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As eleições 2020 estão chegando...

11 de Outubro de 2020, por João Magalhães

Época de efervescência política. Apesar dos defeitos, feliz o país que periodicamente tem eleições livres.

Começo aplaudindo Thomas L. Friedman, do “The New York Times”: “Para que uma política saudável floresça, ela precisa de pontos de reflexão fora de si mesma. Pontos de referência da verdade e uma concepção de bem comum – explicou o filósofo religioso Moshe Halbertal, da Universidade Hebraica – quando tudo se torna político é o fim da política”. Continua Friedman: “Em outras palavras, quando tudo é política, significa que tudo se trata apenas de poder. Não há centro, há apenas lados. Não há verdade, apenas versões. Não há fatos, há apenas uma competição de vontades”.

Frente às utopias (gr. “u topos”: nenhum lugar) nas falas, propagandas e promessas dos candidatos, aliás, de pouquíssimo crédito, ou quase nenhum, da parte dos eleitores, espera-se que se resulte alguma eutopia (gr.“eu topos”: bom lugar). Esperança frustradíssima, por exemplo, no atual regime governante do país, acho eu.  O que mais surge é uma distopia (gr. “distopia”: mau lugar) atrás da outra.

Tenho dito, por acompanhar tanto tempo os eleitos do país, que um eleito eticamente comportado, que não compra votos, que assume seu cargo tendo em vista o bem-estar coletivo e luta por essa causa até o fim, raramente se reelege. Pior: poucos se elegem se não conseguirem muito dinheiro! Por quê? O cidadão sabe a resposta.

Para haver melhoras substantivas na política das nações democráticas de direito, uma exigência seria fundamental a todo candidato: uma Ética Social inabalável. Melhor dizendo, jamais violar os princípios da Ética Social que podemos concentrar em 6: Dignidade da Pessoa Humana; Direito de propriedade; Primazia do trabalho; Primazia do Bem comum; solidariedade; subsidiariedade (suprir o que falta).

E aqui cabe uma reflexão sobre Tolerância, atitude a meu ver muito importante para a democracia. Norberto Bobbio, Karl Popper e Umberto Eco serão meus guias.

Bobbio faz uma distinção entre tolerância negativa e tolerância positiva. Na negativa, você atura os defeitos, erros, comportamentos da pessoa ou grupos, por conveniência, por pragmatismo, mal menor etc.

A positiva se fundamenta na convicção de que a pluralidade de opiniões, em concorrência entre si, é condição essencial para sobrevivência e desenvolvimento de uma sociedade democrática. Isso não implica em renúncia das próprias convicções, nem abdicação do desejo de triunfo de sua posição. Mas implica, sim, em não excluir as demais posições. É o velho ditado: do debate nasce a luz. Ser tolerante não é ser indiferente.

“A Democracia, diz Bobbio, “pode ser definida como um sistema de convivência em que as técnicas da argumentação e da persuasão substituem as técnicas de coação para solução dos conflitos sociais. Tolerância do ponto de vista democrático é opção pelo debate, pela argumentação, pela persuasão, em lugar da coação ou da perseguição”.

Só que a tolerância tem limites. Concordo com Karl Popper em que a tolerância ilimitada pode ocasionar o desaparecimento da tolerância, ou seja, uma sociedade tolerante que não se defende dos ataques dos intolerantes permite a destruição dos tolerantes e, com eles, da tolerância.

Saudades do “profeta” de nosso tempo, Umberto Eco, que nos deixou em 2016: “A intolerância mais perigosa é exatamente aquela que surge na ausência de qualquer doutrina, acionada por pulsões elementares. Por isso não pode ser criticada ou freada com argumentos racionais. Mas aí está o desafio. Educar para a tolerância, adultos que atiram uns nos outros por motivos étnicos e religiosos, é tempo perdido. Tarde demais. A intolerância deve ser, portanto, combatida em suas raízes, através de uma educação constante que tenha início na mais tenra infância, antes que possa ser escrita em um livro, e antes que se torne uma casca comportamental espessa e dura demais” (Da pequena coletânea de seus escritos e intervenções: “Migração e Intolerância” – Ed.Record – 2020).

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