. Nesse caso, um dos focos é ensinar os estudantes a lidar com informações e plataformas digitais para se tornar não só usuário, mas criador”.

 Pouco depois chegou-me um artigo do jornal inglês “The Economist”: “Amor moderno”, com o subtítulo: “A internet transformou a procura pelo amor e a união; ao menos 200 milhões usam serviços de namoro online a cada mês”.

Como o uso das redes digitais para uma das mais importantes decisões de vida, que é a escolha de um companheiro, ainda é polêmico e o texto me parece mais favorável que contra, sintetizo-o para calçar mais a opinião de cada um.

Até aí pelos anos 90, a iniciativa de achar um parceiro online era algo extravagante, excêntrico, que provocava sorrisos de esguelha em grande parte das pessoas, sobretudo nós de geração mais antiga. Lembro-me ainda do dia (tinha uns 10 anos) em que um irmão meu, em nome de meu pai, montou a cavalo e foi até a casa do pai da moça para pedir-lhe consentimento para ela casar-se com outro irmão meu! Era um costume quase obrigatório na época.

 No entanto, hoje, o namoro via internet é uma realidade irreversível.  Nos Estados Unidos, mais de um terço dos casamentos começa hoje com um namoro online. A internet é o segundo recurso mais popular entre os americanos para travar conhecimento com pessoas do sexo oposto e vem se igualando às apresentações do amigo de um amigo” no mundo real.

Segundo o texto, “Encontrar um parceiro na internet é fundamentalmente distinto de um encontro offline. No mundo físico eles são encontrados em redes familiares ou em círculos de amigos e colegas...” As pessoas encontradas online provavelmente não se conhecem. Como resultado, o namoro digital oferece muito mais opções. Em um bar, um coral ou um escritório existem dezenas de parceiros potenciais para uma pessoa. Online são dezenas de milhares. “As relações digitais são feitas somente com consentimento mútuo [e] tornam o mercado de namoro digital muito mais eficiente que o off-line.”

E o estudo vai informando e exemplificando: favorece as pessoas de natureza tímida; aquelas com requisitos particulares, como mesma religião, mesma etnia, etc. Informa: 70% dos gays encontram seus parceiros online. “Esse aspecto de diversidade sexual é uma dádiva: mais pessoas podem encontrar o tipo de relação que procuram.”

Mostra também alguns inconvenientes: a ligação namoro digital com a depressão; o reforço de complexos: “Emoções negativas sobre a imagem do corpo que já existiam antes da internet, mas se amplificaram, uma vez que estranhos podem fazer julgamentos instantâneos sobre a capacidade de atração de alguém. No aplicativo chinês Tantan, os homens manifestam interesse em 60% das mulheres que eles olham, mas as mulheres se mostram interessadas em apenas 6% dos homens: essa dinâmica sugere que 5% dos homens nunca conseguirão marcar um encontro.”

A realidade está aí. É progressiva e vai ficar. Julgo eu que o mais importante é uma educação para o uso da internet como estão fazendo alguns colégios, ou seja, o preparo que cada usuário deve ter para identificar falsos perfis, fraudes, engodos, acautelar-se quanto a sites profissionais, enxergar além das aparências, etc.

É o que penso. E você?

 

(Fonte: O Estado de S. Paulo, 5/8/18 e 19/8/18)

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